Spotify tenta sair de polêmica das fake news em podcasts sobre COVID-19

Spotify anunciou mudanças após podcast famoso espalhar desinformação sobre COVID-19, mas não baniu episódios problemáticos

Emerson Alecrim
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Aplicativo do Spotify (Imagem: Emerson Alecrim/Tecnoblog)

Depois que um podcast hospedado no Spotify espalhou fake news sobre COVID-19, a plataforma vem sendo pressionada a combater esse tipo de conteúdo. A manifestação mais marcante veio de Neil Young, que tirou as suas músicas do serviço como forma de protesto. Deu resultado: Daniel Ek, CEO e cofundador do Spotify, prometeu mudanças no serviço. Apesar disso, a polêmica está longe do fim.

Afirmações infundadas sobre COVID-19

Conteúdo com desinformação não é um problema inédito no Spotify. No entanto, o assunto ganhou escala depois que, no fim de 2021, Joe Rogan publicou um episódio de seu podcast que trouxe Robert Malone como convidado.

Talvez você nunca tenha ouvido falar desses nomes, mas, pelo menos nos Estados Unidos, ambos são muito conhecidos. Joe Rogan é um podcaster que registra, em média, 11 milhões de ouvintes por episódio. Tamanho alcance teria feito o Spotify pagar cerca de US$ 100 milhões a Rogan para o seu podcast ser exclusivo da plataforma, embora a companhia nunca teve confirmado esse valor.

Já Robert Malone é um cientista que afirma ter ajudado a desenvolver a tecnologia de mRNA (RNA mensageiro) que é usada, por exemplo, na vacina da Pfizer contra a COVID-19.

Nunca houve comprovação de que Malone tenha participação do desenvolvimento dessa tecnologia. De todo modo, ele se tornou um crítico do mRNA. No podcast de Rogan, Malone fez diversas afirmações infundadas sobre a COVID-19, como a de que o presidente Joe Biden teria ocultados informações de que a ivermectina é válida no tratamento da doença (não é).

Não é a primeira vez que Rogan abre espaço em seu podcast para falas negacionistas sobre a COVID-19. Em um dos episódios anteriores, ele chegou a não recomendar a vacinação para pessoas saudáveis.

Dado o alcance que o podcast de Joe Rogan tem, um grupo com cerca de 270 médicos, enfermeiros, cientistas e educadores enviou uma carta aberta ao Spotify pedindo que a plataforma assuma a “responsabilidade de mitigar o espalhamento de desinformação”.

A carta foi publicada dias após o episódio com Malone. O Spotify não tomou nenhuma providência, mas as manifestações pedindo providências começaram a se intensificar.

Talvez o Spotify estivesse esperando o assunto cair no esquecimento. Mas, na segunda-feira passada (24), o protesto de um artista causou o efeito contrário: o cantor Neil Young prometeu remover as suas músicas da plataforma se o podcast de Joe Rogan não fosse banido.

Não obtendo retorno, Young cumpriu a promessa e foi seguido por outros artistas, a exemplo da cantora Joni Mitchell. Desde então, também há usuários abandonando o serviço como forma de boicote.

Toda essa movimentação fez, na última semana, o Spotify perder mais de US$ 2 bilhões em valor de mercado.

Spotify prometeu agir, mas…

Em postagem veiculada no site do Spotify no último domingo (30), Daniel Ek reconheceu que a plataforma precisa de uma revisão na aplicação de suas regras de conteúdo:

Nós temos regras em vigor há muitos anos, mas reconhecidamente não fomos transparentes com relação às políticas que guiam nosso conteúdo de maneira mais ampla. Isso, por sua vez, levou a perguntas sobre a aplicação das regras a problemas sérios, incluindo a COVID-19.

Com base nisso, o CEO do Spotify anunciou a publicação e revisão das regras de conteúdo do serviço. Ainda de acordo com o executivo, essa política foi desenvolvida em parceria com especialistas e deverá ser seguida por todos os produtores de conteúdo, razão pela qual está sendo traduzida para vários idiomas.

Além disso, o Spotify exibirá, em breve, avisos em conteúdos sobre COVID-19 que levam a um hub de informações confiáveis sobre a doença — provavelmente, esse mecanismo será semelhante aos que são adotados pelo Facebook e o YouTube.

Por fim, Ek prometeu testar novas maneiras de destacar as regras da plataforma nas ferramentas de criação e edição de conteúdo do Spotify “para aumentar a conscientização sobre o que é aceitável e ajudar os criadores a entender a sua responsabilidade pelo conteúdo publicado em nossa plataforma”.

São medidas bem-vindas, mas que não devem pôr fim à polêmica, afinal, o conteúdo controverso de Joe Rogan continua disponível no Spotify. Daniel Ek nem chegou a mencionar o assunto em seu comunicado.

A resistência a medidas mais enérgicas pode ter explicação na importância que o Spotify dá aos podcasts: para a plataforma, esse tipo de conteúdo é um diferencial, não só pela oferta de programas exclusivos (no casos em que há contratos de exclusividade, obviamente), mas também pelo potencial de receita com anúncios que podcasts podem trazer, principalmente os de amplo alcance.

Em seu perfil no Instagram, Rogan tentou amenizar o assunto dando a entender que o seu podcast, por dar abertura a convidados com opiniões diferentes da convencional, acaba sendo controverso às vezes.

O podcaster também disse acreditar que os episódios problemáticos não trazem desinformação, mas concordou com as mudanças anunciadas pelo Spotify e disse estar aberto a formas de melhorar o seu podcast.

Com informações: Mashable, The Verge.

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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