Velho demais para jogar? Eles te provam que não

Videogame é coisa de gente mais velha sim! E além de serem um ótimo passatempo, também podem trazer vários benefícios à saúde

Vivi Werneck
• Atualizado há 1 ano e 7 meses
Velho demais para jogar? Eles te provam que não (Imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)

Existe um limite máximo de idade para que uma pessoa possa jogar videogame? Idosos jogando online ou trabalhando com games são estranhos? Se estas perguntas soaram de forma absurda para você, é porque elas realmente são. Encarado por alguns como profissão e por outros como apenas um passatempo, os games além de divertir também podem estimular o raciocínio, habilidades físicas e socialização. 

Independentemente da idade, existem inúmeras atividades que uma pessoa pode fazer (de maneira saudável e respeitando seus próprios limites) que eventualmente trarão benefícios que vão além de uma recomendação médica, por exemplo. Falando especificamente de jogos eletrônicos e idosos, vários estudos já consideram os games como forma de complemento para estimular o desenvolvimento físico, cognitivo ou mesmo como auxílio na socialização de pessoas com mais de 60 anos.

As contribuições dos games para os idosos

Ana Lucia Nakamura, pesquisadora de jogos digitais e não digitais com idosos, afirma que há inúmeras pesquisas nacionais e internacionais comprovando as contribuições dos jogos para as várias faixas etárias. “Especificamente para os idosos, além da manutenção e melhora cognitiva, os benefícios dos games reverberam positivamente em outros aspectos, que ajudam a manter a mente ativa”, conta Nakamura que é formada em Ciência da Computação pela UNIP (Araraquara-SP) e pós-graduada no Mestrado (2015) e Doutorado (2020) pela PUC-SP, no Programa de Tecnologias da Inteligência e Design Digital.

Os games podem gerar os seguintes estímulos, segundo a pesquisadora:

Físico

Os jogos que envolvem uma movimentação mais ampla para jogar, como os exergames, ajudam na recuperação de funcionalidades, de movimentos, melhorias em equilíbrio, marcha, prevenção de quedas, entre outros.

Emocional

Melhorias no humor, afeto, autoestima, autoconfiança, diminuição de ansiedade e nos sintomas de depressão e solidão, etc.

Social

O jogo, neste aspecto social, abre caminhos para a socialização, aumenta as interações sociais, a inclusão, incentiva a autonomia, cria e fortalece os vínculos.

Além do lado terapêutico que os jogos podem ter, não substituindo tratamentos indicados por médicos, mas como complementos, há um público mais velho que curte games apenas por gostar, como qualquer outra pessoa mais nova, até mesmo participando de times online, criando um canal no YouTube, ou fundando sua própria empresa graças à paixão pelos games.

Como um hobby se tornou uma empresa

E por falar em pessoas que transformaram o passatempo dos jogos em profissão, ou melhor, na própria empresa, o paulista Claudio Almeida, de 62 anos, começou a carreira trabalhando com publicidade, mas acabou tendo um contato bem mais próximo com o mundo dos games quando resolveu mudar de área e ir trabalhar na Brasoft, uma empresa de softwares. 

Claudio Almeida levou a paixão pelos jogos para a profissão (Imagem: Arquivo Pessoal)

“Lá tive meu primeiro contato com jogos eletrônicos. A Brasoftware foi a primeira empresa a comercializar jogos para computador no Brasil”, explica Claudio ao Tecnoblog. “Havia um departamento de games, com vários jogos que eles prospectavam antes de lançar. Eu, como sempre estava acostumado a trabalhar até tarde, herança dos tempos de publicidade, ficava no escritório depois do horário. Comecei então a jogar os games que eles tinham para passar o tempo.”

