Fundador da Safernet Brasil cita ameaças de morte e deixa o país
Após comparecer a evento do TSE sobre desinformação e citar grupos neonazistas, fundador da Safetnet relata ameaças de morte e "grave e iminente risco"
Após comparecer a evento do TSE sobre desinformação e citar grupos neonazistas, fundador da Safetnet relata ameaças de morte e "grave e iminente risco"
O fundador e presidente da Safernet Brasil, organização que atua a favor dos direitos digitais, Thiago Tavares, assinou um documento confirmando que deixou o país e está autoexilado na Alemanha. Segundo a carta, Tavares recebeu ameaças de morte por participar de um evento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre desinformação nas eleições, citando a atuação de grupos neonazistas. Na semana passada, uma perícia concluiu que o MacBook Pro de Tavares estava infectado pelo malware Pegasus.
A carta assinada pelo fundador da SaferNet no Brasil foi endereçada aos funcionários do instituto e a organizações parceiras. A Folha obteve acesso ao documento e verificou a autoria de Thiago Tavares.
Na carta, ele afirma que está “em grave e iminente risco”, e que vem sofrendo ameaças de morte por sua atuação como acadêmico e defensor dos direitos digitais. No dia 26 de novembro, Tavares participou de um evento do TSE sobre desinformação nas eleições e, em uma parte da apresentação, abordou discursos de ódio e a atuação de grupos neonazistas e de supremacistas brancos.
“Existem hoje, no Brasil, centenas — e literalmente centenas — de células extremistas em atividade. Esses grupos não aceitam e nem conseguem conviver com a diversidade, e eles defendem a violência e propagam o ódio contra pessoas em razão da sua raça, cor, religião, orientação sexual, deficiência, origem nacional e regional”, pontuou Tavares em palestra no evento do TSE.
Na última quinta-feira (2), uma perícia conduzida no MacBook Pro de Tavares encontrou indícios de que o aparelho estaria infectado pelo malware usado para espionagem da empresa israelita NSO Group. O programa vem sendo utilizado para vigiar a atuação de diversos ativistas de direitos humanos ao redor do mundo.
Apesar de já terem sido corrigidas, o Pegasus utilizou brechas em programas da Apple como o Apple Music, Fotos e iMessage para infectar iPhones e outros dispositivos da marca norte-americana. Atualmente, a empresa está processando a NSO Group pelo uso do malware ilegal. O WhatsApp também entrou com uma ação judicial contra a israelita.
No mesmo dia em que o Pegasus foi detectado em seu notebook, o fundador da Safernet Brasil afirma que uma familiar sofreu um traumatismo cranioencefálico ao desembarcar de um Uber em Salvador, na Bahia. Ela precisou ser internada na UTI devido à fratura.
Dez dias antes, outro incidente ocorreu também na capital baiana. Na ocasião, quatro criminosos armados realizaram um sequestro-relâmpago de um funcionário da Safernet Brasil e roubaram seu celular e laptop. Tavares estava a 800 metros do local da ocorrência. O crime ainda teria teor LGBTfóbico, segundo a carta.
O fundador da Safernet escreveu na carta que seu autoexílio é temporário. Tavares diz:
O exílio voluntário é um direito fundamental reconhecido internacionalmente e garantido a alguns indivíduos que, sentindo-se ameaçados ou vítimas de perseguição política, racial ou religiosa, podem buscar exílio por iniciativa própria em outros países.
Segundo a Folha, a Polícia Federal e o Ministério Público foram notificados sobre o caso. Tavares chegou à Alemanha no último sábado (4).
Além de ser fundador e presidente da Safernet Brasil, Thiago Tavares foi conselheiro titular do Comitê Gestor da Internet (CGI) entre 2014 e 2020. Sua presença em fóruns de direito digital no Brasil é constante, o que levou a muitos de seus pares a lamentarem o ocorrido.
Rafael Zanatta, diretor do Data Privacy BR, escreveu em sue Twitter:
Desesperador o exílio do Thiago Tavares da SaferNet. Caso muito muito tenso que deve despertar atenção de toda comunidade de direitos digitais no Brasil e no mundo. Estamos profundamente chateados e em solidariedade.
Já Mariana Valente, diretora do Internet Lab, destacou a infecção do notebook de Tavares pelo malware Pegasus:
Essa notícia aqui bateu muito, muito mal. O Thiago Tavares, diretor da Safernet, teve que se exilar em Berlim, depois de ameaças, ataques a pessoas próximas e computador infectado por Pegasus – o que precisa ainda ser explicado. É muito mistério e muito absurdo junto.
Com informações: Folha de S.Paulo