Quantos robôs você terá até 2040?

De aspiradores a animais de estimação robóticos: entenda como os robôs estão cada vez mais presentes no nosso dia a dia

Darlan Helder
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• Atualizado há 11 meses
Quantos robôs você terá até 2040? (Imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)
Quantos robôs você terá até 2040? (Imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)

Amigável, inteligente e adora estar perto de idosos. Essas são as principais características de ElliQ. Já o Spot é aventureiro, resistente, flexível, enquanto o RIBA é aquele fofinho que adora ajudar as pessoas. Muito provavelmente, você deve estar pensando que eu estou me referindo a cachorros ou gatos, mas a verdade é que ElliQ, Spot e RIBA são dispositivos mecânicos — robôs, para ser mais específico.

Em meio a debates espinhosos sobre como eles podem “roubar” o seu emprego a atuações impressionantes, os robôs não são tecnologias novas e já presenciamos como eles têm habilidade para atuar em diversas frentes, especialmente no setor privado. Desta vez, são os robôs sociais que podem ganhar mais espaço e a pandemia vem acelerando o movimento de adoção deles.

Especial robôs em vídeo

Robôs: ponto de partida

Peça Rossum's Universal Robots (RUR) de Karel Čapek (Amber Case/Flickr Creative Commons)
Peça Rossum’s Universal Robots (RUR) de Karel Čapek (Amber Case/Flickr Creative Commons)

Antes de analisar o cenário contemporâneo e moderno, precisamos voltar no tempo. A palavra “robô” tem origem tcheca, também conhecida como “robota” e não apresenta um significado muito simpático, já que é usada para definir “trabalho forçado”, “servidão” e afins. Não é tão surpreendente, tendo em vista que a palavra apareceu pela primeira vez há 101 anos, em 1920, durante uma peça teatral do jornalista e dramaturgo tcheco Kapel Čapek, em Rossum’s Universal Robots (RUR).

A obra, também disponível em livro, sinaliza como Čapek estava à frente de seu tempo: há mais de cem anos, sua peça mostrava robôs modernos, perfeitos e eficientes que poderiam substituir o humano em várias tarefas. Sim, infelizmente eles conseguiram dominar o mundo.

Avancemos para dezoito anos depois, eis que surge Elektro, considerado o primeiro humanoide do mundo. Desenvolvido pela Westinghouse Electric Corporation, a invenção de dois metros de altura tinha um visual imponente, fazia piadas sem graça, mas ficou ainda mais famoso por ser capaz de explodir balões e fumar — há registros do Elektro fumando.

Robô Elektro (Imagem: John Smatlak/Flickr Creative Commons)
Robô Elektro (Imagem: John Smatlak/Flickr Creative Commons)

Mas se tem um robô que marcou a década passada é a Sophia. Diferente do Elektro, Sophia impressionou ainda mais o mundo por suas expressões faciais: ela sorri, fica triste e tenta conversar naturalmente com as outras pessoas. O sucesso foi tão grande que a robô ganhou uma conta no Instagram, hoje com quase 200 mil seguidores. Sophia foi entrevistada por vários canais de TV, incluindo a Globo; ela conversou com o Will Smith e já discursou na ONU (Organização das Nações Unidas).

Para o engenheiro de Controle e Automação do Instituto Mauá de Tecnologia, Professor Dr. Anderson Harayashiki Moreira, robôs parecidos com humanos, a exemplo da Sophia, ainda causam muito estranhamento, especialmente em crianças.

Robô Sophia desenvolvida pela Hanson Robotics (Imagem: Divulgação/Hanson Robotics)
Robô Sophia desenvolvida pela Hanson Robotics (Imagem: Divulgação/Hanson Robotics)

É difícil você colocar um robô muito parecido com o ser humano para fazer essa interação. As pessoas ainda têm um certo receio de interagir com um negócio que lembra aqueles filmes [de ficção científica] O Exterminador do Futuro […] Eu tive a oportunidade de ver um trabalho de um pesquisador japonês, no Museu Nacional de Ciência e Inovação no Japão (Miraikan), em Tóquio, e lá tem uma robô que você conversa com ela, parece muito com o ser humano. É estranho! É uma relação [que assusta], principalmente com as crianças, elas não reagem bem.

