Como Metal Gear Solid serviu de inspiração para um braço biônico

Depois de perder o braço em um acidente, jovem britânico ganhou uma prótese futurista da Konami

Emerson Alecrim
Por
• Atualizado há 11 meses
James Young

James Young é um britânico de 26 anos que enfrentou um drama daqueles: em 2012, um acidente de trem o fez perder o braço esquerdo e parte da perna esquerda. Depois de um longo período de recuperação, o rapaz começou a experimentar próteses, mas nenhum modelo atendeu às suas necessidades. Foi aí que a Konami veio em seu socorro: a companhia ajudou a projetar para Young um impressionante braço biônico inspirado em Naked Snake, personagem da franquia Metal Gear Solid.

Próteses com personalidade

A história do braço biônico de Young começa com o trabalho de Sophie de Oliveira Barata. Designer, ela começou a desenhar próteses convencionais para pessoas que tiveram membros amputados. Uma menina que tinha que trocar de prótese regularmente por estar em fase de crescimento pediu a ela unidades com características únicas, quase como se fossem obras de arte. Foi esse pedido que inspirou a designer a criar o Alternative Limb Project, iniciativa dedicada a desenvolver próteses “com personalidade”.

Barata é amiga de Su-Yina Farmer, chefe de comunicações da Konami na Europa. Como conhecedora da Alternative Limb Project, Farmer teve a ideia de promover Metal Gear Solid V: The Phantom Pain ligando o trabalho da amiga à história do jogo — próteses mecânicas aparecem na trama.

James Young

O projeto começou a tomar forma quando Barata e Farmer souberam do caso de James Young. Foi iniciativa dele: em um anúncio online, a Konami revelou que estava à procura de uma pessoa que passou por amputação; então ele respondeu.

Na sequência, Barata e Farmer marcaram uma reunião com o rapaz em uma cafeteria de Londres para apresentar a ideia: Young teria um braço biônico tão funcional quanto possível inspirado no jogo. Todas as despesas ficariam por conta da Konami. Em troca, ele teria que ceder a sua imagem em campanhas promocionais.

A inspiração

Apesar de o game não estar entre os seus favoritos, não foi difícil para Young aceitar a proposta. Primeiro porque ele é fã de videogame — depois de se recuperar do acidente, Young aprendeu até a jogar usando uma mão e a boca. Segundo porque o enredo de Metal Gear Solid V: The Phantom Pain tem, como ele próprio faz questão de ressaltar, muitas semelhanças com a sua história.

Tudo começa com o nome do jogo. Em tradução livre, “phantom pain” significa “dor fantasma”, como a expressão sugere, uma dor que é sentida em um membro removido. Esse problema é muito comum. Com o rapaz não foi diferente: uma das maiores dificuldades que ele teve depois de sair do hospital foi enfrentar dores no pé que não existia mais.

Big Boss / Snake

Além das lesões que causaram amputação, James Young sofreu vários traumas pelo corpo, incluindo fraturas nas costelas e na face. Por conta disso, ele passou quase duas semanas em coma induzido. Eis outro ponto coincidente: a introdução de Metal Gear Solid V: The Phantom Pain mostra o personagem despertando de um período de coma. “Ela [a abertura] exibe as condições que eu passei de modo bastante fiel. Isso me chocou. Foi um lembrete do que eu tinha enfrentado”, disse Young ao Polygon.

Finalmente, o braço

Depois do primeiro encontro, foram necessárias várias reuniões analisando ideias e fotos do trabalho de Sophie para que o rapaz decidisse que rumos o projeto iria tomar. Foi uma escolha difícil: “eu não quis que ficasse parecendo que eu ia matar alguém [com o braço]”, brinca. Depois ele teve que passar por médicos, se reunir com engenheiros e assim por diante. O resultado apareceu depois de alguns meses: no ano passado, Young finalmente ganhou um braço biônico.

Feito de titânio, o equipamento tem design e elementos que realmente remetem a Metal Gear Solid. Mas não estamos falando de um mero enfeite: o braço é dotado de várias tecnologias que o tornam mais útil do que as próteses convencionais que Young experimentou.

James Young - prótese

Para dar alguma liberdade de movimentação, sensores foram posicionados em pontos específicos do ombro de Young para detectar contrações musculares e, à medida do possível, fazer o braço executar o movimento correspondente. Isso permite que ele realize alguns gestos simples, como pegar determinados objetos ou cumprimentar alguém com um aperto de mão.

Outra caraterística importantíssima é a separação que permite que o braço seja desencaixado na altura do peito, sem que a prótese inteira precise ser retirada. Com isso, Young pode remover o equipamento para se vestir com mais facilidade ou sair do carro sem se “enroscar” no volante — dirigir é outra tarefa que ele está conseguindo realizar.

James Young - prótese encaixável

Como esperado para um projeto com uma proposta tão futurista, o braço biônico também comporta algumas excentricidades, digamos assim: há pequenos espaços que Young pode usar para guardar medicamentos; LEDs e lasers podem ser ativados de diversos modos — refletindo os batimentos cardíacos, por exemplo. Acredite, existe até uma porta USB que o rapaz pode usar para recarregar o smartphone.

Em desenvolvimento

É importante ressaltar que, apesar de já ter resultado em uma prótese usável, o projeto ainda está em desenvolvimento. Algumas limitações precisam ser superadas, como o peso de 4,7 quilos do equipamento, que dificulta o uso. Além disso, James Young perdeu articulações importantes para vários tipos de movimentos. Assim, mesmo com a prótese, ele não consegue executá-los.

A equipe responsável pelo projeto acredita que, com mais leveza e posicionamento adequado dos sensores, será possível aumentar a variedade de movimentos. Por conta disso, as expectativas em relação às próximas versões são grandes.

Se quiser saber mais sobre o projeto, você pode conferir o documentário que a BBC Three preparou (em inglês):

Também há mais informações no Phantom Limb Project, site oficial do projeto.

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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