Claudio destaca que sua passagem pela Brasoft aconteceu por volta da década de 1990. De lá para cá, ele não largou mais os games e afirma que joga quase qualquer coisa, “menos jogos de azar” – como ele faz questão de deixar claro. A lista de games já jogados é extensa, mas ele fez questão de destacar alguns com os quais começou o hobby, como: Indy 500, Grand Prix, Indiana Jones and the Last Crusade, Red Baron, Lakers & Celtics, 688 Sub, entre outros.

“Sem ser para PC, lembro de ter jogado (pouco) Ocarina of the Time, no Nintendo 64, e o Gran Turismo, no PlayStation 2. Bem mais tarde, por volta de 2006/07, comecei a jogar GTA 4, no Xbox, e mais tarde ainda (2017) voltei ao Zelda no Switch, com The Legend of Zelda: Breath of the Wild”, lista o empresário.  

Claudio Almeida, 62 anos, empresário

“Logo que comecei a jogar eu adorava games de aventura, porque peguei a fase áurea da Lucas Games. Também achava que não gostava de jogos de tiro, por achar muito simples. ‘É só atirar e pronto!’, pensava eu. Mas quando descobri Doom, meu conceito mudou completamente, lembro claramente da sensação que senti e falava: ‘nossa eu sou o Rambo!’ Hoje em dia adoro esse gênero”, recorda. 

Outra lembrança que Claudio guarda com carinho é a de realizar partidas multiplayer de Unreal Tournament com amigos e amigos de seu filho também. “Éramos umas cinco ou seis pessoas, cada uma com o seu PC e monitor. Montávamos uma verdadeira lan house num apartamento de 64m² (nem eram laptops na época) e passávamos o fim de semana jogando.”

O hobby pelos games sempre teve muito a ver com a vida profissional de Claudio. E a Quoted, empresa que criou, surgiu de uma necessidade que ele notou ao jogar e imaginar como alguns games ficariam, se fossem traduzidos para português do Brasil. “Inicialmente, eu pensava em como eu traduziria um nome de item, de magia, uma tela, etc. Após sair da Brasoft, estava desempregado e me ofereci para traduzir todos os manuais do SimCity 2000, claro que não de graça, mas por um preço que envolvia a minha chance de tentar fazer o que sempre quis”, conta.

Claudio foi ganhando experiência na área de localização quando começou a trabalhar como tradutor freelancer de manuais, embalagens e dos próprios jogos. Daí foi um pulo para criar a própria empresa e começar a atender clientes dessa área. A Quoted, que iniciou suas atividades em 1999, oferece serviços de tradução e localização de games, entretenimento e tecnologia. “Nosso primeiro cliente foi nada menos que a EA do Brasil”, destaca Claudio com orgulho. 

Claudio é fundador da Quoted que já prestou serviços para a EA do Brasil (Imagem: Arquivo Pessoal)

Algumas pessoas, especialmente as mais novas, às vezes veem com surpresa quando alguém mais velho diz que gosta de jogar e até trabalha com games. A respeito disso, Claudio conta que já passou por várias situações curiosas. “Sempre quando estamos conversando seja com clientes, fornecedores, ou até mesmo gente da área de marketing, as pessoas se surpreendem quando alguém me apresenta como o responsável por estarmos ali. Que sou um dos que mais joga que eles conhecem”, explica. “Acho que, infelizmente, para as pessoas mais jovens é muito difícil acreditar que alguém de 62 anos joga tanto ou mais que eles.”

E por mais “estranheza” que idosos que amam jogos eletrônicos ainda possam causar a alguns jovens, não é tão difícil quanto parece encontrar mais e mais pessoas acima dos 60 anos, ou chegando lá, que têm nos games uma paixão e fonte de distração. E olha que nem precisa chegar a ponto de trabalhar diretamente com isso. Quer mais exemplos? Então conheça a Lucimar e o Paulo, a seguir.

