Se você é fã de videogame provavelmente sabe que a história do PlayStation remonta a uma parceria fracassada entre Nintendo e Sony. Esta última lançaria um console que seria compatível com cartuchos do Super Nintendo e jogos em CD. Será que o projeto realmente existiu? Pois bem, nesta semana, um usuário do Reddit publicou fotos de um suposto protótipo do dispositivo encontrado em uma caixa.
No final da década de 1980, a Nintendo enfrentava um dilema. Os CDs começavam a aparecer como uma nova promessa da indústria, mas desenvolver um console compatível com o novo tipo de mídia poderia minar os planos que a companhia tinha para o SNES (Super Nintendo).
Por outro lado, empresas como 3DO e Sega estavam se preparando para lançar consoles baseados em CD. Como isso também configurava uma ameaça, a Nintendo decidiu agir. Foi aí que surgiu o acordo com a Sony — era necessário ter apoio de uma companhia que conhecesse bem a tecnologia.
Pelo o que se sabe, a parceria resultaria no lançamento do SNES-CD, acessório que adicionaria ao Super Nintendo a capacidade de executar CDs. Mas, paralelamente, a Sony trabalhava no Super Disc, um console de fato, mas com poder de rodar títulos do Super Nintendo e jogos em discos.
Ambos os projetos nunca foram lançados oficialmente, a despeito da informação de que o Super Disc — ou Play Station, assim, separado — teria chegado a ter 200 unidades produzidas, além de vários protótipos.
Aparentemente, uma dessas unidades é que foi encontrada pelo usuário do Reddit — no Imgur, onde as imagens foram hospedadas originalmente, ele se identifica como DanDiebold. O autor da postagem explicou que seu pai trabalhava em uma empresa que faliu. Na ocasião, ele pegou uma caixa que deveria ter sido jogada no lixo e, ao conferir o que havia dentro, decidiu ficar com ela.
Ali dentro estava o console, que provavelmente foi parar lá porque o pai de DanDiebold trabalhava com um indivíduo que prestava serviço para a Nintendo — um tal de Olaf (seria Olaf Olafsson, que em 1991 se tornou CEO da Sony Interactive Entertainment?).
DanDiebold reencontrou a caixa e decidiu compartilhar as fotos do “tesouro”. O dispositivo está amarelado, mas tem quase todas as características que aparecem nas poucas imagens de divulgação do Play Station, como um pequeno display LCD, controle para reprodução de mídia e um botão “Eject” grande.
As fotos também mostram um joystick com design idêntico ao que foi desenvolvido para o Super Nintendo (o controle com botões coloridos acompanhava o Super Famicom, a versão japonesa do SNES), mas com os dizeres “Sony” e “PlayStation”.
Há discussões sobre a veracidade da descoberta. Para reafirmar que não se trata de uma fraude, DanDiebold até gravou um vídeo:
Mas se o projeto estava praticamente pronto, por que o console não chegou ao mercado? É uma trama cheia de idas e vindas. No livro Super Mario: How Nintendo conquered America (no Brasil, Nos Bastidores da Nintendo), o autor Jeff Ryan frisa que Hiroshi Yamauchi, então presidente da Nintendo, não estava satisfeito com os termos da parceria, especialmente com as cláusulas que davam à Sony royalties exclusivos sobre cada jogo vendido em CD.
Na surdina, a Nintendo procurou outro parceiro. A estratégia poderia resultar em um contrato mais vantajoso ou mesmo obrigar a Sony a rever suas condições, mas a companhia se manteve firme e, na CES de 1991, anunciou o Play Station. Porém, no dia seguinte, a Nintendo aproveitou o evento para revelar um acordo com a Philips, que promovia o CD-i, um formato de mídia focado em interatividade que poderia se tornar padrão na indústria dos games (ironicamente, a mídia foi desenvolvida em parceria com a Sony).
No final das contas, a Nintendo desistiu da ideia de levar CDs ao Super Nintendo, em parte pela preocupação com a pirataria — era mais fácil replicar CDs do que cartuchos.
A Sony, por sua vez, resolveu aproveitar o que tinha em mãos e continuou com o console. Foi daí que as tais das 200 unidades teriam sido produzidas.
É claro que a Nintendo não gostou dessa história. Ambas as empresas acabaram travando uma extensa disputa judicial. Por fim, a Sony revisou todo o projeto, removendo o suporte a cartuchos de Super Nintendo, adicionando mais capacidade gráfica, entre outras características. Surgia então, em 1994, o PlayStation.
Se foi uma boa ideia? A história diz por si só: mais de 100 milhões de unidades do console foram vendidas, numerosos títulos renomados foram lançados e, hoje, a plataforma está na quarta geração.
Com informações: Ars Technica, PCMag