Nos últimos tempos, empreendedorismo e tecnologia têm sido levianamente usados como disciplinas básicas para salvar qualquer situação da pindaíba. Foi demitido? Não gosta do seu trabalho? Seja empreendedor. Quer ter uma carreira de sucesso? Pois você deveria aprender a programar.

Sou formada técnica em informática e posso dizer a vocês: tem atividades que não são para todo mundo. Quando se levanta a bandeira de que todas as pessoas deveriam aprender a programar na escola, assim como aprendem português ou matemática, há uma boa intenção, mas a mensagem que se passa está um pouquinho distorcida.

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Por sorte minha, Linus Torvalds, criador do Linux, concorda comigo. Tido como um dos mais influentes especialistas em computação ainda vivo, Linus deu uma polêmica opinião em entrevista para o Business Insider: “Eu não acredito que todo mundo deva, necessariamente, tentar aprender a programar. Eu acho que essa é uma atividade razoavelmente especializada, e ninguém realmente espera que a maioria das pessoas saiba fazê-lo”, disse ele.

É importante notar, contudo, a diferença entre saber programar e “entender programação”, por assim dizer. Entender os processos lógicos, como os códigos funcionam e como podem ser criados continua sendo um aprendizado bastante importante. Quem sabe, em vez de cursos que ensinam uma determinada linguagem, as escolas pudessem ter aulas que coloquem as crianças em contato com noções de lógica de programação.

“Eu acho que as pessoas deveriam ser expostas [a códigos], apenas para que aquelas que por ventura descubram que gostam daquilo, possam ter a possibilidade de desenvolver essa habilidade. Nesse sentido, eu acho que cursos de programação nas salas de aula são uma ótima ideia, ainda que nem todos precisem aprender a programar”, detalhou Linus.

Quer um exemplo bacana de como isso pode ser possível? Com jogos como o Code Monkey Island, que acaba de ser financiado no Kickstarter. É um jogo de tabuleiro tradicional, mas que traz regras que explicam de forma simples conceitos mais complexos de programação, como funções lógicas, condicionais e operadores booleanos. O VentureBeat também tem uma lista com uma série de outros joguinhos com o mesmo propósito.

Afinal, talvez o real objetivo seja o de colocar as crianças em contato com a tecnologia, para que elas aprendam como cada coisa funciona e, quem sabe, possam desenvolver processos ainda melhores no futuro. Ou seja, em vez de achar que aprender uma determinada linguagem de programação devesse ser ementa no currículo escolar das crianças, seria mais útil deixar claro que o importante é fazê-las entender como as coisas funcionam – e boa parte das coisas, hoje em dia, roda um código por trás da interface.

Como seria o cenário ideal dessa interação entre pequeninos e tecnologia? Deixo vocês com a sugestão do próprio criador do Linux: “Cresça com a tecnologia, brinque com qualquer aparato técnico que puder. Desmonte as coisas, veja se você consegue montá-las de novo”.

Basicamente o que qualquer criança curiosa já iria fazer. Basta um mínimo de incentivo.

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Escrito por

Jacqueline Lafloufa

Jacqueline Lafloufa

Ex-autora

Bacharel em literatura, especialista em jornalismo científico e comunicação digital, Jacqueline Lafloufa também aprendeu sobre ciência e tecnologia no colégio técnico ETEP. Já trabalhou como programadora, mas hoje atua como produtora de conteúdo, ghostwriter, roteirista, escritora profissional, pesquisadora e podcaster. Foi autora no Tecnoblog de 2013 a 2014 e também já colaborou com o Facebook.