FBI vendeu Google Pixel modificado para rastrear criminosos

Em operação para capturar 800 criminosos, FBI se aliou a polícias internacionais e vendeu Google Pixel 4a com recursos para atrair suspeitos, mas com “surpresa”

Pedro Knoth
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• Atualizado há 2 anos e 4 meses
FBI usou Google Pixel 4a para prender suspeitos (Imagem: Edwin Chow/ Flickr)
FBI usou Google Pixel 4a para prender suspeitos (Imagem: Edwin Chow/ Flickr)

Google Pixels modificados foram responsáveis por pelo menos 800 prisões por polícias na Europa e na Austrália. No centro da estratégia está o FBI, agência de inteligência e investigação americana, que vendeu os aparelhos Android com um software mensageiro que prometia guardar segredo sobre as conversas de suspeitos, mas que na verdade os levava direto às autoridades.

FBI atraiu criminosos usando recurso de embaralhar PIN

Uma das parceiras do FBI na operação que plantou iscas em forma de celulares foi a Polícia Federal da Austrália (AFP). Ela vendeu um Google Pixel 4a que abria um software próprio, desenvolvido pelos investigadores. A operação foi revelada nesta sexta-feira pela Vice.

A operação foi revelada nesta sexta-feira pela Vice, que teve acesso ao Pixel 4a modificado. O celular aparenta ser comum por fora, mas navegando pela interface, é possível ativar recursos que o tornam atraente a qualquer um prestes a cometer crimes pela internet.

Uma das funções do software próprio, chamado de “ArcaneOS 10”, é um sistema que embaralha a chave PIN necessária para acessar o aparelho. Isso mascara a senha acessada pelo usuário por quem o observa. Outro recurso é um botão de “apagar” todos os dados do Google Pixel.

Mensageiro falso era monitorado pelo FBI

Uma senha PIN que serve como isca abre o menu principal. Nele, a pessoa vê aplicativos normais a qualquer celular, como Netflix, Android Store, Candy Crush, Facebook e Instagram. Mas nenhum deles funciona. Ao colocar o PIN correto, são abertos três apps: uma calculadora, um relógio e Preferências do Sistema — não há opção de desabilitar rastreamento por localização, ao contrário de gadgets comuns.

A artimanha é complexa: ao realizar um cálculo específico usando a calculadora do Pixel 4a, o usuário tem acesso ao Anon, um mensageiro criptografado adotado pelo FBI para flagrar criminosos que costuma usar softwares do tipo.

Claro, ele nunca foi sigiloso. Agências e polícias ao redor do mundo que colaboraram com o FBI na operação apanharam 27 milhões de mensagens em mais de 11.800 aparelhos monitorados – como o Pixel 4a vendido pela polícia australiana.

Google Pixel 3a também foi usado na operação do FBI

A investigação sigilosa começou há 18 meses — bem antes do lançamento do Pixel 4a. Sem o modelo atual, os investigadores usaram o dispositivo da geração anterior: a Vice descobriu um Pixel 3a com o Anon instalado. Por enquanto, não se sabe se outros modelos de celular foram usados, muito menos de outras marcas.

O pavor de usuários que percebem que pegaram um Pixel 4a modificado por uma das principais agências de investigação do mundo levou a uma histeria em sites de compra por leilão. Quem adquiriu o aparelho está vendendo por um preço muito menor do que comprou.

Quem dá as ofertas acha que vai ganhar um celular de última geração do Google, mas só então se depara com um aparelho inutilizável. Ele não tem Play Store ou sequer opção de instalar o ROM para Android; em vez disso, há policiais acompanhando cada passo do usuário.

Com informações: Vice e 9to5Google

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Pedro Knoth

Pedro Knoth

Ex-autor

Pedro Knoth é jornalista e cursa pós-graduação em jornalismo investigativo pelo IDP, de Brasília. Foi autor no Tecnoblog cobrindo assuntos relacionados à legislação, empresas de tecnologia, dados e finanças entre 2021 e 2022. É usuário ávido de iPhone e Mac, e também estuda Python.

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