Quando Steve Jobs anunciou seu tão aguardado tablet, o iPad, foi aquela choradeira entre os tecnotarados. “Não tem câmera” “não tem multitarefa” etc. “Será um fiasco”, concluíram.
A má notícia para eles é que o iPad já é um sucesso. Os mais entusiasmados não enxergam isso por um simples motivo: o tablet não foi feito para eles. Logo após o anúncio, publiquei em meu blog uma opinião diferente sobre o iPad. Repercutiu bastante: os leitores expuseram sua opinião concordando ou discordando.
De um modo geral, os mais ligados em tecnologia eram os mais decepcionados com a Apple. Eu não me julgo candidata a um iPad em sua concepção atual, mas vejo um imenso potencial de inclusão digital daquelas pessoas para quem computadores sempre foram um bicho-papão. Aquelas que não se atentam a processador, memória e acham tarefas de instalação e manutenção um pesadelo. Citei meu pai, um excluído digital por opção.
Meu irmão, quando aparece em casa, sempre vê os inúmeros smartphones que testo sobre minha mesa e jamais dá a menor pelota para eles. Nem para o iPhone. Aliás, ele só tem um desktop na casa dele, adequado para seu feijão-com-arroz digital. No último fim de semana ele se dirigiu a mim e disse: “E esse iPad, heim? Gostei! Eu compraria.” Quase caí da cadeira!
Alguns fanáticos por tecnologia se agarraram tanto nas especificações técnicas que se esqueceram da computação invisível, o grande mote da Apple. Nada mais sensato que abrigar o iPhone OS no tablet — há vários vídeos de crianças de 2 anos pintando e bordando com o aparelho. Talvez alguns radicais achem que, só porque não os agradou, não agradará ninguém. Que irá encalhar e será o maior fiasco da empresa em todos os tempos.
Bem, para começar, tecnotarado de verdade não desdenha, e sim fica horas na fila aguardando seu iPad. 🙂
Segundo, é bobagem analisar o iPad isoladamente. Há todo um universo em volta. Steve Jobs está pensando no mercado por trás, o de livros, que tem potencial para ser tão lucrativo quanto o de músicas, filmes e aplicativos. Para isso, foi necessária a concepção de um dispositivo que agradasse ao grande público. Ser o que foi o iPod em 2001.
Se Amazon e Barnes & Noble estão preocupadas em perder seus clientes para a iBookstore? Bobagem! Seus respectivos apps para iPhone ganharão versões otimizadas para iPad. Ou seja, quem comprar o tablet da maçã já terá de lambuja 3 lojas à disposição. Quedas nas vendas do Kindle ou do Nook não são tão importantes, contanto que as pessoas continuem comprando seus livros. Bonita mesmo será a briga de preços entre as 3 lojas e suas editoras. Infelizmente elas já estão se mobilizando para montar uma espécie de cartel. Mas é uma questão de tempo eles aprenderem a lição que a indústria do audiovisual está penando para entender.
E olha que eu nem falei das possibilidades acadêmicas e educacionais do iPad, ou do imenso repertório de ebooks grátis na internet.
Se o universo dos livros digitais cresceu e apareceu com os atuais eReaders, com o iPad tem tudo para florescer.
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No lado pessoal… não há dúvidas que o iPad é um belo dispositivo, mas conforme eu disse acima, em sua concepção atual ele não me serve. Minha relação com a tecnologia é através de uma abordagem prática; tem que ser uma ferramenta auxiliar no meu dia-a-dia.
Tenho um ótimo laptop, um Macbook, que atende muito bem na vida pessoal e profissional, e dois excelentes smartphones, que cumprem com maestria todas as tarefas necessárias quando estou na rua, em trânsito ou qualquer lugar. Emails, navegação, banco de dados, mapas, material de referência, escrita e leitura… estou bem servida. Não faz sentido investir no mínimo 500 doletas — muito mais que um notebook básico — numa terceira categoria de dispositivo para, sei lá, navegar deitada no sofá.
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