Quando o assunto é tablet, logo nós vem à cabeça a imagem de Steve Jobs apresentando um equipamento intermediário entre celulares e netbooks. Vai fazer um ano que o então CEO da Apple subiu ao palco da WWDC para mostrar ao mundo a sua mais nova invenção. Desde então, muita água rolou por baixo dessa ponte.

O iPad atualmente é um sucesso de público e crítica – e vendas, que é o mais importante para os acionistas da Apple. Depois de meses, vendeu milhões de unidades. E somente no último trimestre do ano passado que começou a perder mercado para o principalmente concorrente, a plataforma Android. A diferença ainda é grande (75% de market share do iPad OS contra 22% do Android para tablets).

Enquanto esse embate não chega a um resultado que agrade a fanboys e usuários independentes, as empresas de comunicação seguem apostando no iPad. Seria esse o salvador das publicações de papel? Logo que ele foi apresentado, jornais e revistas correram para lançar edições digitais que contemplassem o novo aparelho. Mas, passado o hype inicial, qual é o cenário que se pinta no que diz respeito ao conteúdo editorial disponível no aparelho?

Essa é a pergunta de milhões de dólares. É o que Rupert Murdoch, o proprietário da News Corporation – um dos maiores conglomerados de mídia do mundo, junto de Disney, Time Warner e Globo – está tentando descobrir. Foi lançado faz algumas semanas o The Daily, primeiro jornal feito exclusivamente para tablets da Apple.

Aqui no Brasil a presença de jornais no iPad ainda é tímida. As revistas, entretanto, parecem mostrar um pouco mais de vigor quando estamos falando da oferta de conteúdo no dispositivo. Considerando os quatro principais semanários do país (cujas circulações fornecidas pelo Instituto Verificador de Circulação, o IVC, são mais altas), descobrimos que apenas uma delas não está no tablet. A CartaCapital, editada por Mino Carta, por enquanto não oferece qualquer edição digital. As demais são: Veja, da Editora Abril; Época, da Editora Globo; e IstoÉ, da Editora 3.

Que tal saber quanto custa cada uma delas?

Veja, da Editora Abril

Veja tem um guia de navegação

 

Uma das primeiras revistas a lançar edição para iPad, a Veja marca presença no dispositivo por meio de uma edição digital que tira proveito dos recursos exclusivos do tablet. Há opção de alterar o tamanho da fonte, por exemplo, ou modificar a orientação da tela entre retrato e paisagem. Ela foi realmente concebida para o tablet da Apple.

  • Quanto custa no iPad: US$ 4,99 (cerca de R$ 8,35) por edição.
  • Quanto custa nas bancas: R$ 8,90 por edição.

Época, da Editora Globo

Época: com direito a anúncios em vídeo

 

A Época é possivelmente a única revista da Editora Globo cuja versão para iPad merece atenção. A publicidade, por exemplo, pode ser manipulada (dependendo do quanto o patrocinador quis investir nesse tipo de interatividade). Os mesmos recursos da Veja estão lá: tamanho da fonte variável e mudança de orientação com conteúdo que se adapta a tela. Também conta com infográficos interativos e vídeos.

  • Quanto custa no iPad: US$ 4,99 (cerca de R$ 8,35) por edição.
  • Quanto custa nas bancas: R$ 8,90 por edição.

IstoÉ, da Editora 3

IstoÉ oferece rolagem por todas as páginas

 

Os casos da Veja e da Época comprovam o uso da tecnologia na hora de oferecer conteúdo digital, porém amparado em algo que ainda é feito com o impresso em mente. Já a IstoÉ não tem nenhum dos recursos que fazem as outras revistas serem tão interessantes junto ao público. Por exemplo, nada de interatividade, nem formatação especial das páginas dependendo da orientação da tela.

O aplicativo da revista é comparável a uma edição em PDF, com um software auxiliar para baixar novas edições. Ler IstoÉ no Adobe Reader ou no iPad daria na mesma para a maioria dos usuários.

  • Quanto custa no iPad: os exemplarem podem ser baixados gratuitamente.
  • Quanto custa nas bancas: R$ 9,90.

Impresso x Digital

Se a tendência é que as publicações digitais substituam as revistas impressas, a Veja, a Época e a IstoÉ são as três revistas de informação brasileiras que estão na frente na distribuição de conteúdo digital. Ainda assim, um dos aspectos mais importantes de qualquer produto costuma sendo uma incógnita quando levantamos os preços dos exemplares na versão para iPad, comparando-os com os da revista impressa.

As duas líderes de vendagem apresentam edições digitais que custam quase o mesmo nas bancas. Tanto a Veja como a Época adota o preço de 4,99 dólares por edição. Considerando-se a cotação média do dólar em janeiro, cada exemplar sai por cerca de R$ 8,35. A diferença é de apenas 55 centavos, frente às versões impressas das respectivas revistas.

Qualquer estudante de Comunicação Social descobre logo nos primeiros meses de curso que o preço final de um produto impresso é amplamente inflado pelos custos de impressão e distribuição. Um parque gráfico custa absurdamente caro, e sua manutenção também não é barata. Da mesma, estruturar uma rede de distribuição, com manuseio, transporte e espaço nas bancas, é algo que eleva bastante os custos de uma empresa de comunicação.

Embora seja um preço muitas vezes considerado elevado, os quase nove reais pagos por uma edição de Veja ou Época são justificados por esses fatores (além de remunerar o trabalho dos jornalistas e demais profissionais envolvidos na feitura da publicação). No meio digital as coisas são diferentes: não há custo algum com papel, com transporte nem com manuseio do produto. Seu preço, portanto, deveria ser razoavelmente inferior ao de uma revista de papel.

Nos Estados Unidos a situação é bastante diferente: algumas revistas chegam a custar apenas 2 dólares no iPad, enquanto seu preço de banca fica próximo dos 6 dólares. Ou seja, 1/3 do preço cheio da edição impressa, que tradicionalmente custa mais caro para ser produzida.

Eu conversei com Gilberto Maringoni, professor do Departamento de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero. Ele me esclareceu que não é possível definir quanto do preço de capa de uma revista diz respeito à impressão e distribuição da publicação. No caso dos livros fica mais fácil, pois cerca de 25% do valor do exemplar são para esse fim. De qualquer forma, Maringoni garante que o preço pago para produzir uma revista é quase totalmente coberto pela publicidade.

Os custos de uma revista digital, comparados com os de uma revista impressa, deveriam ser maiores somente no campo do desenvolvimento de novas soluções. Os designers, por exemplo, precisam criar praticamente dois layouts para cada nova edição (um para visualização em modo retrato, e outro em modo paisagem), além dos recursos interativos que costumam chamar a atenção nesse tipo de publicação. Ainda assim, não justifica manter quase o mesmo valor da revista impressa também no iPad.

Relacionados

Escrito por

Thássius Veloso

Thássius Veloso

Editor

Thássius Veloso é jornalista especializado em tecnologia. Desde 2008, participa das principais feiras de eletrônicos, TI e inovação. Thássius é editor do Tecnoblog e também atua como comentarista da CBN, palestrante e apresentador de eventos. Já colaborou com o Jornal Nacional e a GloboNews, entre outros veículos da imprensa. Ganhou o Prêmio Especialistas em duas ocasiões e foi indicado diversas vezes ao Prêmio Comunique-se. Pode ser encontrado como @thassius nas redes sociais.