Um computador do Google venceu um campeão mundial neste jogo chinês
Em duelo contra Lee Sedol, 18 vezes campeão, AlphaGo ganhou de lavada

Em duelo contra Lee Sedol, 18 vezes campeão, AlphaGo ganhou de lavada
Na madrugada desta quarta-feira (9), aconteceu um dos eventos mais importantes para a equipe do laboratório de inteligência artificial do Google, o DeepMind. Depois de ganhar do campeão europeu do jogo chinês Go por 5 a 0, o computador AlphaGo derrotou o campeão mundial do jogo, Lee Sedol.
A partida estava marcada há alguns meses e durou pouco mais de três horas. No Go, o jogador precisa cercar as peças do oponente em um tabuleiro de 19×19 quadros apenas colocando as bolinhas em fileira. Sedol joga Go desde os 12 anos e já foi campeão mundial 18 vezes.
Ainda que o AlphaGo não tenha perdido nunca, o cenário era incerto. Conseguiria o computador do Google derrotar um jogador lendário de Go? Agora sabemos que sim. Antes, nem o próprio Sedol sabia. À Associated Press, ele disse que não achava que perderia o jogo.
“Achei que o AlphaGo teria dificuldades logo no começo do jogo, mas fiquei surpreso em ver como a partida se desenrolou”, disse ao jornal britânico The Guardian. Sedol também relatou que o computador jogou perfeitamente e que o movimento final, em que AlphaGo cravou a vitória, não poderia ser feito por humanos.
Como aponta o jornal britânico The Guardian, que acompanhou a partida desde o começo, o comentarista da partida descreveu o resultado como um choque. No streaming, que pôde ser acompanhado aqui, chegaram a observar Sedol um tanto quanto abalado.
Apesar da derrota, ele disse à AP não se arrepender de ter aceitado o desafio. “Eu me diverti muito jogando com o Go e estou ansioso para os próximos jogos”, disse. Todas as outras partidas começam à 1h da manhã dos próximos dias, se estendendo até quarta-feira (16).
Demis Hassabis, presidente do DeepMind, considerou o momento histórico e disse estar muito feliz com o desempenho do computador no Go. A premissa do jogo é simples, uma vez que o jogo surgiu há mais de 3 mil anos na China, mas não é tão fácil para um computador quanto parece.
Com uma área disponível tão grande, o jogador tem 200 opções por jogada, contra 20 no xadrez, que tem uma área de 8×8. Computadores com inteligência artificial já dominaram jogos como o próprio xadrez, damas, Monopoly e até o Detetive, mas o princípio é diferente.
Como aponta o The Verge, os jogos citados acima são baseados num algoritmo que analisa todas as opções possíveis e pensa em um movimento, como em uma busca por força bruta. No Go, pela quantidade de saídas possíveis, isso não pode ser feito. O jogo tem 10171 posições possíveis, maior até que a quantidade de átomos no universo (!). Só para comparar, o xadrez tem 1050.
Movimentos possíveis em cada jogada do Go.
Então eles recorreram à aprendizagem de máquina e redes neurais artificiais, que criam camadas de ação. Esquematizadas na imagem acima, elas tornam possível o pensamento simultâneo sobre as jogadas. Por exemplo: uma decide o próximo movimento enquanto outra tenta prever o ganhador do jogo. Trabalhando juntas, elas conseguem simular a intuição humana.
Nessa linha de pensamento, o computador não precisou aprendeu todos os movimentos, e sim foi treinado a pensar por si mesmo e em como ele pode derrotar o oponente. E, afinal, ele conseguiu derrotar quem foi campeão mundial do Go por 18 vezes (!). Além de ser um grande marco para a DeepMind, acredito que seja uma grande vitória para a inteligência artificial em si (o que chega a ser fascinante e assustador ao mesmo tempo).
Como expliquei aqui, esse feito foi graças a um treinamento intensivo do AlphaGo. Antes de começar a jogar propriamente, ele analisou mais de 30 milhões de movimentos realizados por outros jogadores, além de vencer 494 jogos contra outros computadores, o que foi imprescindível para seu aprendizado.
E, depois de ganhar de lavada de Fan Hui, campeão europeu do jogo, ele também fez 5 a 0 contra o campeão mundial de Go. Lee Sedol foi descrito por Hassabis como “o Roger Federer do Go” e é um jogador que praticamente dedicou à sua vida ao jogo, treinando desde os 12 anos.
Até a próxima terça-feira (15), no fuso horário coreano, para testar ao máximo as habilidades do AlphaGo, o computador vai duelar com Sedol mais quatro vezes. Depois de todas essas surpresas e conquistas para a inteligência artificial, a questão que fica é: seria o AlphaGo invencível? Até agora, tudo indica que sim.
Com informações: 9to5Mac.