Adoção de criptomoedas no Afeganistão pode reforçar domínio do Taliban

Criptomoedas ajudam povo afegão em tempos de crise econômica e política, mas autoridades globais se preocupam com o uso da tecnologia pelo Taliban para se fortalecer

Bruno Ignacio
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• Atualizado há 11 meses

Em um Afeganistão tomado pelo Taliban, o uso de criptomoedas disparou conforme a população do país busca maneiras para lidar com a grave crise econômica. Porém, enquanto analistas de mercado e comerciantes afegãos veem a tendência como esperançosa para uma economia cheia de problemas, autoridades globais de segurança se preocupam como essa tecnologia poderia favorecer o grupo extremista religioso.

As criptomoedas foram se tornando cada vez mais presentes no país. A tecnologia financeira descentralizada é vista pelos afegãos como uma alternativa segura para alocar seu dinheiro e realizar transações durante o domínio autoritário do Taliban. Além disso, governos ocidentais, banco e empresas cortaram o acesso a formas de financiamento no país.

Criptomoedas beneficiam população afegã

Nesse cenário, as criptomoedas passaram a oferecer ao povo afegão algum respiro em meio a uma crise econômica que se agrava cada vez mais em durante o caos político. Porém, as autoridades globais se preocupam que essa tendência também chame a atenção do Taliban.

Conforme disseram alguns funcionários e especialistas de segurança ao Wall Street Journal, se o grupo extremista adotar, por exemplo, o bitcoin (BTC) como parte de uma política econômica nacional, eles poderiam driblar parcialmente os esforços do ocidente para suprimir suas atividades através de sanções e outras formas de repressão.

Protesto contra violência no Afeganistão em Londres (Imagem: Ehimetalor Akhere/ Unsplash)
Protesto contra violência no Afeganistão em Londres (Imagem: Ehimetalor Akhere/ Unsplash)

Até o momento, o governo do Afeganistão, agora sob o controle do Taliban, não tomou nenhuma posição sobre o uso de criptomoedas e tampouco respondeu a pedidos de comentários da mídia internacional.

Somente nos últimos meses o Afeganistão saiu da posição 154 para 20 no ranking de países do Global Crypto Adoption Index de 2021, que analisa o nível de atividade com moedas digitais no mundo todo.

Empresas de câmbio de criptomoedas afirmaram ao Wall Street Journal que houve uma relação direta entre a saída dos Estados Unidos do Afeganistão e o avanço do Taliban com o volume de moedas digitais transacionado pelos afegãos.

Entre o final de julho e início de agosto, à medida que a dominação do Taliban se tornava mais provável, o banco central do país retirou suas reservas de seus cofres, os EUA suspenderam a entrada de notas de dólar e os bancos impuseram controles de capital.

Uma desvalorização subsequente do Afghani, a moeda oficial do país, acelerou-se após a tomada de Cabul. As instituições financeiras ocidentais congelaram as transações internacionais, a ajuda estrangeira acabou, os bancos fecharam e funcionários do governo, incluindo o presidente do banco central, fugiram do país.

Taliban pode se fortalecer e driblar sanções

Taliban poderia driblar sanções com criptomoedas (Imagem: Tumisu/Pixabay)
Taliban poderia driblar sanções com criptomoedas (Imagem: Tumisu/Pixabay)

As sanções contra o Taliban devem continuar a obstruir o financiamento convencional, tanto do setor privado quanto de fontes de assistência internacional, afirmaram atuais e ex-funcionários ocidentais. Mas a capacidade das plataformas de criptomoedas de fazer transações de grande valor sem a mediação de bancos pode ajudar a desobstruir os principais fluxos transfronteiriços de capital.

Dito isso, enquanto as criptomoedas vêm ajudando o povo afegão a lidar com as crises econômica e política que assolam o país, o mundo todo se preocupa em como lidar com o Taliban se a organização começar a migrar suas finanças para para o sistema ou usar dessa tecnologia para driblar as sanções impostas, consequentemente fortalecendo sua presença e força no país.

“O Taliban pode recorrer a criptomoedas se as sanções dos EUA avançarem e o Afeganistão continuar isolado das finanças internacionais”, disse Richard Goldberg, ex-funcionário do Conselho de Segurança Nacional do governo Trump, agora na Fundação para Defesa das Democracias, ao Wall Street Journal.

Com informações: Wall Street Journal

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Bruno Ignacio

Ex-autor

Bruno Ignacio é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Cobre tecnologia desde 2018 e se especializou na cobertura de criptomoedas e blockchain, após fazer um curso no MIT sobre o assunto. Passou pelo jornal japonês The Asahi Shimbun, onde cobriu política, economia e grandes eventos na América Latina. No Tecnoblog, foi autor entre 2021 e 2022. Já escreveu para o Portal do Bitcoin e nas horas vagas está maratonando Star Wars ou jogando Genshin Impact.

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