Anderson Harayashiki Moreira, engenheiro de Controle e Automação do Instituto Mauá de Tecnologia

Olhando para o futuro

Como bem previu Čapek, os robôs poderiam substituir humanos em algumas atividades. Atrelado à Revolução Industrial, o movimento de adoção de máquinas robóticas já é uma realidade há muito tempo, principalmente em grandes corporações que buscam aumentar a produtividade e reduzir custos. Uma pesquisa da Federação Internacional de Robótica (IFR), publicada em setembro de 2020, mostra que 2,7 milhões de robôs estão operando em indústrias ao redor do mundo. China, Japão e Estados Unidos seguem em destaque.

Spot, cão-robô da Boston Dynamics (Imagem: Divulgação/Boston Dynamics)
Spot, cão-robô da Boston Dynamics (Imagem: Divulgação/Boston Dynamics)

Spot, também conhecido como o cão-robô, é famoso pela habilidade de enfrentar terrenos irregulares com muita facilidade, podendo tomar chuva, desviar de objetos e subir escadas. Desenvolvido pela Boston Dynamics, hoje da sul-coreana Hyundai, Spot está disponível no mercado desde 2019, porém apenas empresas podem adquirir o cão-robô. Ao Tecnoblog, Vinicius Fiori, gerente de marketing da Ericsson, diz que projetos como esse serão cada vez mais comuns.

Você vai ter algumas atividades que humanos vinham fazendo serem substituídas por robôs, sejam atividades dentro de minas, em áreas inóspitas, plataformas de petróleo — isso tem acontecido. Veremos empresas fechando parceria, por exemplo, com o exército americano para criar robôs que possam realizar atividades de alta periculosidade […] Você vai ter drones fazendo um trabalho de inspeção e pulverização de defensivos agrícolas de uma forma mais eficiente; apoio em resgates, carregando um desfibrilador para fazer um atendimento num local difícil […] Na pandemia, há robôs ajudando a receber [pacientes] em hospitais, passando pelas alas clínicas, levando materiais, isso também vai ser muito visto.

Vinicius Fiori, gerente de marketing da Ericsson

Olhando para o futuro, as máquinas passaram a entrar em nossas casas, o aspirador robô é um exemplo, mas também existem aqueles que vão além do trabalho repetitivo e estão disponíveis para ajudar a sociedade de verdade, são os famosos robôs sociais. ElliQ, citada no início desta reportagem, foi projetada para estar ao lado de idosos: ela pode interagir com joguinhos, tocar música, lembrar o seu avô ou avó para tomar o remédio e até praticar exercícios físicos para ajudar o seu companheiro. Os desenvolvedores prometem um “envelhecimento mais feliz e saudável”.

Robô ElliQ (Imagem: Divulgação/ElliQ)
Robô ElliQ (Imagem: Divulgação/ElliQ)

Ainda é possível encontrar alguns modelos similares a cães e gatos, que podem ser mais “simpáticos” para os mais receosos com a tecnologia. Nos Estados Unidos, a empresa Joy For All comercializa animais de estimação robóticos, também para idosos. Os cachorros e gatos, que na verdade são robôs, são capazes de reagir quando a pessoa interage, é possível sentir o coração do bichinho e, no caso do gato, ele consegue ronronar e responde ao ser acariciado. Tudo por meio de sensores. O sucesso dos animais robóticos foi ainda maior no auge da pandemia, sobretudo para ficarem ao lado de idosos com Alzheimer e demência.

Animal de estimação robótico da Joy For All (Imagem: Reprodução/ YouTube Nasco Education)
Animal de estimação robótico da Joy For All (Imagem: Reprodução/ YouTube Nasco Education)

“Não posso dizer o quanto minha mãe de 92 anos adora esse presente! Ela não tem diagnóstico de Alzheimer nem demência, então eu pensei que ela poderia pensar que o cachorrinho era bobo. Muito pelo contrário, ela adora”, disse uma compradora.

