iPad, jogos e você… 4 meses depois
Em fevereiro, logo após o anúncio do iPad, a internet em geral fervilhou com opiniões sobre o tão aguardado tablet da Apple (que, depois de tanto suspense e expectativa, poderia até ter se chamado iAgoraVai). Entre nós, os geeks experts – ou pelo menos é assim que somos vistos pela maioria dos nossos amigos que não são tão ligados ao mundo da tecnologia -, essas opiniões eram primariamente negativas.
Artigo | Izzy Nobre: iPad, jogos e você
A reação inicial a um gadget, embora quase sempre equivocada (comparações com o DS e o Wii são inevitáveis, já que todos os três alcançam mais ou menos o mesmo público), é ao menos compreensível neste caso. Após tantos meses (anos?) de esperança pelo triunfal retorno da Apple ao mercado de tablets – o Newton era considerado um tablet, tá bom? -, o mínimo que habitava os sonhos dos nerds era um MacBook Pro no formato de uma simples tela com entrada via toque.
Ao invés disso, em janeiro o Jobs mostrou para gente o que era, essencialmente, um iPod Touch gigante. Mesmo OS, mesmos apps, e a mesma indisposição pra substituir definitivamente um computador dedicado.
E no meio de tanta insatisfação e discussões sobre a validade da plataforma tablet contra os já estabelecidos netbooks, levantei a bola: e os jogos, minha gente? E se o iPad acabar sendo, assim como seu irmão mais velho iPod Touch foi antes dele, um inesperado porém competente console portátil?
Ok, não tão portátil assim. Mas o ponto permanece.
Veja só: o iPad tem as três vantagens garantidas a todo sucessor de console: um catálogo pré-existente, hardware superior e o reconhecimento do público.
Enquanto o iPhone e o iPod Touch tiveram que convencer desenvolvedores (e o público) de que seriam plataformas viáveis para direcionais e combos, o iPad herda o status de console já no berço. Ao contrário das primeiras propagandas do iPhone e do iPod Touch, note que a do iPad já o mostra sendo usado como console. Isso solidifica na percepção popular o status oficial de console, um título que outros iGadgets demoraram um pouco mais para merecer.
Mais importante que isso, antes mesmo que os primeiros jogos fossem desenvolvidos para ele, praticamente toda a biblioteca de títulos já existentes na App Store roda no iPad. A chamada compatibilidade retroativa foi uma vantagem anunciada por todos os consoles da geração atual, e o iPad não fez diferente.
E finalmente, o hardware. Enquanto o iPad continua sem botões físicos, ao menos a tela maior não faz com que os seus dedos obscureçam porção significativa da tela. Jogar o mesmo jogo num iPad e num iPod Touch são experiências consideravelmente diferentes. Sei disso porque, como alguns outros geeks impacientes, acabei comprando o meu iPad. E jogos foram, como deve ser óbvio, um aspecto importante pra mim.
Naquele texto especulativo de fevereiro, ainda não sabíamos se o iPad repetiria o sucesso do iPod e se tornaria a vedete de toda uma indústria, ou se pertenceria ao catálogo de fracassos da Apple, ao lado do Apple TV e do supracitado Newton. Dois meses mais tarde, a Apple vendeu mais de dois milhões de unidades – e se a Apple Store da minha cidade é indicação de alguma coisa, com os modelos mais baratos constantemente esgotados, o número ainda vai aumentar bastante.
Outro ponto interessante é um efeito nocivo presente na App Store que o iPad parece ter dado cabo. Por causa da pirataria e de usuários constantemente reclamando dos altos preços (US$ 9,99 é considerado salgado no mercado emergente da AppStore), desenvolvedores se viam numa corrida ao fim do poço: obrigados a lançar jogos às pressas, pelo preço mais barato possível.
Obviamente, isso empobrece a plataforma como um todo, porque um jogo oferecido por 99 centavos certamente não terá o nível de conteúdo e qualidade de um título que vende por um preço dez vezes superior. Se não há retorno em investir tempo e dinheiro num jogo de peso, não há interesse dos desenvolvedores.
Entra o iPad. Jogos já existentes pro iPod Touch/iPhone foram relançados em iterações HD, usando e abusando dos pixels extras, por preço às vezes duas vezes maior. Talvez pelo fato de que o iPad tem um público diferente (mais velho?) que o da turma com iPods Touch, não há o mesmo tipo de reclamação em relação a preços na App Store do iPad. E os jogos mais caros se tornam sucesso de vendas, validando mais ainda o status do aparelho como viável para desenvolvimento de games.
E finalmente, há estilos de jogos que simplesmente são perfeitos no iPad – como jogos de aventura point and click, jogos de tabuleiro, e estratégia em tempo real. Tendo experimentado os três gêneros no iPad e digo com honestidade que me desinteressei em jogá-los na tela do iPhone.
E você, hipotético dono de iPad? Jogos são uma prioridade?