Telegram fez “marketing enganoso” por uma década, diz fundador do Signal

Moxie Marlinspike, criador do Signal, reagiu ao uso do Telegram na Ucrânia dizendo que app que não é criptografado

Emerson Alecrim
Telegram (imagem: Christian Wiediger/Unsplash)

É compreensível que as pessoas intensifiquem o uso da tecnologia para se comunicar diante de situações ameaçadoras. É o caso da população da Ucrânia: com o avanço das tropas russas pelo país, muitos ucranianos têm recorrido ao Telegram para manter contato com familiares e amigos. Mas Moxie Marlinspike, fundador do Signal, fez um alerta: o Telegram não é seguro da forma como eles imaginam ser.

Cutucar o serviço rival nas circunstâncias atuais soa como falta de sensibilidade, pelo menos na primeira olhada. De todo modo, o comentário de Marlinspike vem na esteira de uma constatação de Matthew Prince, CEO do Cloudflare: a de que o uso do Signal na Ucrânia aumentou significativamente nas primeiras horas após a invasão russa.

Mas o uso do Telegram também aumentou. Levemos em conta também que o serviço já era popular no país. Esse cenário fez Marlinspike usar o Twitter para comentar, em 24 de fevereiro, o seguinte:

O Telegram é o mensageiro mais popular na Ucrânia urbana. Após uma década de marketing e [divulgações de] imprensa enganosas, a maioria das pessoas acredita que ele é um “app criptografado”.

A realidade é o oposto: o Telegram é, por padrão, um banco de dados nas nuvens com um cópia em texto puro de todas as mensagens que os usuários já enviara/receberam.

A postagem é linkada a uma série de tweets que o fundador do Signal disparou no final de 2021 depois de concluir que a mídia considera o Telegram um “mensageiro criptografado”.

Na sequência de tweets, Marlinspike explica que o Telegram ativa a criptografia ponta a ponta — recurso em que somente o remetente e o destinatário podem ler as mensagens — apenas nos chamados “chats secretos”, abordagem que é bem diferente da adotada pelo próprio Signal ou pelo WhatsApp, por exemplo, que têm esse tipo de proteção como recurso padrão.

Como existe um consenso sobre o Signal ser mais seguro que o Telegram, a constatação do aumento de uso do serviço na Ucrânia não chega a ser surpresa. É natural que ucranianos busquem uma comunicação tão protegida quanto possível neste momento tão delicado.

Apesar disso, não há nada indicando que o Telegram irá perder relevância na Ucrânia, cenário que, provavelmente, explica os comentários de Marlinspike. Em outro tweet, ele chega a dizer que muitos funcionários do serviço têm família na Rússia e que o governo russo poderia se aproveitar disso para acessar o banco de dados da plataforma.

Procurado, o Telegram informou o seguinte:

Esse tipo de FUD [sigla em inglês para “medo, incerteza e dúvida”] não surpreende, vindo de um concorrente menor (este, em particular). Assim, podemos confirmar que não temos desenvolvedores ou servidores na Rússia e que não vislumbramos nenhum dos riscos mencionados.

Ucrânia quer “exército de TI”

Até Mykhailo Fedorov, ministro da transformação digital da Ucrânia, usa o Telegram, pelo menos para buscar uma “reação online” contra a invasão russa. Também no Twitter, o ministrou anunciou que está montando um “exército de TI” no Telegram para atuar em ataques cibernéticos contra a Rússia.

No momento da publicação desta notícia, o canal contava com quase 30 mil participantes. O número é grande, mas “haverá tarefas para todos”, disse Fedorov.

Com informações: Forbes, Mashable, Engadget.

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.