Deu tudo errado: Google Stadia quebra promessa de 4K nativo, jogos e multi-GPU

Com quase três anos no mercado, Stadia não entregou quase nada que havia prometido em 2019; Google vai precisar escolher melhor suas lutas na próxima vez que quiser inovar

Murilo Tunholi
Por
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Google Stadia (Imagem; Divulgação/Google)

O Stadia surgiu em 2019 como fruto de muitas ideias mirabolantes e ambiciosas. Desde então, em vez de entregar a tão sonhada plataforma definitiva de streaming de jogos, o Google tem quebrado quase todas as promessas feitas na época, como suporte a 4K nativo, latência baixa, máquinas com multi-GPU e presença em “mais de 200 países”. A situação não está fácil para o pequeno Stadia.

O Google nunca vai admitir que o Stadia foi um erro, mesmo sabendo que a plataforma nunca será um sucesso. No estado em que o serviço se encontra, não há a mínima chance da empresa competir com o Xbox Cloud Gaming, da Microsoft, com o GeForce Now, da Nvidia ou até mesmo com o PS Now, da Sony — e olha que esse último nem existe no Brasil ainda.

Na apresentação original do Stadia, durante o Game Developers Conference (GDC) de 2019, o Google fez questão de destacar a experiência da empresa com serviços na nuvem. Para o CEO Sundar Pichai, saber lidar com servidores voltados para pessoas e empresas seria mais que suficiente para entrar no mercado de videogames. Hoje, vemos que não é bem assim.

Stadia só supera PS Now e Luna em disponibilidade

Logo de cara, Pichai prometeu que o Stadia estaria disponível em “mais de 200 países”, graças à estrutura de servidores já existente do Google. Até o momento, somente 22 países podem usar o serviço — pouco mais de 10% da quantidade prometida.

Em comparação, o GeForce Now está em 82 países, o Xbox Cloud Gaming pode ser acessado de 26 países, e o PS Now funciona em 19 países — número que pode aumentar com o lançamento do Spartacus, serviço concorrente do Xbox Game Pass. O Stadia só consegue bater de frente com o Luna, da Amazon, que ainda está em período de acesso antecipado somente nos EUA.

Essa limitação geográfica do Stadia acontece porque o desenvolvimento da plataforma é feito pela divisão de hardware do Google. Os dispositivos da empresa, como o Chromecast e os alto-falantes Nest, só estão disponíveis nos mesmos 20 lugares. Não tem mais para onde crescer, exceto se houver uma mudança na equipe responsável pelo Stadia.

Google Stadia
Apresentação do Google Stadia na GDC 2019 (Imagem: Divulgação/Google)

Stadia prometeu jogos em 8K, mas não roda nem em 4K

Além de não cumprir a promessa de disponibilidade, o Google não entregou nada do que foi anunciado em relação ao desempenho do Stadia. Na GDC 2019, a empresa disse que a plataforma teria latência menor — de novo, graças aos milhares de servidores espalhados no mundo — e ainda rodaria jogos a até 8K ou a 120 quadros por segundo.

Mesmo com tantos servidores à disposição, o Stadia ficou atrás do GeForce Now em todos os testes de latência realizados pelo Digital Foundry e PC Gamer. A plataforma do Google só teve vantagem mínima na análise realizada pelo Gamers Nexus, registrando 12 milissegundos a menos de atraso. Durante uma jogatina casual, porém, esse valor não faz diferença.

Na parte de desempenho gráfico, o Google esperava rodar jogos em 8K nas mesmas máquinas usadas para hospedar os servidores do Gmail. No final do dia, a empresa não conseguiu sequer entregar games nativos em 4K. Destiny 2, por exemplo, roda nas configurações gráficas “médias” em 1080p ou 1440p, com upscaling para 4K.

O líder do projeto do Stadia, Phil Harrison, garantiu que a infraestrutura do Google iria permitir, desde o lançamento da plataforma, que os jogos rodassem com gráficos melhores em várias placas de vídeo ao mesmo tempo — o tal do multi-GPU. Contudo, isso ficou só na promessa.

Google, na próxima, escolha melhor as suas lutas

Por mais que o Google tenha muita experiência com servidores na nuvem, trabalhar com games é uma realidade muito diferente. A Nvidia, por outro lado, tem vantagem por fabricar placas de vídeo há muitos anos, podendo oferecer máquinas equipadas com RTX 3080 para rodar os jogos. O Google não chega nem perto de ter esse poder de hardware.

Não adianta querer investir dinheiro em um segmento no qual não há conhecimento. Agora, por questão de orgulho e para não assustar investidores, dificilmente a empresa vai matar o Stadia de forma oficial. Nos próximos anos, o serviço só deve ficar mais esquecido, até desaparecer por completo.

Com informações: ArsTechnica.

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Murilo Tunholi

Murilo Tunholi

Ex-autor

Jornalista, atua como repórter de videogames e tecnologia desde 2018. Tem experiência em analisar jogos e hardware, assim como em cobrir eventos e torneios de esports. Passou pela Editora Globo (TechTudo), Mosaico (Buscapé/Zoom) e no Tecnoblog, foi autor entre 2021 e 2022. É apaixonado por gastronomia, informática, música e Pokémon. Já cursou Química, mas pendurou o jaleco para realizar o sonho de trabalhar com games.

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