Jon von Tetzchner é cofundador da Opera Software e responsável pelo Vivaldi, e tem bastante experiência em criar navegadores, assim como em realizar parceria com sites de busca. Ele acusa o Google de práticas anticompetitivas, e sugere que sofreu pressão após fazer críticas à empresa.
No blog oficial da Vivaldi, von Tetzchner lembra que o Opera foi o primeiro navegador a integrar a busca do Google em sua interface, e que os cofundadores Larry Page e Sergey Brin eram caras simpáticos.
Então, o Google lançou serviços como o Docs, que eram “feitos para serem incompatíveis com o Opera”. Eles funcionavam normalmente quando o navegador escondia sua identidade. Sergey Brin foi informado disso, diz von Tetzchner, mas não adiantou; e a situação só piorou com o lançamento do Chrome. O próprio Vivaldi — baseado no Chromium — precisa esconder a identidade para o Google Docs funcionar.
Recentemente, as campanhas publicitárias do Vivaldi no Google AdWords foram suspensas sem aviso prévio. Dois dias antes, foi publicada uma entrevista de von Tetzchner na Wired, em que ele critica Google e Facebook por monitorarem seus usuários para exibir propagandas direcionadas.
“Não precisamos de anúncios que sejam personalizados. Você poderia apenas receber anúncios com base na localização… Por que precisamos desse rastreamento? Qual o valor que isso nos dá como usuários? Eu realmente não vejo muito valor nisso”, disse von Tetzchner.
Segundo e-mails vistos pela Wired, o Google queria que a Vivaldi adicionasse um link para seus termos de uso “dentro do frame de cada botão de download”. Também deveria haver outro link com informações detalhadas para o usuário desinstalar o navegador. Fazendo isso, eles iriam liberar a campanha do AdWords novamente.
No entanto, o Chrome não cumpre nenhuma dessas duas exigências: o botão de download não tem um link para os termos de uso, por exemplo. Além disso, não existe nenhuma regra explícita nos artigos de ajuda do AdWords sobre links para desinstalação.
O Google respondeu a von Tetzchner que um link para os termos não era um “requisito essencial”, ou seja, sua ausência não violaria as regras do AdWords — mas as suspensões são tratadas “caso a caso”.
Três meses depois, a Vivaldi cedeu às exigências. O problema para von Tetzchner não foram as mudanças, mas a maneira como elas foram cobradas: de forma agressiva, sem aviso prévio, e sem o Google respeitar as próprias regras. E é difícil recorrer a alternativas, já que eles controlam 75,8% do mercado de anúncios de busca.
Não é o primeiro caso em que o Google usa sua influência para silenciar críticos. Barry Lynn, estudioso da New America Foundation, foi demitido após apoiar a decisão da União Europeia em multar a empresa em US$ 2,7 bilhões — ela doou milhões de dólares para a fundação.
A jornalista Kashmir Hill tem um caso semelhante. Ela escreveu uma reportagem na Forbes em 2011 sobre uma reunião com executivos do Google, em que eles sugeriram que sites sem o botão +1 do Google Plus perderiam espaço nas buscas.
A empresa então pressionou a Forbes a remover o artigo; o tráfego do site dependia bastante das buscas e do Google Notícias. Eles acabaram cedendo e, segundo Hill, “os resultados de busca deixaram de exibir a notícia muito rapidamente”.