Software da Microsoft para segurança de votos estará em urnas eletrônicas
O ElectionGuard da Microsoft quer acabar com alegações de fraude, permitindo eleitores a verificarem se seu voto foi adulterado
O ElectionGuard da Microsoft quer acabar com alegações de fraude, permitindo eleitores a verificarem se seu voto foi adulterado
A Microsoft avançou no projeto de implementação do ElectionGuard, seu programa de código aberto desenvolvido em 2019 e que torna a votação de uma eleição mais transparente, permitindo com que o cidadão verifique se seu voto foi alterado ou contabilizado. Na quinta-feira (3), a desenvolvedora conseguiu uma parceira para a distribuição de seu software eleitoral: a Hart InterCivic, uma das três grandes fornecedoras de urnas eletrônicas nos EUA.
O ElectionGuard é justamente um software que é instalado em urnas eletrônicas, como uma espécie de plugin sofisticado, para criptografar todos os dados de uma votação grande ou pequena, mas também para torná-la mais transparente. O programa conta os votos, preservando a identidade secreta do eleitor, para mostrar se sua decisão foi de alguma forma adulterada. Após a contagem, ele é capaz de apontar o vencedor.
A partir de agora, toda urna eletrônica da Hart InterCivic terá o ElectionGuard embutido em seu código; ela vai oferecer uma apuração mais ágil e segura, enquanto armazena a contagem de votos em um backup, que pode ser emitido por nota. As máquinas da empresa são usadas em votações de mais de uma dúzia de estados como Texas, Califórnia, Michigan e Carolina do Norte – alguns deles decidiram a disputa presidencial de 2020 nos últimos instantes, concedendo a vitória a Joe Biden.
A principal preocupação da Microsoft ao desenvolver o ElectionGuard é justamente acabar com os argumentos de fraude nas eleições, ou de que sistemas eleitorais são tendenciosos. A empresa testou pela primeira vez o programa em 2020, na disputa de uma cadeira na Suprema Corte em uma cidade de 3 mil habitantes no estado americano de Wisconsin. Uma coisa é cuidar de uma pequena eleição, a outra é supervisionar os votos que escolhem o presidente. Mas a desenvolvedora parece ter isso em mente.
Grandes democracias têm sofrido com a ofensiva de políticos a sistemas eleitorais. Nos EUA, o ex-presidente Donald Trump admitiu derrota três meses após a eleição, que chegou a chamar de fraude. No Brasil, Jair Bolsonaro já afirmou em algumas ocasiões ter provas de que ganhou as eleições de 2018 no primeiro turno, e insiste em trocar as urnas eletrônicas pelo voto impresso, alegando que as máquinas atuais produzem resultados fraudulentos.
A mudança já é muito bem-vinda nos Estados Unidos; em janeiro desse ano, o instituto de pesquisa Pew Center apontou que 75% dos eleitores de Trump acham que ele provavelmente ou definitivamente tinha ganho a eleição. No Arizona, delegados republicanos ainda insistem na recontagem dos votos, na esperança de reverter a vitória democrata.
“Fiscais eleitorais estão ansiosos por qualquer ferramenta que agilize o processo de auditoria e verificação, além de aumentar a transparência, que por sua vez aumenta a confiança do eleitor,” diz Julie Mathies, presidente e CEO da Hart InterCivic, à Wired. “É importante que esse produto seja designado para cumprir com as necessidades de eleições do mundo real.”
Para permitir uma votação segura e ao mesmo tempo transparente, o ElectionGuard usa uma técnica de algoritmo chamada criptografia homomórfica. Basicamente, é um código matemático capaz de contar os votos de forma secreta — o que é impossível de ser feito por meios convencionais. Cada voto criptografado é somado e gera um resultado que é, obviamente, decodificado – esse é o momento em que o programa revela quem ganhou a disputa.
A criptografia homomórfica é obra de uma década de pesquisa da Microsoft, chefiada por Josh Benaloh, criptógrafo sênior da empresa. Por ser uma ferramenta de código aberto, qualquer autoridade ou cidadão comum pode acompanhar o registro criptografado dos votos e verificar como o ElectionGuard faz as contas para chegar ao resultado. E o software, assim como a referência do sistema de votação usado pela big tech, está disponível no GitHub.
Outra vantagem do código aberto: a própria comunidade de segurança em tecnologia pode ajudar a melhorar o ElectionGuard, detectando falhas e erros. Essa acessibilidade acaba com uma insegurança do eleitor americano de que as fabricantes das urnas alteram votos e manipulam eleições. Geralmente, essas companhias são contra a análise das urnas por pesquisadores, o que alimenta a teoria de que máquinas são inseguras decidir quem será o próximo presidente, por exemplo.
Neste vídeo, a IBM esclarece por que a criptografia homomórfica é importante para o tratamento de dados não só para eleições, mas para tecnologia de redes. O vídeo está em inglês, mas o YouTube tem legendas em português.
https://www.youtube.com/watch?v=5Mhbaeuv5fk
Tom Burt, vice-presidente de segurança do consumidor da Microsoft, disse à Wired que está animado pois o ElectionGuard está nas mãos de uma das três grandes fornecedoras de urnas eletrônicas nos EUA: “a Hart entende que isso vai funcionar se seus clientes acharem a solução útil. E é isso que a Microsoft não pôde oferecer — o conhecimento de mercado sobre o que fiscais eleitorais precisavam. Agora poderemos ver, no futuro, a tecnologia sendo usada por eleitores”.
A própria Microsoft afirma que esse futuro pode não estar muito próximo. Mesmo nos EUA, a Hart InterCivic depende de aprovação dos estados para implantar as urnas com o software de código aberto.
Ainda assim, a iniciativa da Microsoft abre caminho para sistemas de eleição em código aberto auditáveis e que, ao mesmo tempo, protegem a privacidade e o voto secreto. Mais do que isso, é uma defesa de que urnas eletrônicas em eleições funcionam e devem provavelmente ser o futuro das votações.
Com informações: Wired