Tchau, tchau, Stadia, o Google te desligou de vez

Plataforma de cloud gaming prometia muita coisa boa, mas entregou apenas um pedacinho desse céu; alguém se surpreendeu com o seu encerramento?

Ricardo Syozi
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Google Stadia
Google Stadia (Imagem: Divulgação / Google)

Depois de muitas promessas e poucos acertos, o Google vai realmente encerrar o Stadia. O serviço será desligado na quarta-feira (18), finalizando um projeto ambicioso, mas que não conseguiu juntar uma comunidade ativa. Então vamos dar adeus à plataforma, lembrando de sua trajetória e tentando entender o que deu errado.

O serviço de cloud gaming da gigante de buscas foi anunciado em março de 2019. Algumas de suas promessas incluíam streaming diretamente pelo Chrome, resoluções de 8K e 4K, 60 quadros por segundo e uma biblioteca que cresceria frequentemente.

Até aí, eu me animei bastante pela proposta. Contudo, assim que o Google anunciou que os usuários precisariam comprar os games pelo mesmo preço cheio de suas concorrentes, minha desconfiança começou a apitar. É verdade que a assinatura do Stadia Pro garantiria alguns títulos gratuitos, mas nada muito fora do que marcas como Sony e Microsoft já entregavam à sua base instalada.

Antes de seu lançamento, pouco mais de 30 jogos estavam planejados para chegar. Porém, quando o dia se aproximava, a companhia diminuía a lista. Então, no dia 19 de novembro de 2019, o serviço foi liberado com 21 games. Dentre eles, apenas um exclusivo: Gylt, uma aventura light de survival horror.

Esse foi um baque no projeto, pois uma plataforma vive e morre com seus títulos exclusivos. Mesmo assim, tudo ainda era muito novo, o que dava aos entusiastas o benefício da dúvida. Muitos acreditavam que nos meses seguintes, o Stadia realmente mostraria para o que veio.

Stadia Phil Harrison
Phil Harrison na apresentação do Stadia (Imagem: YouTube / Google)

Lançamento problemático

Além da biblioteca pouco atraente de jogos, o Stadia deixava a desejar em outros aspectos. Primeiramente, não dava para comparar a qualidade de imagem e áudio de consoles como o PlayStation 4 e o Xbox One, claro. A falta de detalhamento e de texturas era algo fácil de notar, por exemplo.

Outro fator que fazia a galera torcer o nariz era a latência, para ter um nível aceitável de lag nos controles, era necessário ter uma internet com velocidade muito maior do que os tais 35 Mb/s que o Google sugeria. A sensação que dava era a de que os “early adopters” estavam testando um serviço beta.

Nos meses seguintes, a empresa americana continuou prometendo que novos títulos chegariam, mas tudo parecia relativamente obscuro. Houve relatos de estúdios independentes que não queriam desenvolver para a plataforma, pois não havia incentivo da companhia.

Reclamações diversas pelo produto não entregar realmente o 4K eram constantes. Doom Eternal foi um dos games que só entregava essa resolução nos PCs, mas mesmo assim com uma certa dificuldade.

Aos poucos, a animação pelo Stadia foi dando lugar para a desconfiança.

Doom-Eternal
Doom Eternal (Imagem: Reprodução / Bethesda)

A inevitável queda

Ainda em 2020, a desconfiança acabou sendo disseminada entre jogadores e executivos da indústria. O CEO da Take-Two, por exemplo, disse uma frase que estava na mente de quase todo mundo: “O Google Stadia prometeu demais“.

A partir daí, a plataforma passou a ter cada vez mais dificuldade para sair do poço que havia entrado. Logo no início de 2021, a gigante de buscas fechou um de seus estúdios de games e começou a reduzir suas operações na área.

Em seguida, John Justice, o chefe de produtos do serviço, deixou a marca. Semanas depois, mais executivos abandonaram o barco, transformando a desconfiança dos fãs em algo muito mais concreto. Com a debandada, redução de equipes e cancelamento de jogos exclusivos, só havia uma conclusão possível.

Ou seja, a casa caiu.

Com quase três anos no mercado em 2022, o Stadia ainda não havia entregue o que prometeu. Nada de 8K, multi-GPU, títulos exclusivos e nem a liberação para diversos países. Com o andar da carruagem, qualquer pessoa já podia deduzir a última parada.

controle google stadia
O controle é bem bonito (Imagem: Unsplash / Cristiano Pinto)

E… acabou

No dia 29 de setembro de 2022, o Google anunciou o que já estava na cara: o Stadia encontrará seu fim no dia 18 de janeiro de 2023.

A companhia prometeu reembolsar todo o dinheiro gasto em hardware e software pelos jogadores. Isso já vem sendo feito desde então.

Phil Harrison, Vice-presidente e Gerente Geral do Stadia, afirmou que “a abordagem do Stadia para jogos de streaming para consumidores foi construída sobre uma forte base tecnológica, mas ela não ganhou a força esperada com os usuários”.

Além disso, não podemos esquecer que concorrentes como o Amazon Luna, Nvidia GeForce Now e o Xbox Cloud Gaming fizeram o Stadia parecer o patinho feio. Especialmente por cobrar preço cheio em games para nuvem, algo que nunca caiu bem para mim e tantos outros usuários.

Por fim, a empresa anunciou no Twitter que vai liberar uma atualização permitindo o uso do controle oficial da plataforma em outros sistemas via Bluetooth.

O encerramento do serviço é triste, claro, mas ninguém pode dizer que é surpreendente. Ainda mais se lembrarmos do histórico de cancelamentos do Google. No fim do dia, faltou planejamento e bom senso.

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Ricardo Syozi

Ricardo Syozi

Ex-autor

Ricardo Syozi é jornalista apaixonado por tecnologia e especializado em games atuais e retrôs. Já escreveu para veículos como Nintendo World, WarpZone, MSN Jogos, Editora Europa e VGDB. No Tecnoblog, autor entre 2021 e 2023. Possui ampla experiência na cobertura de eventos, entrevistas, análises e produção de conteúdos no geral.

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