EUA pedem que Apple crie brecha para acessar arquivos protegidos nos iPhones

Criptografia do iOS poderia ser facilmente quebrada se Apple atender à demanda. Tim Cook não curtiu.

Paulo Higa
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• Atualizado há 2 semanas
iPhone 6s

A Apple publicou na noite desta terça-feira (16) uma carta aberta assinada por Tim Cook para se opor publicamente a uma demanda do governo dos Estados Unidos, que pede à empresa para desenvolver uma brecha na tecnologia de criptografia de dados do iOS. Com a falha proposital, as autoridades poderiam acessar informações protegidas nos iPhones de cidadãos que estiverem sendo investigados.

A história começou com o tiroteio ocorrido em 2 de dezembro de 2015, durante uma festa em San Bernardino, na Califórnia, quando 14 pessoas foram mortas e 22 seriamente feridas. O FBI pediu que a Apple fornecesse as informações que tinha dos terroristas, o que foi prontamente atendido, segundo a empresa, que afirma “não ter simpatia por terroristas”.

No entanto, o governo passou a exigir que a Apple desenvolva um backdoor para o iPhone. “Para ser mais específico, o FBI quer que nós criemos uma nova versão do sistema operacional do iPhone, burlando vários recursos importantes de segurança, e o instalemos em um iPhone obtido durante a investigação. Nas mãos erradas, esse software — que não existe hoje — teria o poder de desbloquear qualquer iPhone em posse de alguém”, diz Cook.

Isso abriria um precedente ruim. Se a Apple atender à exigência do governo americano, outras fabricantes de smartphones poderiam ser obrigadas a incluir brechas em seus softwares. Além disso, os desenvolvedores precisariam adaptar seus aplicativos para que o governo burlasse a criptografia. Ou seja, teríamos uma série de falhas de segurança propositais em cascata.

Tim Cook não está nada feliz com a solicitação: “o governo pode argumentar que a utilização [da brecha] seria limitada a esse caso, mas não há nenhuma maneira de garantir tal controle”, diz o CEO. E completa: “no mundo físico, isso seria o equivalente a criar uma chave mestra, capaz de abrir centenas de milhões de fechaduras, de restaurantes e bancos a lojas e casas. Nenhuma pessoa razoável acharia isso aceitável”.

Tim Cook não curtiu.
Tim Cook não curtiu.

Ele defende que criar um backdoor no iOS seria um passo atrás no que a indústria defende, e que isso não resolveria o problema. “Durante anos, criptografistas e especialistas em segurança nacional vêm alertando contra o enfraquecimento da criptografia. Fazer isso prejudicaria apenas os cidadãos de bem e dentro da lei, que confiam na Apple para proteger seus dados. Criminosos continuariam criptografando, usando ferramentas que estão prontamente disponíveis para eles”.

A Apple tem cinco dias para responder — e, considerando o tom da carta de Tim Cook, é muito provável que a empresa não cumpra a determinação. Esse caso pode abrir uma série de precedentes com relação à privacidade e criptografia de dados, não apenas nos Estados Unidos, mas no mundo inteiro.

Vamos acompanhar os próximos episódios.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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