O MercadoLivre quer virar a Amazon do Brasil antes da Amazon

Parece estranho, mas as operações de varejo das duas empresas convergem para um ponto em comum

Paulo Higa
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• Atualizado há 11 meses
As duas empresas gostam muito de amarelo, né? (A propósito, esse centro de distribuição é da Amazon.)

Ok, talvez o título soe estranho, mas é verdade. Pensa comigo: cerca de metade das vendas da Amazon não vêm da própria loja, mas do marketplace, no qual terceiros anunciam seus produtos na Amazon, que por sua vez ganha uma comissão. E, para permitir as entregas rápidas, os vendedores podem armazenar seus produtos diretamente nos centros de distribuição da Amazon.

Esse modelo é conhecido como fulfillment: em vez de deixar o processo de venda totalmente a cargo do vendedor, a Amazon assume a parte de logística, armazenando, empacotando e enviando os produtos aos clientes. E o MercadoLivre anunciou nesta semana que começou a fazer exatamente isso no Brasil.

O MercadoLivre está começando pequeno em comparação com a Amazon nos Estados Unidos: eles vão atender inicialmente apenas 130 dos maiores vendedores da loja. Os produtos ficarão armazenados em um centro de distribuição em Louveira (SP), e a empresa cuidará da logística no lugar do vendedor.

Ainda assim, o MercadoLivre afirma que pode “escalar rápido” a operação, e que enxerga “uma parcela importante da venda no futuro vindo desse negócio”. Além disso, diferente da Amazon, que cobra uma taxa de acordo com o tamanho do estoque e período do ano (o custo do espaço no final do ano é bem mais caro, por motivos óbvios), o MercadoLivre diz que, para ganhar escala, não vai cobrar dos vendedores.

Isso é mais uma tentativa do MercadoLivre de crescer para desbancar as gigantes do e-commerce brasileiro, incluindo B2W (Submarino, Americanas e Shoptime), Cnova (Pontofrio e Casas Bahia) e Netshoes, que faturam mais, mas sangram dinheiro. A B2W teve prejuízo de cerca de R$ 3.000 por minuto em 2016 (!), enquanto o MercadoLivre lucrou US$ 136,3 milhões, considerando as operações nos 19 países em que atua.

É bem verdade que o MercadoLivre não tem produtos próprios como a Amazon (que vende de pilhas alcalinas a vinhos) e claramente precisa investir no suporte ao consumidor — quem já precisou de ajuda em ambas as lojas talvez entenda o que estou dizendo. Mas as operações no varejo das duas empresas parecem convergir para um ponto em comum; as receitas da Amazon com marketplace só crescem.

Enquanto isso, a Amazon restringe sua operação brasileira a livros, e-books e Kindles. O Brasil é o único país em que a empresa de Jeff Bezos não possui um varejo mais completo, mesmo depois de cinco anos de operação no país: ela entrou aqui de forma tímida em 2012 e pouquíssimas novidades vieram desde então, como a venda de livros usados por marketplace.

A promessa da Amazon brasileira, agora, é vender produtos do setor de eletrônicos, informática, telefonia e moda, mas trabalhando apenas com o modelo de marketplace, intermediando vendas de outras pessoas. Espera: será que outra empresa já não faz isso aqui no Brasil há quase 20 anos?

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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