Conheça Miniatur Wunderland, a maior cidade em miniatura do mundo

Miniatur Wunderland é atração turística e tem um complexo software que movimenta tudo

Jean Prado
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• Atualizado há 2 meses
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A formação das cidades gera curiosidade. Não é à toa que o jogo SimCity tem tanto sucesso. Muita gente gosta de apreciar as grandes metrópoles. Junte isso com o amor por miniaturas e maquetes e a cidade em miniatura Miniatur Wunderland, localizada em Hamburgo (Alemanha), se torna praticamente um ponto turístico da província.

Na verdade, não sei se dá pra chamar muito bem a Miniatur Wunderland de cidade. Isso porque eles construíram praticamente um país lá dentro, com réplicas de cidades europeias e americanas. Eles se definem como a “maior composição de ferromodelismo do mundo” devido a grande quantidade de ferrovias para interligar todas as pequenas cidades.

Além do mais, esse “pequeno mundo” é dividido em sete principais seções, que representam tanto locações fictícias quanto cidades, cadeias montanhosas e até fragmentos de países. São estas:

  • A cidade fictícia de Knuffingen (que tem até o próprio site) e foi construída em 2000, antes de todas as outras. Possui uma área de 120 m²;
  • Harz e Alemanha Central, construída entre 2000 e 2001 com também 120 m²;
  • Áustria e os Alpes, com 60 m² de extensão, construída em 2000;
  • Hamburgo, réplica da cidade em que a Miniatur Wunderland se encontra, construída em 2002 com 200 m² de extensão;
  • América, que abriga a cidade de Las Vegas, o Grand Canyon, a Área 51 e até o Monte Rushmore. Tudo isso em apenas 100 m², em exposição desde 2003;
  • Escandinávia, aberta em 2005 com 300 m² de extensão, o maior layout do modelo;
  • Suíça, construída em 2007 com 250 m²;
  • Aeroporto, que fica entre Knuffingen e a Suíça, tendo 150 m² de extensão. Sua construção começou em 2008, mas só terminou em 2011.

Esse número absurdo de layouts faz com que a ferrovia em Wunderland tenha quase 16 quilômetros (!), passando por uma área total de 6.400 m². O modelo, por si só, tem 1.300 m², com planos de expansão até 2020, em que ele chegará a 2.300 m². A cidade da Itália já está sendo construída e deve ser inaugurada no meio deste ano.

Todo o trabalho seria impressionante até se tudo projetado na Miniatur Wunderland estivesse parado. Mas eles decidiram ir além e toda a construção tem um complexo sistema de automatização, que movimenta os veículos, pessoas e até controla a iluminação de toda a cidade. Fala sério, são 335 mil luzes! Um décimo (mais ou menos 30 mil) de tudo isso fica em Vegas, claro.

Como tudo isso funciona?

Na Escandinávia, América, Aeroporto e na cidade ficcional de Knuffingen é onde se concentram as maiores atividades controladas por computador. São mais de 250 veículos em movimento, incluindo os trens de até 14 metros e serviços como o de corpo de bombeiros.

Um dos destaques é o aeroporto, que conta com 40 aeronaves que fazem até pouso e decolagem. Ele custou 3,5 milhões de euros para ser construído, quase 30% dos 12 milhões de euros do projeto inteiro. Até a equipe do local, os hangares, a torre de controle e o terminal foram construídos. Todos os mínimos detalhes foram recriados.

Ao redor da Wunderland, várias atividades corriqueiras também são replicadas, com direito à devida atividade. Festivais, viagens de trem, funerais, tardes na praia, a caça de animais e até jogos de futebol acontecem na cidade. Os visitantes podem interagir com botões e controlar algumas ações dentro da Wunderland.

Para controlar todo esse complexo esquema de computação, uma equipe passa o dia na sala de controle e monitora 40 computadores, além de controlar o software desenvolvido pela própria empresa.

Todo esse software também exerce controle sobre os veículos. Só que em vez de construir um sistema que controla todos os carros e automatiza suas funções, eles fizeram uma espécie de conjunto de minicarros autônomos, que “pensam” por si próprios para se movimentar por entre as ruas das cidades.

Dentro de cada veículo há um microprocessador e uma bateria recarregável. Com essa carga e a tecnologia, eles desenvolveram um programa que calcula todas as situações possíveis de movimento para o carro 20 vezes por segundo. Ele pode desde andar pelas ruas aleatoriamente (e tomando suas próprias decisões) até ter uma rota própria (para ônibus) ou mesmo se dirigir até um acidente (como o carro dos bombeiros).

O sistema, detalhado no vídeo acima, tem marcada a posição de cada veículo. Assim, ele já calcula sua próxima rota baseada nas ruas disponíveis. Tais parâmetros são levados em consideração: se a rota é permitida para o carro, se a rua está livre ou se a rota não foi bloqueada pelos bombeiros.

Um ônibus, por exemplo, não pode sair de sua rota pré-determinada, então se o caminho dele não foi obstruído e se ele pode seguir por aquele trajeto, é fácil do veículo continuar. Quando existem duas (ou mais) situações possíveis, como no caso de um carro estar andando pela cidade, ele escolhe entre as opções de forma aleatória.

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Depois, ainda pode existir mais alguns cenários que o veículo precisa prever. Caso ele esteja em uma rodovia, por exemplo, é necessário que os faróis estejam acesos. Como as ruas têm diferentes velocidades máximas, o carro também precisa checar o limite para a rua em que ele se encontra.