Uma paixão por Dota 2 e o tiozão da galera

A aposentada e moradora de Santos (SP) Lucimar Moita Figo, de 61 anos, conta ao Tecnoblog que seu interesse pelos games começou na juventude, quando jogava fliperama, Galaga, Tetris, Pac-Man e Donkey Kong. “Depois, por volta de 2003/2004, meu sobrinho, que morava na mesma casa que eu, ganhou do pai um PlayStation 2 e aí tive contato com GTA San Andreas e outros jogos”, explica.

No entanto, foi só em 2016 que Lucimar teve o primeiro contato com sua grande paixão: Dota 2.

“Desde então, não parei mais de jogar! Dota 2 é o game que mais jogo. Me aventurei por outros tipos de jogos, mas o MOBA é o estilo que mais gosto. Gosto de RPG de mesa também, apesar de só ter jogado uma vez, mas adorei”, destaca a aposentada que também gosta de jogos de tiro, como Call of Duty: Mobile, onde faz parte de um clã.

Lucimar Moita Figo, 61 anos, aposentada

Quem também não perde a oportunidade de se divertir com um jogo de ação é Paulo Roberto Rodrigues, de 59 anos, e morador do Rio de Janeiro. Conhecido carinhosamente como “Seu Paulo” entre os jogadores, o carioca que trabalha no ramo de alimentos é um assíduo jogador de Combat Arms, desde 2015. “Hoje em dia faço parte de um clã, chamado Arte da Guerra do Combat Arms. Mas além desse jogo, eu gosto muito de Battlefield V também”, conta Seu Paulo.

Paulo Roberto Rodrigues, o Seu Paulo, é fã de Combat Arms e Battlefield V (Imagem: Arquivo Pessoal)

Ele comenta que sempre gostou muito de jogar videogame e o filho o ajudou a continuar no hobby. “Jogo sempre que posso; é meu passatempo. Conheci os games por meio do meu filho, que baixava jogos no meu notebook para ele jogar. Eu, de curioso, entrei para ver se era legal mesmo e não parei mais”, recorda. Sobre os mais novos acharem curioso que ele, com quase 60 anos, seja tão fã de jogos de tiro, Paulo brinca: “Eu me divirto com essas situações. Acaba que me torno amigo, pedem conselhos. Sou um verdadeiro tiozão da galera.”  

“As pessoas geralmente demoram muito para acreditar que eu tenho 61 anos e jogo”

Lucimar concorda com Paulo e diz que essa surpresa realmente acontece. “As pessoas geralmente demoram muito para acreditar que eu tenho 61 anos e jogo. Mas quando acreditam, ficam admiradas e curiosas para saberem como comecei e, na maioria das vezes, dizem que gostariam que suas mães também jogassem”, conta a aposentada.

E tem mais: Paulo faz questão de dizer que se vê jogando de igual para igual com qualquer outro jogador. “A idade chega quando você permite que ela te limite. Só amarrado vou deixar de fazer o que gosto, mas sei que preciso ter bom senso também. Temos que saber que somos pessoas adultas no meio dos jovens. (…) Precisamos respeitar e aprender a conviver em harmonia.”  

Os games, além de uma forma de diversão, também podem servir para ajudar a conectar pessoas de idades bem diferentes e que provavelmente não conseguiriam “falar a mesma língua” fora desse ambiente digital. Tanto Lucimar quanto Paulo concordam com isso. A jogadora de Dota 2 acrescenta: 

“Os jogos aproximam as famílias. Conheço famílias que jogam juntos pai, mãe e filhos. Eu não tenho netos, mas os games me colocam em atividades juntamente com meus sobrinhos das quais eu estaria excluída se não jogasse também”, explica Lucimar.

Lucimar Moita Figo conta que Dota 2 é o game que mais gosta de jogar (Imagem: Arquivo Pessoal)

Já Seu Paulo diz que os games o mantém conectado com várias pessoas de diferentes idades, estados e até países. “Por eu ser mais velho, isso por si só já cria um certo respeito, mas você aprende com os mais novos também. Os jogos nos ajudam a nos mantermos mais próximos deles. Nos tornamos amigos e até confidentes, quando nos permitem. Também damos um puxão de orelha quando saem fora dos trilhos”.  

