É mais fácil perguntar o que o Pix NÃO vai ser capaz de fazer

Banco Central planeja novas funcionalidades do meio de pagamento mais popular do país; até mesmo a oferta de crédito via Pix está na agenda

Josué de Oliveira
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É mais fácil perguntar o que o Pix não vai ser capaz de fazer (Imagem: Vitor Pádua / Tecnoblog)
É mais fácil perguntar o que o Pix não vai ser capaz de fazer (Imagem: Vitor Pádua / Tecnoblog)

Cento e cinquenta milhões de usuários cadastrados. Mais de 650 milhões de chaves já criadas. Transações na casa de R$ 1,2 trilhão. Estamos falando, é claro, do Pix.

A ferramenta nasceu há pouco menos de três anos, resultado de um esforço do Banco Central para fomentar inovação e competitividade no setor financeiro do país. O sucesso veio rápido, primeiro na transferência de dinheiro entre pessoas, depois como método de pagamento.

E, quando digo rápido, é rápido mesmo. Segundo o BC, já no mês de seu lançamento, novembro de 2020, o Pix superou o DOC em número de transações. Em janeiro do ano seguinte, o TED também foi superado. Em março, foi a vez do boleto ficar para trás.

O cenário atual mostra um Pix mais do que consolidado como o meio de pagamento mais utilizado no país. De novo: tudo isso em menos de três anos.

Em certo sentido, a história do Pix vai contra certas pressuposições a respeito de tecnologia a inovação. Afinal de contas, não se trata de uma solução proposta pelo mercado e abraçada pelos usuários. Na verdade, o motivo por trás do surgimento do Pix foi justamente a inabilidade do setor privado de entregar qualquer coisa minimamente parecida.

O mercado estava imóvel

No Tecnocast 308, recebemos Mayara Yano, Assessora Sênior do Banco Central. Ela compartilhou insights sobre o sistema bancário brasileiro e a necessidade de protagonismo do BC na provisão de uma solução que beneficiasse a todos.

A partir da publicação da Lei 12.865, a instituição passou a ter certas responsabilidades sobre as atividades de prestação de serviços de pagamento. Entre os princípios destacados no texto estão a interoperabilidade no setor, além do fomento à competição.

Era um contexto em que o Brasil contava com poucas instituições financeiras oferendo serviços à população. Além disso, predominava o gasto do dinheiro em espécie, que gera custos ao país e está longe de ser a forma mais eficiente de viabilizar pagamentos.

Naquele cenário, os players nacionais não foram capazes de fornecer uma estrutura robusta de pagamentos instantâneos, apesar dos exemplos de outros países. Parecia não haver uma disposição no mercado nesse sentido.

Pix (Imagem: Divulgação/Banco Central)
Pix (Imagem: Divulgação/Banco Central)

O resultado era um “imobilismo” das instituições bancárias e de pagamento “no desenvolvimento de uma solução de pagamentos instantâneos interoperável,” como revela um relatório lançado pela autarquia. Assim, a própria instituição tomou à frente, criando a estrutura na qual os players poderiam operar.

Não foi de uma hora para outra, é claro. Como Mayara Yano esclarece, desde 2014 o BC já chamava a atenção para a importância da eletronização dos pagamentos. Em 2018, os requisitos principais do ecossistema de pagamentos instantâneos foram divulgados.

Àquela altura, as ações do Banco Central já sinalizavam ao mercado que aquela era a direção a ser seguida. Foi dessa forma que a instituição entregou o que o mercado não conseguiu.

Tudo no Pix

O avanço da ferramenta segue uma agenda evolutiva, onde estão previstos novos produtos ligados ao Pix. Assim nasceram funcionalidades como o Pix Saque e o Pix Troco, por exemplo.

E há outros produtos sendo desenhados. Estes demonstram o potencial do Pix para ocupar um terreno ainda maior no cenário de pagamentos.

Por exemplo: está previsto para outubro do ano que vem o Pix Automático, uma solução para despesas recorrentes. O foco são serviços como o streaming, assim como as mensalidades de escolas, academias e as contas de luz e de água.

São operações que podem ser feitas via cartão de crédito ou débito automático; no entanto, cada uma das opções tem complexidades. Nem todo mundo tem cartão de crédito, e o débito automático tem um custo operacional que inviabiliza sua adoção por muitas empresas.

O Pix resolve esses problemas em ambas as pontas, tanto para o usuário quanto para a empresas recebedoras, sendo particularmente interessante para estas últimas.

Também está em estudo uma oferta de crédito via Pix. O próprio presidente da instituição, Roberto Campos Neto, acenou nessa direção, com uma perspectiva um tanto ambiciosa: “Em algum momento, no futuro, você não precisará ter cartão de crédito, poderá fazer tudo no Pix”.

Ainda não há previsão para a chegada desse futuro, mas a perspectiva demonstra a abrangência da agenda evolutiva. Ao Tecnocast, Mayara Yano aponta que integração do Pix a outras tecnologias, como NFC e RFID, também já está sendo estudado.

NFC em celular Android (imagem: Emerson Alecrim/Tecnoblog)
NFC em celular Android (imagem: Emerson Alecrim/Tecnoblog)

O que, então, o Pix não vai ser capaz de fazer? Segundo Mayara, os únicos recursos não previstos, é claro, são os usos ilícitos; de resto, vale tudo.

A nossa visão de futuro do Pix é sempre centrada em atender as dores e as necessidades da sociedade, e a gente sabe que são necessidades dinâmicas, conforme novas tecnologias surgem, essas necessidades vão mudando; e de viabilizar que qualquer pagamento e transferência que você pense e precise fazer, que isso possa em algum momento ser feito pelo Pix.

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Josué de Oliveira

Josué de Oliveira

Produtor audiovisual

Josué de Oliveira é formado em Estudos de Mídia pela UFF. Seu interesse por podcasts vem desde a adolescência. Antes de se tornar produtor do Tecnocast, trabalhou no mercado editorial desenvolvendo livros digitais e criou o podcast Randômico, abordando temas tão variados quanto redes neurais, cartografia e plantio de batatas. Está sempre em busca de pautas que gerem conversas relevantes e divertidas.

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