escrito por Tiago Dória, jornalista
Com quase 2 bilhões de usuários em todo o mundo, a internet vem se tornando um ambiente altamente competitivo para quem produz conteúdo de forma profissional.
O presente sinaliza que, no futuro, será cada vez mais difícil estabelecer-se. Ou seja, tudo será bem diferente de alguns anos atrás, quando existiam 3 ou 4 blogs e 10 sites de notícias aqui e acolá. A disputa por atenção e audiência será maior.
Nesse cenário competitivo os usuários sairão ganhando, terão cada vez mais opções de conteúdo e marcas – blogs, revistas, programas de TV.
Porém, existe um detalhe. Junto com esse aumento da competição, vem um crescimento não somente da quantidade, mas da demanda por qualidade do conteúdo. No meio de tanta informação, conteúdo de qualidade, bem trabalhado, passa a ser diferencial.
Às vezes, é difícil definir o que é conteúdo de qualidade (bem trabalhado), mas para não cairmos no relativismo, vamos tratá-lo como aquele conteúdo que realmente é focado em criar audiência e na experiência do usuário.
Essa demanda é bem evidente na área de jornalismo digital. Cada vez mais, o conteúdo bem trabalhado é valorizado e visto como diferencial na área. O crescimento do jornalismo de dados, das infografias online e dos newsgames é reflexo disso. Pensa-se o conteúdo como um todo em termos de experiência do usuário/leitor.
Uma pena é que tão só recentemente os jornais perceberam que bom conteúdo é caro de ser produzido em qualquer plataforma e pode ser um diferencial (o atual debate sobre a cobrança de conteúdo reflete muito isso).
Na área de jornalismo, por muito tempo, existiu um mito de que produzir e publicar conteúdo na internet era barato. Porém, esqueceu-se que o jornalismo digital exige tanta dedicação e custo quanto o impresso.
Para fazer um bom jornalismo digital é necessário reunir bons articulistas e infografistas, programadores, especialistas em base de dados e em mobile, APIs. Enfim, material humano caro e que não se encontra em qualquer esquina.
Não é à toa que os jornais bem posicionados na rede são justamente os que têm melhor orçamento, como New York Times e Guardian.
Penso que coisa semelhante esteja acontecendo com os blogs. Os mesmos blogs que há anos vêm conseguindo provar que as pequenas audiências são significativas. Você não precisa ter uma audiência do tamanho do NY Times para ser importante.
De dois anos para cá, percebe-se uma mudança na postura de alguns blogs que adotam uma dinâmica mais profissional (que desejam se tornar veículos). Eles estão investindo cada vez mais em análise e conteúdo mais trabalhado.
Por muitos anos, autores de blogs ficaram obcecados por SEO. Questões como interface e experiência dos usuários ficaram em segundo plano e criou-se uma premissa de que bastava conseguir uma boa indexação no Google, entupir o blog de links patrocinados e alguns cliques no Adsense, e tudo estava resolvido.
Como consequência dessa visão, os posts eram mais voltados para “agradar” mecanismos de busca do que “criar audiência”.
Hoje estão percebendo que as coisas não são tão simples. Uma coisa não dipensa a outra. O tráfego vindo dos mecanismos de busca é importante, contudo, é preciso ter em mente que ele não gera muita fidelidade – a pessoa entra em seu site, fica menos de um minuto e, provavelmente, não retornará tão cedo.
É bem diferente de “criar audiência”: ter pessoas que sempre entram em seu site (muitas vezes tráfego direto), passam um bom tempo e depois retornam várias vezes.
Não é sem sentido que blogs e redes de blogs que produzem conteúdo muito direcionado para buscas vão e voltam. Blogs que “criam audiência” permanecem. Neste sentido, blog é igual a outras plataformas de publicação. Produzir conteúdo que “cria audiência” é trabalhoso e exige dedicação.
Por isso, acredito que alguns blogs estão apontando para uma tendência que será cada vez mais comum na web. A criação de conteúdo deixará de ser tão focada apenas em link baiting e SEO e passará a ser voltada realmente em “criar audiência”.
Scott Rosenberg, cocriador da revista Salon, uma das pioneiras da web, acredita que isso seja resultado do surgimento do Twitter: “O Twitter está redefinindo os blogs como um canal para escoar as coisas que você não consegue falar em 140 caracteres. E ironicamente, isso está tornando os blogs mais consistentes”.
Eu acredito que seja efeito da própria competitividade e de um certo amadurecimento da visão sobre a plataforma.
Tiago Dória | Jornalista, pesquisador de mídia e integrante do Concurso CNN de Jornalismo. Desde 2003, edita um blog pessoal sobre cultura digital, mídia e tecnologia. Está no Twitter: @tdoria.
Aviso | As opiniões do autor do texto não refletem necessariamente as do Tecnoblog.