A edição 2016 da conferência F8 foi realizada nesta semana e, nela, o Facebook deixou bem claro que continua levando a sério a ideia de fornecer acesso à internet ao máximo possível de lugares. A companhia desenvolve vários projetos para esse fim, como o gigantesco drone Aquila. Mas um dos que foram detalhados no evento é o Facebook Terragraph, que visa criar uma rede sem fio de altíssima velocidade para conectar cidades.
O Facebook vem testando a tecnologia há algum tempo em seu campus na Califórnia. Ali, a companhia já conseguiu atingir velocidades de transmissão de dados superiores a 1 Gb/s (gigabit por segundo). O plano atual é testar as transmissões na região central da cidade de San José, também na Califórnia, e posteriormente fazer o mesmo em outras partes do mundo.
Qual o segredo do Terragraph para velocidades tão altas? Bom, o projeto é baseado em uma tecnologia de rede sem fio apoiada por vários gigantes da indústria, como Samsung, Intel, Sony e Qualcomm: o WiGig.
Relativamente novo, esse padrão é capaz de permitir conexões com velocidade de até 7 Gb/s. Taxas tão elevadas são possíveis, entre outros fatores, graças à frequência de 60 GHz do WiGig. Em contrapartida, essa frequência tem uma séria limitação: ela é facilmente suscetível a bloqueios por obstáculos — é bem difícil fazer o sinal atravessar paredes, por exemplo.
Para superar esse problema, o Facebook quer aliar o WiGig a outras ideias. Uma delas é a integração da tecnologia com um software de gerenciamento de rede — esse sim desenvolvido pelo Facebook — capaz de distribuir o tráfego de dados de modo inteligente para evitar sobrecarga ou gargalos.
Outro plano é a distribuição de várias antenas ou pequenos pontos de transmissão de sinal pela cidade. Várias mesmo: eles podem ficar em postes de iluminação e em semáforos, por exemplo. O objetivo é deixar as antenas bem próximas umas das outras, com distâncias entre 200 e 250 metros — o máximo suportado pelo WiGig.
Essa combinação do WiGig com outros recursos é que constitui o projeto Terragraph. O Facebook não detalhou como o sinal provido pela rede poderá ser levado para o interior de prédios e residências, mas esse não parece ser um problema de difícil resolução: podemos pensar em receptores ligados por cabo ao roteador de uma rede Wi-Fi interna, por exemplo.
Dificuldade mesmo o Facebook terá para diminuir o risco de instabilidade nas transmissões. Caminhões, ônibus e até mesmo grandes aglomerações de carros poderão interferir no sinal. Ben Zhao, especialista em redes de grande alcance da Universidade da Califórnia, explicou ao MIT Technology Review que as antenas terão que “rastrear” de maneira muito precisa os dispositivos conectados para que problemas do tipo não ocorram.
Se considerarmos a dinâmica que os centros urbanos têm, esse é um desafio bem grande, mas a distribuição inteligente de antenas deve ajudar nesse aspecto. De todo modo, as próximas rodadas de testes dirão se o Facebook terá sucesso com o Terragraph.
Não está nas intenções da companhia gerar receita com essa tecnologia, não de modo direto. Se o projeto for bem-sucedido, o Terragraph deverá ser licenciado gratuitamente a provedores e outras empresas do ramo. Ao tornar viável redes de grande velocidade, o Facebook poderá trazer mais gente para os seus serviços ou até mesmo ampliar os seus segmentos de atuação — a companhia está muito focada em realidade virtual, por exemplo, mas aplicações do tipo são mais interessantes com internet rápida.
Project ARIES
Até regiões rurais estão sendo consideradas. Outro projeto de conectividade que o Facebook abordou na F8 é o ARIES (Antenna Radio Integration for Efficiency in Spectrum), tecnologia que promete levar transmissões de áreas urbanas para pontos no entorno que estejam a uma distância de até 40 quilômetros.
Como? Em resumo, o Project ARIES é uma plataforma de transmissão que, no atual estágio, trabalha com 96 antenas para aumentar em até dez vezes a eficiência energética e espectral de redes 4G convencionais. Essa também é uma iniciativa bem desafiadora, afinal, todo o trabalho está sendo feito com foco em uma meta bem ousada: o ARIES tem que dar certo sem, no entanto, exigir grandes gastos com a sua implementação.