Nós começamos a ver várias aplicações desses robôs de serviço. Em companhia de idosos tem muita coisa aparecendo […] desde robôs mais fofinhos, bonitinhos, parecendo um bicho de pelúcia, mas que já controla a medicação, já monitora para ver se o idoso não sofreu alguma queda, [os robôs] têm um botão de pânico instalado para ativar um cuidador ou até mesmo o serviço médico. Sobre esses novos robôs, vamos começar a ver eles cada vez mais. Começou muito simples com aquele robô para aspirar o pó, mas hoje nós já temos diversas aplicações que são feitas para esses robôs de serviço.

Anderson Harayashiki Moreira

Como fica a privacidade?

Robô ElliQ (Imagem: Divulgação/ElliQ)
Robô ElliQ (Imagem: Divulgação/ElliQ)

Afinal, podemos confiar em robôs? Imagine um aspirador robô monitorando as suas atividades? Especialistas acreditam que até 2040 será comum ter robôs dentro de residências, especialmente entre as famílias ricas. No entanto, um estudo da Kaspersky com a Universidade de Ghent mostra que as máquinas robotizadas poderão coletar informações sigilosas de seus donos.

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores contaram com um robô hackeado e foi possível observar como eles poderiam encontrar vulnerabilidade e influenciar as pessoas. Por exemplo, num edifício na Bélgica, em uma sala em que deve ser aberta por senha, o robô do estudo perguntou aos funcionários se ele poderia entrar junto; 40% atenderam a solicitação da máquina e passaram o crachá.

Em outra situação, na hora do almoço, o equipamento do estudo estava com a embalagem de uma pizzaria famosa e identificado como entregador. Nessa situação, os funcionários aprovaram imediatamente a entrada do falso entregador sem questionar a presença dele. A Kaspersky ainda alerta que as pessoas não desconfiam quando os robôs sociais solicitam “informações incomuns”. Especialistas ouvidos pelo Tecnoblog alertam para o perigo.

Imagina você ter um policial robô, armado na rua. Ele é tecnológico, eu tenho acesso a ele e consigo trocar o seu software. Agora imagina um batalhão de policiais robóticos […] eu pego esses equipamentos e, ao invés dele fazer o bem, ele passa a ser usado para o mau? A gente sempre imagina um policial do mau agredindo, matando, mas isso seria facilmente detectado, hoje praticamente todas as ruas são filmadas, você tem uma série de coisas para neutralizar essa ação […], mas e se tiver outro cenário, de robôs fazendo atividades e o seu software é invadido e coleta tudo o que ele está fazendo? Imagina um funcionário robô do Detran tendo acesso aos dados de todos os motoristas do Brasil?

Diogo Santos, CTO da Claranet Technology

Robô (Imagem: Iewek Gnos/Unsplash)
Robô (Imagem: Iewek Gnos/Unsplash)

É duro falar isso, mas é algo que sempre vai existir, não irá acabar, porque a pessoa, na maior das boas intenções, cria alguma coisa para ajudar a sociedade e alguém vai lá e deturpa [a invenção], modifica o uso principal para fazer algo não tão bacana […] Você falou de drone: quantas pessoas usam ele para brincar, fazer imagens aéreas — esse é o objetivo num primeiro momento [durante a criação]. Hoje, nós já vemos pessoas usando drone para obter imagens indevidas das casas das pessoas, fazer uma invasão de privacidade ou até mesmo transportar objetos para dentro de um presídio.

Anderson Harayashiki Moreira

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Darlan Helder

Darlan Helder

Ex-autor

Darlan Helder é jornalista e escreve sobre tecnologia desde 2019. Já analisou mais de 200 produtos, de smartphones e TVs a fones de ouvido e lâmpadas inteligentes. Também cobriu eventos de gigantes do setor, como Apple, Samsung, Motorola, LG, Xiaomi, Google, MediaTek, dentre outras. No Tecnoblog, foi autor entre 2020 e 2022. Ganhou menção honrosa no 15º Prêmio SAE de Jornalismo 2021 com a reportagem "Onde estão os carros autônomos que nos prometeram?", publicada no Tecnoblog. 

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