“Gameterapia” na saúde dos idosos

Além de ajudar no processo de socialização, de intercâmbio lúdico entre diferentes idades (como visto nos depoimentos da Lucimar e do Paulo), os jogos eletrônicos também podem ser usados em outras áreas comportamentais e até mesmo como terapia complementar em idosos.

Você já deve imaginar isso, mas os games são uma ótima forma de manter a mente ativa e isso não importando a idade. Quem explica melhor é Lívia Ciacci, bióloga e especialista em análises clínicas e diagnóstico por imagem, além de ter um mestrado em neurociência. Para a profissional de saúde, primeiramente é importante entender o que é mente ativa e por que os jogos podem ajudar nesse quesito.

“Se entendermos a mente ativa como o funcionamento adequado do cérebro, significa que ele está recebendo estímulos do ambiente, interpretando e gerando respostas físicas, emocionais e comportamentais. Nosso sistema nervoso desencadeia reações químicas baseado nos estímulos que recebeu, mas ele não sabe a diferença entre real ou imaginário. Para a mente, não há diferença planejar o ataque à base inimiga num jogo ou planejar a reunião de trabalho. Então, os videogames podem ajudar sim”, analisa a bióloga.

Lívia, que há 11 anos trabalha com o propósito de aproximar a neurociência das práticas educacionais e profissionais, hoje atua no método Supera – Ginástica para o cérebro, onde auxilia no embasamento teórico-científico da equipe pedagógica.   

Há casos em que os games também podem ser adaptados como atividade complementar em outros tratamentos, como a fisioterapia – por exemplo. Lívia defende que os jogos eletrônicos podem gerar resultados positivos até mesmo em processos de reabilitação de pessoas idosas.

Lívia Ciacci atua no método Supera e é mestre em neurociência (Imagem: Divulgação/Supera)

Ela narra ao Tecnoblog a seguinte situação:  

“Imagine dois idosos que precisam se recuperar de uma fratura. O primeiro comparece duas vezes por semana na clínica de reabilitação, faz 30 minutos dos exercícios seguindo a orientação do fisioterapeuta (…) e vai embora. A rotina de exercícios vai ficando meio monótona e ele não vê a hora de ter alta do tratamento.

O segundo tem a mesma rotina que o primeiro na clínica. Mas em casa, ele faz um alongamento e liga seu Kinect Xbox 360 e, às vezes, passa mais de uma hora aprendendo passos de dança ou vivendo aventuras no jet ski. Pensa em comprar outros jogos, mesmo depois que o tratamento acabar. Qual dos dois terá uma evolução mais rápida? O jogo alinhado ao tratamento tem diferenciais impactantes: aumenta o tempo de estímulo e inclui os fatores diversão e motivação!”

Já Ana Nakamura, citada no início deste artigo, também concorda com Lívia de que os jogos criam uma aliança benéfica quando aplicados como um extra aos tratamentos tradicionais para idosos. Segundo ela, “o jogo, além de ‘transportar’ o jogador ao mundo lúdico, pode dar leveza durante os períodos de tratamentos, sem esquecer dos cuidados necessários de acompanhamento e avaliação profissional”, pontua. 

“O jogo digital, nestes casos, pode estimular na questão de visualização ou representação de um movimento, auxiliando na autopercepção e no acompanhamento da melhora do jogador/paciente, seja através da pontuação nos jogos, ou em feedbacks positivos que games bem planejados oferecem”, complementa a pesquisadora.

Nakamura começou a pesquisar mais sobre jogos digitais e não digitais com idosos a partir de 2013, quando iniciou seu mestrado, e continuou estas análises no doutorado também. Ela conta que são mais de sete anos nessa temática, em teoria e prática. “Até 2020, eu atendia alunos particulares (de informática) e centros-dia públicos e privados em São Paulo, que oferecem serviços de cuidado aos idosos.”

