Promessa da medicina, técnica de “animação suspensa” será testada em pessoas em breve

Emerson Alecrim
Por
• Atualizado há 2 semanas

Uma pessoa gravemente ferida é levada ao hospital. Lutando contra o tempo, os médicos fazem com que o indivíduo praticamente “congele”, assim, eles podem preservar órgãos e reduzir as consequências de uma hemorragia enquanto tratam dos ferimentos. Ficção científica? Pode até ser, mas não por muito tempo no que depender de uma equipe do Hospital Presbiteriano de Pittsburgh, na Pensilvânia, Estados Unidos.

Um time de médicos liderado pelo Dr. Samuel Tisherman terá a missão de testar em humanos a técnica de “animação suspensa” que vem sendo pesquisada desde o ano 2000 pelo Dr. Peter Rhee. Tisherman e sua equipe preferem, na verdade, chamar o procedimento de EPR (sigla em inglês para “preservação de emergência e reanimação”) por entenderem que a primeira denominação tem forte ligação com a ficção. É como se eles quisessem dizer: “esta pesquisa é séria e está bastante avançada”.

Pode-se dizer que está mesmo. Embora complexa, a técnica foi testada em suínos pelo Dr. Peter Rhee e permitiu a estabilização e a recuperação de mais de 90% dos animais que foram submetidos a rompimentos importantes em artérias.

Animação suspensa

O EPR funciona, basicamente, da seguinte forma: o sangue do paciente é extraído temporariamente e substituído por uma solução salina fria; este procedimento faz com que a temperatura corporal caia para 10 graus Celsius, processo que leva cerca de 15 minutos; a pessoa passa então a não distribuir oxigênio pelo seu organismo por não ter sangue, muito menos estar respirando. O quase congelamento do seu corpo é que mantém as células vivas.

Não há nenhuma mágica aqui: os médicos explicam que, em condições normais, o cérebro suporta até 5 minutos sem oxigênio, mas em baixas temperaturas a atividade celular requer muito menos deste elemento. É por este motivo que é possível encontrar relatos de pessoas que caíram em lagos gelados, por exemplo, mas foram reanimadas com sucesso mais de meia hora depois do incidente.

A técnica dará aos médicos mais tempo para tratar os ferimentos e salvar a vida do paciente. Com o corpo da pessoa estando praticamente inanimado, em tese, fica mais fácil encontrar os órgãos feridos e aplicar os procedimentos cirúrgicos apropriados, uma vez que, durante a operação, os médicos podem ficar mais focados se não tiverem que se preocupar tanto com paradas cardíacas ou baixa saturação de oxigênio, por exemplo.

O mais importante, talvez, é que o EPR faz também com que o paciente não perca mais sangue e tenha que receber, se necessário, poucas bolsas de transfusão. No final do procedimento, seu sangue é bombeado de volta ao corpo e o seu coração, reanimado.

Funciona? É o que os médicos querem descobrir. A equipe do Dr. Tisherman pretende aplicar a técnica em dez pacientes que chegarem ao hospital com parada cardíaca causada por trauma e perda de pelo menos metade do seu sangue, situação onde as chances de óbito são altíssimas. A eficiência da técnica será medida a partir da comparação com os resultados de um grupo em condições similares tratado de maneira clássica.

Os médicos têm bons motivos para acreditar no sucesso dos testes. Nos experimentos feitos pelo Dr. Rhee, 90% dos porcos submetidos ao EPR sobreviveram, como já informado, enquanto que todos os animais que não passaram pela redução de temperatura faleceram.

Além disso, há tempos que a medicina conhece os benefícios da hipotermia induzida. A diferença é que as técnicas atuais – que utilizam gelo, por exemplo – são muito mais complexas e dão, em média, 45 minutos de tempo aos médicos para tratar do paciente; com o EPR, este período pode variar entre duas e quatro horas.

Com informações: CNET

Receba mais notícias do Tecnoblog na sua caixa de entrada

* ao se inscrever você aceita a nossa política de privacidade
Newsletter
Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

Canal Exclusivo

Relacionados