Uma parceria entre uma startup malaia e uma ONG carioca pode ajudar no combate contra a dengue no Brasil. Estou falando da tecnologia criada pela Artificial Intelligence in Medical Epidemiology (AIME) que, como o próprio nome já sugere, usa a inteligência artificial para prever surtos de dengue em determinadas regiões, facilitando a prevenção e o combate.
Até outubro, o Brasil já havia registrado 693 casos de dengue no Brasil, número que não era visto desde a década de 90. O estado mais atingido foi São Paulo, onde a AIME deve testar sua tecnologia, uma vez que foi selecionada pelo Pitch Gov SP, iniciativa que busca atrair soluções inovadoras para os desafios da administração pública.
Dados de satélite e outras informações oferecidas pelo governo são analisadas por meio de um algoritmo, possibilitando a criação de um mapa com previsões do foco de dengue a partir do cruzamento de dados. Fatores como clima, velocidade e direção do vento, radiação e índice de chuvas foram analisados, além da localização de lugares que têm água parada; todas essas informações influenciam na reprodução e propagação do mosquito.
A tecnologia foi testada no Rio de Janeiro usando dados de 2007 a 2013 e alcançou uma precisão de 84% no diagnóstico, dentro de uma área analisada de 63 quilômetros quadrados de extensão. O projeto piloto foi realizado na Malásia e acertou 88% das vezes. Segundo os pesquisadores, os dados só não são mais precisos porque dependem das estatísticas feitas pelas autoridades sanitárias. Ainda não foi possível estimar a redução dos casos.
Os dados do sistema precisaram ser ajustados para as condições climáticas brasileiras, tarefa que precisou de três semanas de levantamento de dados no Rio de Janeiro, incluindo mais recentemente a favela da Rocinha. Em entrevista ao Estadão, Dhesi Raja, fundador da AIME, explica que não foram necessárias muitas alterações, porque o clima e o ecossistema do Brasil são bem parecidos com o da Malásia.
Depois de analisar os fatores que influenciam na reprodução do mosquito, o sistema aponta potenciais focos da doença em um raio de 400 metros. Essa previsão, aliada a mecanismos de combate à propagação do vírus, pode ajudar a combater a doença. Atualmente, os métodos utilizados são o fumacê e a liberação de mosquitos geneticamente modificados, que se reproduzem com os insetos originais e fazem com que a cria morra antes de chegar na fase adulta.
O software desenvolvido pela AIME também é capaz de prever a proliferação de malária, ebola, tuberculose, AIDS e a gripe comum. Mas a startup preferiu focar na dengue, que tem 400 milhões de casos por ano e coloca 2,5 bilhões de pessoas em risco. Só o Brasil investe R$ 1,3 bilhão por ano no combate ao vírus e, ainda assim, a incidência continua crescendo.
Segundo o Estadão, em parceria com a Viva Rio, a startup pretende oferecer para o governo uma espécie de consultoria e combater as doenças a partir de estratégias combinadas. Ainda que o projeto esteja restrito a São Paulo no começo, os cariocas devem receber ajuda da AIME em breve por causa dos Jogos Olímpicos de 2016. A startup revela que a tecnologia também pode ser ajustada para prever casos da febre chikungunya e zika.