Como o Globoplay pretende liderar o streaming no Brasil
Globoplay promete mais séries exclusivas, investimento em conteúdo próprio e plataforma melhorada, tudo para quebrar a hegemonia da Netflix
Globoplay promete mais séries exclusivas, investimento em conteúdo próprio e plataforma melhorada, tudo para quebrar a hegemonia da Netflix
Quando foi lançado, em 2015, o Globoplay (na ocasião, Globo Play) era apenas uma plataforma online para o conteúdo da Globo. Hoje, o objetivo é ir muito mais além: fazer do serviço, se não o maior, um dos principais canais de streaming de vídeo do Brasil.
Quebrar a hegemonia da Netflix é um desafio monumental. Mas, durante um encontro com a imprensa realizada na terça-feira (4), em São Paulo, o diretor-geral do Globoplay João Mesquita e outros executivos da empresa deixaram claro que conhecem bem o mantra “conteúdo é rei”: é com um vasto acervo de séries, filmes, novelas e afins que eles pretendem cativar o público brasileiro.
A nova fase do Globoplay começou a ganhar força em agosto. De lá para cá, o serviço incluiu séries internacionais como The Good Doctor, Killing Eve e House ao acervo, além de produções nacionais: Ilha de Ferro, uma das mais recentes, tem tido bastante aceitação.
Hoje, o serviço disponibiliza cerca de 15 séries internacionais, mas o plano, de acordo com Mesquita, é fazer esse número aumentar para algo perto de 100 até o fim de 2019. O executivo fala em incluir, a partir de agora, pelo menos uma série por semana no acervo, embora essa frequência possa não ser tão regular por conta de detalhes contratuais e outros fatores.
Nenhum dos executivos abriu o jogo sobre quais produções internacionais estão chegando, mas eles garantem que muita coisa está em negociação ou já foi negociada. Como que para mostrar que não brincam em serviço, eles disseram que, em maio, foram para a LA Screenings (feira anual que reúne a indústria televisiva) e saíram de lá com várias produções compradas.
Filmes internacionais também fazem parte do plano — atualmente, o Globoplay oferece cerca de 100 títulos do tipo —, mas séries estão sendo tratadas com mais prioridade porque, em geral, elas é que fidelizam assinantes pagantes.
Se tem uma coisa que o Globoplay precisa é justamente de gente disposta a pagar. Hoje, o serviço conta com cerca de 20 milhões de usuários. Os executivos não deram os números, mas disseram que a maior parte desse público é composta por não-assinantes — são pessoas que chegam à plataforma a partir do G1 para conferir uma notícia do dia, por exemplo.
João Mesquita não vê a Netflix como uma rival do Globoplay, não em todos os sentidos. Ambas as plataformas concorrem em séries e filmes, mas o Globoplay aposta em uma exclusividade que até pouco tempo atrás era o seu único atrativo: o conteúdo da Globo.
Esse conteúdo é oferecido por três vias, basicamente: transmissão ao vivo do que está sendo exibindo na TV, acesso a qualquer momento a vários programas gravados (como jornalismo e reality shows) e, com grande destaque, novelas.
Você pode até não gostar desse tipo de conteúdo, mas é inegável que as novelas são um dos pontos fortes da Globo e, com efeito, um dos diferenciais do Globoplay.
Não que todas as novelas estejam lá. Não chega nem perto do total. Mas a quantidade de títulos disponível atualmente não é desprezível: cerca de 70 produções, incluindo alguns emblemáticas, como O Rei do Gado, Senhora do Destino e Caminho das Índias.
Mas não dá para ter como base apenas aquilo que foi criado originalmente para a TV. Serviços de streaming seguem uma dinâmica diferente: os assinantes são ávidos por conteúdo inédito e, de preferência, que não segue fórmulas pré-prontas (como é comum encontrar em novelas).
A turma do Globoplay tratou de deixar claro que sabe disso e enfatizou que produções próprias também serão frequentes no serviço. Eventualmente, elas poderão ser exibidas na Globo ou em canais da Globosat, mas a prioridade é alimentar a plataforma online.
Ilha de Ferro é uma dessas produções. Estrelada por atores como Cauã Reymond e Cássia Kiss, a série estreou em novembro no Globoplay e, de acordos com os executivos, tem correspondido às expectativas de audiência.