Ana Nakamura ajudando um idoso no centro-dia a interagir com jogos (Imagem: Divulgação/Centro-dia do Idoso Angels4U)

A pesquisadora explica que os serviços de centro-dia atendem idosos com algum tipo de dependência física e/ou cognitiva. Tais atendimentos (presenciais e remotos) têm sido retomados gradualmente no Estado de São Paulo.

“Dominar o conhecimento sobre a utilização e benefício dos jogos (digitais ou não) é um diferencial para os profissionais da saúde e cuidado”, afirma Nakamura.

Ela conta algumas observações feitas durante seu trabalho:

“Atendi alguns jogadores que tinham, por exemplo, uma grande apatia (e demências diversas), que respondiam mais raramente a estímulos tradicionais, e nem sempre ocorriam respostas ou reações quando tentávamos uma conversa comum. Mas com os videogames e nos jogos analógicos, estas mesmas pessoas mostravam várias reações, como de surpresa, de compreensão do diálogo, de percepção e presença em espaço/tempo e etc.

Também observei muitas reações de alegria quando eles percebiam que estavam realizando e concluindo um desafio proposto aos demais de um grupo, ou seja, estavam percebendo que eram capazes como os demais e, com isso, as valiosas oportunidades de vínculos eram criadas.

Quando me viam, na semana seguinte, não lembravam meu nome (e isso de fato, não era relevante), mas de alguma forma me reconheciam, porque vivenciamos aqueles momentos de alegria, estando possivelmente mais receptivos para mais jogos, mais conversas e afetos.”

Lívia Ciacci acredita que os jogos são excelentes maneiras de estimular um estado mental explorador e curioso. “Os games ainda oferecem recompensas que irão reforçar a motivação para continuar e ‘passar mais uma fase’. O lúdico também contribui para potencializar a motivação dos idosos porque permite uma variação maior de estilos e pode ser personalizado aos gostos de cada um.”

Nakamura ajudando uma idosa no centro-dia a se divertir com games (Imagem: Divulgação/Centro-dia do Idoso Angels4U)

Para Nakamura, o jogo digital pode servir como um portal, um meio de experimentar e querer praticar com mais frequência exercícios físicos, por exemplo, e mais intensamente se esta “atividade lúdica” do jogo se transformar numa “experiência lúdica”. Ela diz: “quando o jogador entra num fluxo, esquecendo as preocupações e até algumas dores/incômodos físicos, ele se permite naturalmente a um ócio lúdico valioso.”

É importante salientar que, por mais que os jogos tenham essa capacidade de engajar diferentes gerações e criar um diálogo, por vezes difícil, entre pessoas mais velhas e jovens, nem tudo é sempre mágico e nem todos são sempre gentis, especialmente na internet. “Há idosos que são criticados por colegas e familiares enquanto jogam ou se divertem, como se este fosse um direito perdido na velhice”, lamenta Ana Nakamura.

Mas, felizmente, este não é o caso de uma youtuber de quase 70 anos, lá da Nova Zelândia…

Youtuber por acaso, RPG com certeza!

Gamer há quase uma década, Britta, a simpática jogadora e youtuber do Food4Dogs tem quase 70 anos e usa parte do tempo livre da sua aposentadoria para curtir um dos seus maiores hobbies: jogar videogame! Com mais de 84 mil inscritos em seu canal, onde faz unboxings e comenta sobre seus games preferidos, ela nasceu e cresceu na Alemanha, mas vive na Nova Zelândia há mais de 30 anos.

“Passei a me interessar muito por jogos eletrônicos e a jogar com regularidade ao pegar um PlayStation 3, em 2013,” relembra Britta ao Tecnoblog. “Eu me apaixonei por RPGs logo de cara e este é ainda o estilo que mais gosto. Mas eu curto bastante explorar outros gêneros também, como visual novels, jogos de aventura e puzzles”.

