REUTERS/KEVORK DJANSEZIAN/FILES

Depois de três semanas de pesadelos, a Sony cancelou o lançamento do filme The Interview, previsto para o Natal. Assim, o grupo hacker que assaltou o sistema da Sony Pictures e vazou filmes inéditos, roteiros e emails de executivos teve a sua exigência atendida.

Fator decisivo para isso foi os “Guardiões da Paz” terem anunciado que repetiriam o “11 de setembro” se a comédia, que satiriza o ditador norte-coreano, fosse exibida nos cinemas norte-americanos no próximo Natal. Diante disso, as maiores redes de cinema dos Estados Unidos decidiram que não exibirão o filme. No Brasil, de acordo com a Sony, o lançamento de A Entrevista está suspenso “até segunda ordem”, conforme informou o G1.

EUA acreditam que a Coreia do Norte é a principal responsável

A CNN noticiou que a Casa Branca concluiu que a Coreia do Norte é a principal responsável pelos ataques. Ainda não está claro como os Estados Unidos comprovam que o regime de Kim Jong-un comandou os ataques. A rede de computadores da Coreia do Norte tem sido notoriamente difícil de se infiltrar. Mas, segundo o The New York Times, a NSA está trabalhando duro há quatro anos para penetrar os computadores norte-coreanos para instalar um sistema de radar que acompanharia o desenvolvimento de malwares transmitidos a partir do país.

Para justificar que Obama aponte o dedo e acuse Kim Jong-un, temos uma trilha investigativa que considero convincente. Os invasores usaram ferramentas comerciais para limpar o rastro fora dos computadores da Sony. Eles também adotaram ferramentas e técnicas que foram usadas em pelo menos dois ataques anteriormente. Um deles foi há dois anos na Arábia Saudita e o outro na Coreia do Sul em 2013.

Os ataques à Sony, aparentemente, foram disparados de vários lugares do mundo, como um centro de convenções em Cingapura e uma universidade na Tailândia. Entretanto, um desses servidores, localizado na Bolívia, já havia sido identificado nos ataques à Coreia do Sul há dois anos.

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Especialistas empenhados no caso indicam que o malware que infectou a Sony possui semelhanças notáveis com características encontradas em ataques a bancos e empresas de radiodifusão da Coreia do Sul.

Os “Guardiões da Paz” também copiaram uma ferramenta de limpeza de um ataque há dois anos contra a Saudi Aramco, companhia petrolífera estatal saudita, quando hackers invadiram 30 mil computadores e exibiram a imagem de uma bandeira americana queimando.

Especialistas em segurança nunca conseguiram rastrear esses hackers, embora as autoridades dos Estados Unidos acreditassem que os ataques emanavam do Irã. Os pesquisadores da Sony estão estudando a hipótese dos invasores terem ajuda no interior da empresa, pois encontraram resquícios de que no código malicioso estão embutidos uma lista dos servidores e credenciais de acesso que permitiriam que o vírus se espalhasse pela rede.

Os pontos se ligam estabelecendo as conexões entre os ataques quando visualizamos o mapa de relações políticas entre os países envolvidos. O Irã e a Coreia do Norte possuem regimes ditatoriais que se relacionam muito bem. Por outro lado, os Estados Unidos, a Arábia Saudita e a Coreia do Sul são grandes aliados — principalmente porque os EUA apoiaram a Coreia do Sul durante a Guerra Fria e documentos divulgados pelo WikiLeaks revelaram em 2010 que o rei da Arábia Saudita pediu às lideranças americanas que atacassem o Irã para acabar com o programa nuclear do país. Soma-se a isso o fato da Bolívia estar se aproximando do regime iraniano — o que motivou os grampos da NSA no governo brasileiro, por exemplo.

Até o momento, o misterioso grupo de hackers está vencendo a queda de braço contra um dos maiores estúdios de Hollywood e a multinacional japonesa que não é nada menos que o quinto maior conglomerado de mídia do planeta. Resta saber se os “Guardiões da Paz” cumprirão a palavra empenhada e sossegarão com o cancelamento do filme mesmo depois de terem anunciado que estão em posse de muitos arquivos polêmicos.

Sendo ou não comprovada a participação da Coreia do Norte, é preciso repudiar o baixo nível da estratégia de censura através de chantagem baseada em terrorismo. O lema de “privacidade para o povo, transparência para os poderosos”, que deveria ser adotado por quem se autodenomina “guardião da paz”, não combina com a divulgação de emails pessoais sobre celebridades que rendem milhões de cliques para sites de fofocas.

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Júlio Câmara

Júlio Câmara

Comecei a blogar em 2008 escrevendo sobre tecnologia. No mesmo ano meu blog foi indicado como um dos "80 blogs que você não pode perder" pela revista Época. Hoje, com 21 anos, estudo jornalismo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e me dedico à editoria de tecnologia.

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