Além da Ilha e Assédio são outras duas séries nacionais que estrearam com exclusividade no Globoplay. Vai haver mais. Sessão de Terapia, por exemplo, teve suas três temporadas criadas para o GNT, mas a próxima, a ser lançada em 2019, será disponibilizada primeiramente no Globoplay. “É um conteúdo feito por brasileiros para brasileiros”, diz Mesquita.
Outra arma que o Globoplay vai usar para fazer frente à concorrência é a própria Globo. Além de disponibilizar parte do conteúdo da TV, a ideia é usar a emissora como uma vitrine para promover a plataforma digital, não só por meio de inserções publicitárias, mas também via “amostras grátis”.
Um exemplo disso vem da estreia de The Good Doctor. Em agosto, os dois primeiros episódios da série foram exibidos na Tela Quente. Além de ter registrado a maior audiência do programa em sete anos, os episódios fizeram o Globoplay conquistar oito vezes mais novos assinantes do que a média no recorrer dos quatro dias seguintes à exibição.
Essa tática não vai ser usada sempre, até porque, em excesso, ela pode ser interpretada como uma forma suja de angariar assinantes para o Globoplay. Mas o que Mesquita quis demonstrar com esse exemplo é que dá para fazer muita coisa quando há integração entre TV e internet.
Dentro de certos limites, essa integração também vai funcionar com outras plataformas da casa. Prova disso é que, recentemente, serviços como Telecine Play (filmes) e Premiere (futebol) passaram a fazer parte do mesmo sistema de billing (cobrança) do Globoplay.
Por conta disso, agora é possível assinar facilmente esses serviços, sem depender de um plano de TV paga ou de uma operadora — Telecine Play e Premiere custam, respectivamente, R$ 37,90 e R$ 79,90 por mês.
A ideia é oferecer, em breve, combos que associem essas e outras assinaturas com o Globoplay, gerando algum desconto para o usuário. Atualmente, o Globoplay custa R$ 24,90 por mês e pode ser testado gratuitamente por sete dias.
Vale destacar que, para assinantes que aderiram ao serviço depois de dezembro de 2018, é possível cancelar a assinatura online. Para quem assinou antes, é necessário ligar para lá e aguentar bravamente uma pessoa tentando te convencer a manter a assinatura.
Dar mais liberdade para as mencionadas plataformas na internet é uma decisão delicada porque pode gerar conflitos com operadoras de TV. Mas Mesquita explicou que o Grupo Globo tem uma longa relação com essas empresas e pretende mantê-las. As modalidades para a internet visam apenas aumentar a variedade de serviços. Em breve, as operadoras também terão a possibilidade de oferecer assinaturas do Globoplay aos clientes.
O Brasil foi o primeiro mercado da Netflix depois dos Estados Unidos. De certa forma, nosso país serviu de laboratório: boa parte das tecnologias de otimização de streaming do serviço foi testada ou aperfeiçoada aqui, dada a enorme quantidade de conexões lentas à internet que ainda temos.
Esse é um problema que também afeta o Globoplay, é lógico. Quando perguntei ao diretor de produtos Marcelo Souza como a empresa tem lidado com isso, ele me respondeu que muita coisa já foi feita no sentido de otimizar o streaming, mas que esse é um esforço permanente: sempre haverá o que ser feito.
Mas os avanços tecnológicos vão além disso. Tanto Souza quanto Mesquita destacaram os esforços para melhorar a experiência do usuário. Por exemplo: o player de vídeo da versão web foi otimizado para diminuir gargalos, os aplicativos já suportam download de vídeos para consumo offline e é possível pausar a transmissão ao vivo e retomá-la depois, tanto nos apps quanto no navegador.
Mesquita, Souza e os demais executivos reconhecem que muita coisa ainda precisa ser feita. Só para dar um exemplo, os aplicativos já suportam download de vídeo para consumo offline, mas a maior parte do conteúdo ainda não é compatível com essa funcionalidade.
A estratégia aqui é dar um passo de cada vez para, com isso, chegar longe. Vem muito conteúdo nos próximos meses, de acordo com João Mesquita, e isso dá a entender que 2019 vai ser o ano-chave para o Globoplay.
Será? O páreo é duro: um levantamento recente aponta que a Netflix é quatro vezes maior que o Globoplay no Brasil. Mas, como consumidor, eu torço pelo sucesso da empreitada, afinal, pouca coisa é tão benéfica para o mercado quanto concorrência acirrada.