Britta tem um canal de games no YouTube chamado Food4Dogs (Imagem: Arquivo Pessoal)

Britta conta que como começou a se interessar por games há pouco tempo, todas as memórias que ela tem de momentos divertidos com o hobby são bem vívidas para ela. Mesmo assim, a jogadora fez questão de ressaltar que uma das suas maiores alegrias jogando foi quando terminou seu primeiro (e muito longo) RPG. “Há uma satisfação enorme em vencer os vários obstáculos da campanha e chegar até o final”, orgulha-se.

Sobre se tornar uma youtuber, Britta afirma que nunca planejou nada disso. “Ao conversar com outros youtubers de jogos, a maioria deles diz o mesmo! Você começa talvez apenas enviando um vídeo curto do seu telefone ou do seu console para compartilhar com alguns amigos. Daí te pedem para fazer mais e as coisas simplesmente viram uma bola de neve”, explica.

Britta toma conta sozinha do canal, mas tem um ajudante muito importante nas filmagens: “meu marido, que atua como cinegrafista em muitos dos meus unboxings.” Inclusive, ela diz que às vezes joga com o marido também. 

“Amamos jogos com estilo mais cinematográfico. Eles são ideais para compartilhar com outras pessoas. Normalmente, eles têm a duração de um filme (ou um pouco mais, mas ainda assim são fáceis de encaixar numa noite ou fim de semana). Sempre recomendo um jogo como esse para quem quer começar a explorar o mundo dos games”, ressalta.

Britta, “quase 70 anos”, youtuber do Food4Dogs

A youtuber da Nova Zelândia faz questão de mencionar que acredita que jogar é uma excelente atividade para estimular as habilidades cognitivas das pessoas e a qualquer idade. “Os jogos não são uniformes, nem todos funcionam da mesma maneira. Um jogador precisa aprender e se reajustar toda vez que inicia um novo jogo. Portanto, a flexibilidade mental é muito importante”, comenta. “Eu também acho que minha memória fica bem treinada, porque a maioria dos jogos exige que você retenha muitas informações enquanto joga.”

A senhora Food4Dogs também conta que já recebeu vários comentários em seu canal no YouTube. Muitos jovens ficam surpresos ao assistirem seus vídeos e descobrirem como ela gosta de games. “Sempre fico feliz em vê-los reajustar seus preconceitos. Mas, infelizmente, como youtuber, você também está exposto a reações ruins e bem hostis. Certa vez, uma pessoa me disse ‘você está velha! Saia da Internet!'”.

Britta gosta muito de RPG e também joga com o marido (Imagem: Arquivo Pessoal)

Mas o grande tapa na cara, com estilo e sem deixar o controle cair, que Britta dá nos haters é justamente continuar fazendo umas das coisas que mais gosta, que é jogar videogame e gravar seus vídeos, e ainda ganhando muitos fãs com isso. Afinal, quem não ama assistir a velhinhos fofinhos jogando?

Videogame tem idade? Com a palavra, os jogadores!

Acredito que se você leu até aqui já conseguiu descobrir a resposta para esta pergunta, mas nada melhor que deixar estes próprios jogadores, com seus mais de 60 anos (ou quase lá), falarem de uma forma mais intimista de suas próprias experiências ou mesmo darem um conselhos para outros idosos que ainda possam estar receosos de testar algum game.

O Seu Paulo é bem direto ao dizer “Vão ser felizes! Jogo não tem idade e faz muito bem.” Mas ele alerta também que é importante saber dosar para que algo que deveria ser muito bom não se torne estressante. E ele ainda manda um recado para o pessoal da idade dele que pensa em se aventurar em algum game: “jogue com seus filhos, netos, sobrinhos e, se não tiver, jogue sozinho mesmo. Você verá que não que não está sozinho nessa.”

