Como picuinhas políticas estão atrapalhando o desenvolvimento de startups
Quando os membros do SEED, aceleradora de startups sediada em Belo Horizonte, chegaram ao local de trabalho na última segunda-feira (30), tiveram uma baita surpresa. E não foi das boas:
Seria ótimo se fosse apenas uma brincadeira de primeiro de abril antecipada. Não era.
A SEED (Startups and Entrepreneurship Ecosystem Development) é um programa de aceleração de ideias e está localizado no San Pedro Valley, em Belo Horizonte. Feita para “pessoas com brilho nos olhos, que sonham alto e querem fazer acontecer”, como consta no site oficial, o programa foi criado em 2013 pelo então governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSDB).
O programa era internacionalmente reconhecido como uma das mais importantes iniciativas de desenvolvimento do empreendedorismo no Brasil, sendo responsável por fomentar as ideias de 73 companhias de 12 países, que juntas faturavam R$ 23 milhões, gerando 145 empregos.
Entre os benefícios do programa estavam 40 mil dólares por equipe, um escritório compartilhado incrível, treinamentos, workshops, rede de empreendedores, parceiros, investidores… soa maravilhoso, não? E realmente era. Era.
O programa começou a ser reavaliado no início de 2015, quando Fernando Pimentel (PT) tomou posse como governador. A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede) – para a qual o SEED foi subordinado neste ano – negou que o programa estaria em risco e que a reavaliação fazia parte de um amplo processo feito pelo governo para avaliar as iniciativas e políticas públicas criadas pelo último governo.
Apesar disso, diversos empreendedores foram surpreendidos com um recado no Facebook dado por uma ex-gestora: “Caros empreendedores, venho informar a todos que, infelizmente, a partir de amanhã o escritório compartilhado do SEED estará fechado. Sinto muito por avisá-los em cima da hora, mas ficamos esperando definições que até o presente momento não chegaram.” Segundo nota do governo, um “fechamento temporário”, mas sem garantias de que o programa irá retornar.
Yuri Gitahy, fundador da Aceleradora e ex-membro do conselho que participou da criação do SEED, publicou alguns tweets que dizem muito sobre o descaso pelo qual o programa foi submetido. Ele afirma que se demitiu do cargo de conselho depois de não ser consultado sobre nenhuma recente decisão do programa. Mas que… bem, não havia a quem informar sua decisão:
O Estadão menciona que pode haver uma disputa pelo controle do programa entre Miguel Corrêa (PT), Secretário de Ciências e Tecnologia de Minas Gerais, e Altamir Rôso (PMDB), Secretário de Desenvolvimento. A informação foi negada.
Mas o que importa é: no presente momento, startups estão sem seus escritórios. Imagine chegar ao seu local de trabalho, aonde diariamente você se esforça para que suas ideias e sonhos aconteçam, e ele simplesmente está fechado. Desesperador. No entanto, como menciona Leandro Faria, o San Pedro Valley continua forte e ativo em Belo Horizonte. E melhor: sem depender do suporte do governo.
E que aquele “brilho nos olhos” que a descrição oficial do SEED menciona retorne logo aos olhos de quem o encontrou fechado. Boas ideias são muito mais fortes que o descaso e picuinhas governamentais. Façamos elas acontecerem.