Além do limite, o veículo é capaz de obedecer os sinais de trânsito e as luzes de um semáforo. Ele também espera os pedestres atravessarem e dá passagem para os bombeiros. O site não informa como esse sistema funciona, mas imagino que seja algo no software central, que envia a decisão para a placa-mãe do carro.

No entanto, ainda existem situações que “fogem do controle” propositalmente – afinal, nenhuma cidade tem trânsito perfeito. Há veículos, por exemplo, que passam do limite de velocidade (e tem até um radar junto a uma polícia que multa-os!). Na seção da Alemanha, cerca de 10% dos carros (escolhidos aleatoriamente) andam com os faróis ligados durante o dia por “erro dos motoristas”.

Com toda essa incrível engrenagem de tráfego, é possível criar situações inusitadas para os visitantes interagirem. Há um botão de iniciar um incêndio que, quando apertado, ativa um dos 11 cenários para os bombeiros se dirigirem. Atualmente, é a equipe na sala de controle que “autoriza” o incêndio.

E o que acontece depois? Oras, o mesmo que aconteceria em um incêndio. A fumaça começa a subir, as primeiras chamas começam a aparecer, o alarme começa a tocar no corpo de bombeiros e até quatro veículos (com as sirenes ligadas) vão até a cena. Depois que o fogo já evoluiu, o computador decide se ele será apagado ou se a chama irá evoluir, e mais veículos precisarão ser chamados (o limite é de 35).

Por mais que o sistema, ao meu ver, já seja muito inteligente, otimizações ainda podem ser feitas. Todas essas 20 decisões por segundo mais as interações precisam de muito poder de processamento, o que limita o número de veículos a mil, enquanto o sistema aceita até 65 mil.

Em decorrência disso, em 2008, eles lançaram uma nova versão do sistema que é capaz de “aprender com o tempo”, utilizando inteligência artificial. Assim, ele consegue evitar situações do passado e continuar aprimorando a navegação. Com a atualização e mais poder de processamento disponível, eles também conseguem prever situações que se passam a mais de 2 metros de distância, o que não era possível antes. O número de paradas bruscas foi diminuído em cerca de 60%.

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Por mais que não pareça, o sistema que movimenta os barcos também é complicado. Nem tanto o sistema de navegação, porque até que é simples fazer com que o barco navegue pelas águas, mas para ele manobrar é necessária uma precisão de 0,1 mm, o que não é atingido com um sistema de IR, usado por eles.

Depois de uma séries de testes e milhares de linhas de código sendo jogadas fora, eles resolveram usar aparelhos ultrassônicos, que são responsáveis por estimar a localização do barco e fazer com que o sistema consiga uma localização precisa o suficiente para o barco estacionar.

O aeroporto também foi um processo exaustivo (e, bem, 30% do orçamento não é pouca coisa). Com mais de 100 km de fiação elétrica, eles simularam pouso e decolagem por uma catapulta, que “levanta” e “abaixa” os 40 aviões pelo ar.

Além disso, não poderia faltar uma equipe de solo para socorrer o avião caso preciso. Bombeiros e mais 40 veículos ficam localizados perto dos hangares, caso as aeronaves tenham algum problema no pouso ou decolagem.

Como o aeroporto é oficialmente da cidade de Knuffingen, a frota de veículos terrestes é compartilhada entre os dois layouts, além de mais 32 novas caixas para carregá-los. Assim, eles conseguem fazer com que veículos de serviço, como ônibus e caminhões de instalação, não se prendam a um só local.

Atualmente, eles recebem cerca de 1 milhão de visitantes por ano. Por isso, os carros (ou deveria dizer minicarros?) do Street View resolveram “capturar” as pequenas ruas, prédios, ferrovias e pessoas. Como na vida real, um carro do Google passeou pela cidade.

Coloquei as aspas no “capturar” porque é difícil que os veículos do vídeo tenham capturado todas as imagens. Provavelmente foi uma câmera especial do Google mesmo. Enfim, a companhia criou até uma página especial para você selecionar uma das várias localizações da pequena cidade. Ficou muito legal! Abaixo, repare como ficou a réplica da cidade de Las Vegas:

O mais legal da visualização pelo Google Street View é que por lá ficam disponíveis alguns lugares que ainda não conhecemos. Por exemplo, a réplica do festival Oktoberfest pode ser acessada. O Castelo de Neuschwansten, construído na segunda metade do século XIX, também está disponível.

Mais informações sobre a tecnologia implementada na cidade podem ser encontradas nesta página, que também explica como os modelos foram feitos. As informações sobre a iluminação e sobre o sistema de som também estão disponíveis.

Como você já deve imaginar, os mais de 230 funcionários responsáveis pela Wunderland não pretendem parar tão cedo. Até 2020, eles terão construído mais quatro layouts, com custo total aproximado de 20 milhões de euros. Bom, só de imaginar que o post inteiro foi dedicado a mostrar como uma cidade minúscula funciona, já é bem impressionante.

Quem também ficou morrendo de vontade de conhecer?

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Jean Prado

Jean Prado

Ex-autor

Jean Prado é jornalista de tecnologia e conta com certificados nas áreas de Ciência de Dados, Python e Ciências Políticas. É especialista em análise e visualização de dados, e foi autor do Tecnoblog entre 2015 e 2018. Atualmente integra a equipe do Greenpeace Brasil.

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