“Eu aconselho a todos que dediquem umas horas do seu dia aos jogos, pois tenho certeza que se sentirão muito bem”, incentiva Lucimar Figo. “Mas esse passatempo deve ser sempre acompanhado de alguma atividade física, porque devemos cuidar do corpo e da mente”. A fã de Dota 2 comenta que os games permitiram que ela tivesse contato com pessoas diferentes de vários lugares. “Conheci pessoas muito interessantes nesses meus cinco anos de jogos, pessoas que se tornaram meus amigos e que eu não teria a oportunidade de conhecer se não jogasse.”

Claudio Almeida comenta que os videogames aproximam gerações e você deve se permitir aproveitar desses momentos sem nenhuma vergonha. “me sinto muito mais novo quando jogo. Acho que o lado lúdico é muito gostoso e fácil de curtir. E praticar é a forma mais certa para dar uma ‘surra’ nos netos, filhos e amigos”, brinca. 

Lucimar acredita que os jogos ajudam a aproximar famílias (Imagem: Arquivo Pessoal)

O empresário ainda deixa um recado para pais e jovens:

“Pais, não deixem de incentivar os seus filhos a jogar de forma saudável e sempre mantendo o diálogo. Molecada, maneirem um pouco nas horas em frente ao console ou PC e entendam os seus pais, eles podem não ver como é legal jogar, mas se vocês os convidarem para jogar juntos, acredito que na maioria das vezes eles irão gostar e querer repetir a dose.”

A youtuber Britta conta que os games têm uma grande variedade de estilos e sempre pode existir algum que combine com cada pessoa. “O negócio é não ser tímido. Tenha orgulho de gostar de um dos melhores passatempos! Encontre pessoas que pensam como você para desfrutar do seu hobby juntos.”

A senhora Food4Dogs também aconselha, caso alguma pessoa não saiba por onde começar, que peça a um amigo ou membro da família para mostrar o que eles gostam de jogar em seus PCs ou consoles. Assim será possível ter uma ideia do que possa te agradar mais.

A idade certa para jogar é a sua!

Particularmente, comecei nos games muito cedo. Tinha sete anos quando ganhei meu primeiro videogame: um Atari 2600. Nisso, lá se vão 30 anos e nunca mais parei de jogar, experimentar novos estilos, testar diferentes plataformas. Conheci pessoas incríveis, já tive que lidar com alguns seres tóxicos também (mas que sumiram rápido, porque não valem a pena), fiz dos games minha profissão e tenho certeza que continuarei jogando até quando a vida me permitir.   

Dito isso, concordo com cada informação dada pelas especialistas e também pelos depoimentos dos jogadores. Jogar videogames faz bem, se dosado com outras atividades da sua vida, e acredito que além da função mais direta desse meio (que é proporcionar entretenimento) eles também podem trazer mais alegria a situações que geralmente não são tão animadoras, como em alguma terapia de recuperação – por exemplo.

De qualquer forma, se dê uma chance para experimentar algo novo (se nunca jogou nada antes). Nunca é tarde demais para se divertir. E para terminar esse artigo, gostaria de deixar este depoimento final da simpática Britta, a nossa jogadora da Nova Zelândia:

“Para mim, os jogos oferecem uma experiência imersiva diferente de qualquer outra e eu encorajo a todos a experimentarem. Deixe-se levar por uma aventura épica; resolva alguns quebra-cabeças complicados; pule e deslize sobre obstáculos; pegue a espada e o escudo e lute contra os vilões. Existe um jogo por aí que tem o SEU nome, tenho certeza disso!”

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Escrito por

Vivi Werneck

Vivi Werneck

Ex-editora assistente

Vivi Werneck é especialista em games e trabalha no mundo tech há 15 anos. Em 2018, recebeu o Prêmio Comunique-se como melhor jornalista de tecnologia. Já escreveu para revistas de games pioneiras no Brasil, como EDGE, PlayStation Brasil e EGW. Também é veterana em eventos de jogos, como a BGS e E3 (inclusive, presencialmente). No Tecnoblog, foi editora-assistente entre 2018 e 2023.