Mineradores de bitcoin estão reativando usinas fósseis nos EUA

Chegada de mineradores de bitcoin (BTC) nos EUA começa a reativar usinas de energia poluente e preocupa ambientalistas

Bruno Ignacio
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• Atualizado há 2 anos e 3 meses

Enquanto a China bania mineradores de bitcoin (BTC) do país devido ao alto consumo de eletricidade da atividade, muitos viram uma grande oportunidade para a rede do principal criptoativo se tornar mais sustentável e abandonar matrizes energéticas poluentes. No entanto, parece que mineradores estão sendo responsáveis pela reativação de usinas fósseis nos Estados Unidos enquanto se reestabelecerem no país.

Conforme apurou a NBC News, há uma tendência dentro do setor de criptomoedas americano que vem preocupando ambientalistas. A mineração de bitcoin está revivendo velhas e quase desativadas usinas de energia baseadas em combustíveis fósseis nos Estados Unidos. Essa crescente adesão de mineradores a fontes poluentes de eletricidade desencoraja o investimento em matrizes renováveis e limpas e reforça uma indústria que estava caminhando para o desaparecimento, segundo especialistas.

Empresa de mineração reativa usina de carvão

Quatro anos atrás, a usina de carvão Scrubgrass da cidade de Venango, Pensilvânia, estava à beira do colapso financeiro ao perder quase todos seus clientes para o gás natural barato e outras fontes renováveis. Porém, uma holding sediada chamada Stronghold Digital Mining que comprou a instalação, que queima resíduos de carvão suficientes para alimentar cerca de 1.800 máquinas de mineração de bitcoin.

Segundo um documento enviado à Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) obtido pela NBC, esses aparelhos de mineração são instalados em contêiners ao redor da usina. A Stronghold estimou que, com a estrutura atual, deverá queimar cerca de 600.000 toneladas de resíduos de carvão por ano em Scrubgrass.

Mineração de bitcoin (Marco Verch/Flickr)
Mineração de bitcoin (Marco Verch/Flickr)

Contudo, a holding também revelou que pretende expandir suas operações para manter 57 mil máquinas de mineração até o final de 2022. Esse plano de expansão requer a compra de mais duas usinas de carvão na região.

Mineradores de bitcoin buscam energia barata

Segundo Alex de Vries, economista holandês, pesquisador e fundador da Digiconomist, um site que monitora o impacto ambiental das criptomoedas, a mineração de bitcoin inevitavelmente desperdiça recursos. “É um sistema onde os participantes são forçados a desperdiçar recursos para fornecer algum nível de segurança na rede. Quanto mais valor o bitcoin tem, mais dinheiro ele gera e mais recursos são gastos”, disse à NBC.

A Stronghold chegou a descrever suas operações como “ambientalmente benéficas”, apontando para a classificação da Pensilvânia de geração de energia a partir de carvão residual como uma “fonte de energia alternativa de Nível II”. Esta classificação permite que a holding se beneficie de subsídios estatais.

“Esses mineradores não precisam apenas de energia barata, mas de uma fonte estável de energia porque suas máquinas precisam funcionar 24 horas por dia, 7 dias por semana, e as fontes de combustível fóssil são as mais adequadas para isso… Os mineradores já estão revivendo usinas de fósseis e minas de carvão inativas em lugares como Nova York e Montana.”

Alex de Vries em entrevista à NBC

Proibições na China foram catalisador para o problema

China vem apertando proibições sobre bitcoin e outras criptomoedas (Imagem: QuoteInspector/ Flickr)
China vem apertando proibições sobre bitcoin e outras criptomoedas (Imagem: QuoteInspector/ Flickr)

Essa tendência contra a sustentabilidade da rede do bitcoin parece ter sido alavancada pela crescente onda proibicionista às criptomoedas na China. Pequim vem impondo uma restrição atrás da outra para o mercado de ativos digitais no país, mirando também nos mineradores que consomem energia barata poluente nas províncias industriais chinesas.

Como consequência, entre junho e julho deste ano, cerca de metade dos mineradores do mundo ficaram offline enquanto migravam da China para outros países, principalmente os Estados Unidos.

Evidentemente, a chegada de grandes empresas que trazem consigo dezenas de milhares de máquinas de mineração foi o catalisador para a reativação das usinas fósseis americanas, que antes operavam somente quando necessário em épocas de alto consumo. Vários estados, incluindo Texas e Kentucky, estão recebendo de braços abertos esses mineradores, com direitos a incentivos fiscais e subsídios energéticos.

O caso da Stronghold e da usina Scrubgrass é apenas um exemplo de um cenário muito maior. No começo de julho, a região dos Finger Lakes, no interior do estado de Nova York, apareceu em notícias do mundo todo quando a reativação de uma usina a carvão para minerar bitcoin causou o aquecimento de um dos lagos glaciais.

Com informações: NBC News

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Bruno Ignacio

Bruno Ignacio

Ex-autor

Bruno Ignacio é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Cobre tecnologia desde 2018 e se especializou na cobertura de criptomoedas e blockchain, após fazer um curso no MIT sobre o assunto. Passou pelo jornal japonês The Asahi Shimbun, onde cobriu política, economia e grandes eventos na América Latina. No Tecnoblog, foi autor entre 2021 e 2022. Já escreveu para o Portal do Bitcoin e nas horas vagas está maratonando Star Wars ou jogando Genshin Impact.

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