Projeto de Bolsonaro contra tomada de três pinos é “retrocesso”, diz Abinee
Governo de Jair Bolsonaro quer acabar com a exigência da tomada de três pinos; Abinee vê retrocesso na prevenção de acidentes
Governo de Jair Bolsonaro quer acabar com a exigência da tomada de três pinos; Abinee vê retrocesso na prevenção de acidentes
A Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica) se opõe ao projeto do governo Jair Bolsonaro para acabar com a exigência da tomada de três pinos: a entidade diz que o retorno ao padrão anterior traria mais custos à população e seria um “retrocesso” na prevenção de acidentes. A média anual de mortes por choque elétrico passou de 1.500 para 600 com o padrão exigido pelo Inmetro.
“O retorno à situação anterior representa um retrocesso na prevenção de acidentes. Além disso, a mudança já foi assimilada pelo consumidor e uma alteração agora traria ônus à população”, diz a Abinee em comunicado. A entidade representa os setores elétrico e eletrônico de todo o Brasil.
A tomada de três pinos acabou como “vilã” porque, sendo mais cara, ela se tornou obrigatória na reforma e construção de imóveis. Além disso, os plugues novos exigem um adaptador para funcionarem em tomadas antigas; há quem prefira arrancar o terceiro pino.
A ideia do governo não é acabar de vez com a tomada de três pinos, e sim acabar com sua exigência — isto é, torná-la opcional. Dessa forma, seria mais fácil importar produtos legalmente dos EUA e de outros países: a lei atual exige que os plugues sejam adaptados para o padrão brasileiro.
Após pressão do governo, o Inmetro emitiu uma nota técnica dizendo ser “tecnicamente viável a disponibilidade de outro padrão internacional de tomada”. Para o órgão, é possível “flexibilizar a adoção de outro padrão de tomada preferido pelo consumidor, de acordo com a melhor aderência aos plugues de seus equipamentos eletroeletrônicos”.
No comunicado, a Abinee aponta algumas vantagens da tomada de três pinos. Seu design evita choques elétricos, porque é mais difícil tocar acidentalmente nos pinos ao encaixar o plugue. Isso era mais comum nas tomadas antigas e planas; o modelo atual possui uma reentrância.
E, desde 2010, toda nova edificação — seja casa ou prédio — tem que incluir um sistema de aterramento. Isso permite que o terceiro pino cumpra sua função: servir como “fio terra” e eliminar quaisquer excessos de energia acumulada. Isso protege equipamentos contra picos de energia e raios, além de ajudar a evitar choques.
De acordo com a Abinee, houve uma média anual de 1.500 acidentes fatais provocados por choques elétricos entre 2000 e 2010, antes da tomada de três pinos. Em 2018, esse número caiu para 622 casos, segundo estatísticas da Abracopel (Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade).
Entre 2013 e 2018, ocorreram 3.657 mortes por choque elétrico, ou uma média de 1,67 a cada dia. Elas se concentravam na faixa etária de 21 a 40 anos, que representa quase a metade do total de vítimas no período. É um número alto, mas tende a diminuir “com a construção de novos edifícios com padrão brasileiro de plugues e tomadas”, defende a Abinee.
A Abinee diz que a tomada de três pinos foi implementada após “uma ampla discussão que remonta à década de 1990”, e foi escolhida porque “80% dos aparelhos elétricos à época eram atendidos pelo novo padrão”.
Há dois problemas aí: a tomada de três pinos é compatível com plugues antigos, mas o inverso não é verdadeiro. O plugue de três pinos exige um adaptador, ou a troca da tomada, ou a retirada do terceiro pino. Ele está presente em TVs, notebooks, geladeiras, fogões, micro-ondas e outros. (Aparelhos com dupla isolação, como barbeadores e carregadores de celular, usam plugue de dois pinos.)
E o mais importante: muita gente foi pega de surpresa em 2011 quando a tomada de três pinos se tornou obrigatória. Mesmo que a decisão do Inmetro tenha sido feita em 2000, com um longo cronograma de implementação, isso não foi muito bem comunicado à sociedade.
Ou seja, nós vimos com muito mais intensidade as desvantagens da tomada de três pinos, em vez dos benefícios à segurança. Isso deixou um gosto amargo e trouxe consequências que ressoam até hoje; é por isso que o governo sugere acabar com a exclusividade desse padrão no Brasil.
Agora é ver se o projeto realmente vai avançar. Para flexibilizar a tomada de três pinos, é necessário convocar uma reunião do Conmetro, conselho que reúne nove ministros e presidentes do Inmetro, ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), IDEC (Instituto de Defesa do Consumidor) e outras entidades.
Com informações: Convergência Digital.
Leia | Como proteger equipamentos eletrônicos durante tempestades