Jogo de estratégia stealth tático, um estilo perdido

"É uma pena que esse estilo de jogo tenha caído tanto em popularidade."

Izzy Nobre
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• Atualizado há 9 meses

Tal como no mundo do cinema e da música, na indústria de videogame também existem certas modinhas. Por exemplo, no cinema estamos presenciando o ressurgimento dos filmes em 3D, um método que fascinou o cinema americano nos anos 1950 e está passando por uma  renascença no momento.

Games passam por modinhas. Há alguns anos todo jogo era obrigado legalmente a conter pelo menos um momento do chamado “quick time event“, um método de cut scene interativa popularizado pela obra prima Shenmue e espalhado feito infecção genital por toda a indústria gamer. De fato, quick time event se tornaram rapidamente a versão gamer do efeito bullet time.

E uma das modas gamer que parece infelizmente ter definhado ao ponto do esquecimento são os jogos de estratégia stealth táticos. Mais ou menos como os point and click adventures, um gênero praticamente inventado pela Lucasgames (na época ainda conhecida como Lucasarts) numa época em que eles não se contentavam em apenas espremer o universo “Star Wars” ao ponto de sobrar só o bagaço.

O estilo de estratégia tática stealth (que vou sintetizar daqui em diante na sigla “ETS”, o que aliás encaixa bem com os já existentes RTS e TBS, seus primos no gênero estratégico), que surgiu no finzinho dos anos 90 como uma variação dos jogos de estratégia em tempo real. Eles inclusive explodiram mais ou menos durante a mesma época, com expoentes como Command and Conquer, Warcraft e Starcraft.

Houve na época uma porção de excelentes ETSs, sendo Commandos provavelmente o carro chefe.

Sabe como games atuais como Modern Warfare 3 ou Skyrim dominam completamente não apenas o diálogo gamer mas todos os rankings de vendas e a adoração da mídia especializada?

Então, em 1998 quando este clássico foi lançado, o efeito foi similar. Era literalmente impossível achar uma lista de melhores games do ano sem encontrar Commandos ocupando o pódio (e caso isso acontecesse, era o sinal de que a lista carecia de credibilidade).

Se você teve a infelicidade de nunca jogar Commandos, primeiro me permita lamentar pela sua vida. Em seguida, eu explico: no game, que se passa durante a Segunda Guerra, você controla um esquadrão de elite (em terrível desvantagem numérica) bem no meio de território ocupados por nazistas. Cada soldado tem uma habilidade específica (um dirige veículos, outro tem um rifle sniper, outro ativa bombas, e por aí vai) e você deve usar cada um deles com precisão cirúrgica pra eliminar todos os soldados alemães.

O jogo introduziu elementos interessantíssimos para o gênero stealth (posso traduzir este estilo pra “estratégia escondidinha”? Ok, eu sei que não posso, mas o farei), como o fato de que você precisa ocultar os presuntos nazistas que você produz a todo momento. Os soldados inimigos tem um campo de visão também, e você precisa também sempre manter-se longe do campo de visão deles. E antes que você reclame revoltado que tais elementos de gameplay foram na verdade inventados pela série Metal Gear Solid, saiba que Commandos foi lançado dois meses antes da franquia épica do Hideo Kojima.

Como todo jogo excelente, Commandos deu origem a alguns copycats. Foi o caso de Desperados, um jogo com gameplay bastante similar lançado alguns anos mais tarde. Nunca joguei Desperados na época áurea do jogo, mas soltei um berro de puro êxtase quando encontrei o CD do jogo no Walmart aqui do bairro por míseros 99 centavos de dólar.

Um segredinho: jamais sequer tirei o disco da caixa.

Como no caso de Commandos, o jogo também foi muito bem recebido pelo público e crítica, e serviu como pontapé de uma série esquecida atualmente. Tal qual no caso do Commandos, eu suspeito que o fato de que o jogo nunca foi a lugar nenhum apesar de ser excelente deve-se à empresa obscura que o desenvolveu. No caso de Commandos, foi a softhouse espanhola Pyro Studios; já Desperados foi feito pela alemã Spellbound Entertainment.

Não tenho o hábito de fazer apostas, mas caso dez reais no chão e declaro confiantemente que você não é capaz de (sem consultar a wikipédia) me dizer outros games que essas empresas fizeram.

Outro exemplar do gênero de estratégia escondidinha (ok, eu paro) é o excelentíssimo Syndicate Wars, que é um dos jogos que essencialmente moldou meu caráter: eu peguei emprestado o CD do game do meu primo e jamais o devolvi; de fato tenho até hoje (veja você, que índole). Acho que na próxima vez que for a Fortaleza devolverei o disco ao meu primo num ato simbólico.

 

Você talvez reconheça Syndicate Wars, ao menos que apenas por nome (ou, mais especificamente, metade dele). Isso acontece porque, ao contrário dos outros injustiçados que citei aqui, a série Syndicate teve um novo jogo lançado recentemente. Não coincidentemente, os jogos originais da franquia foram lançados por um estúdio de renome (Bullfrog, que criou grandes outros clássicos dos 90), e produzidos diretamente por Peter Molyneux, um desenvolvedor tão icônico quando polarizador: alguns amam, alguns adorariam vê-lo ser atingido por um caminhão de lixo em alta velocidade). Não tenho dúvidas que foi esse pedigree da série Syndicate que a impediu de ter destino similar aos companheiros de gênero.

Syndicate Wars trazia um gameplay bastante semelhante aos que citei acima, com o adicional de uma engine 3D (o que era impressionante). Embora fosse um pouco menos robusto na parte “stealth”, eram o cenário e a história que realmente vendiam o universo do jogo. O ambiente em Syndicate Wars era o cenário cyberpunk distópico tradicional em que coorporações dominam o mundo (e aliás o game segue a cartilha “Blade Runner” tão à risca que alguns veículos do jogo parecem se basear diretamente nos spinners, os carros voadores do clássico de ficção científica).

É uma pena que esse estilo de jogo tenha caído tanto em popularidade. Eu adoraria uma nova versão de Commandos (como já citei nesta outra coluna), ou uma versão “de-volta-às-raízes” de Syndicate Wars. Já no caso de Desperados, me parece um pouco hipócrita clamar por um remake ou continuação quando eu nunca sequer dei uma chance ao jogo original.

Qual o seu jogo de estratégia tática favorito?

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Izzy Nobre

Izzy Nobre

Ex-autor

Israel Nobre trabalhou no Tecnoblog entre 2009 e 2013, na cobertura de jogos, gadgets e demais temas com o time de autores. Tem passagens por outros veículos, mas é conhecido pelo seu canal "Izzy Nobre" no YouTube, criado em 2006 e no qual aborda diversos temas, dentre eles tecnologia, até hoje.

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