Review: GRID 2, velocidade sem compromisso com a realidade
Cinco anos após a estreia de Race Driver: GRID, jogo de corrida que ganhou muitos fãs e foi bem recebido pela crítica, a Codemasters lança GRID 2. Assim como seu predecessor, GRID 2 aposta no equilíbrio entre simulação e arcade para conquistar o maior número de pessoas possível. Será que ele consegue?
Tudo pela fama
Em GRID 2, você começa como um piloto desconhecido que publicou um vídeo de sua corrida no YouTube e ganhou os primeiros fãs. Esses fãs são a única “moeda” do jogo. Não há dinheiro virtual para melhorar carros ou destravar pistas. À medida que você for completando as disputas, ganhará fãs que o incentivarão durante as corridas.
De início você é convidado pelo investidor Patrick Callahan para ser um dos primeiros participantes de uma nova liga de corridas, a World Series Racing. O objetivo é tentar transformá-la num campeonato reconhecido em todo o mundo, inclusive com transmissões ao vivo pela TV. É um grande desafio, mas antes da competição acontecer, será necessário convencer outros pilotos a participarem da sua liga vencendo-os em disputas regionais.
Cada pequena liga tem uma característica diferente. Entre os modos de corrida estão o tradicional circuito, o Contra o Relógio (você deve completar o trajeto antes do tempo acabar), a Derrapagem (deslize pela pista e tente não bater o carro contra a parede), a Eliminação (o último da corrida cai fora) e o Ponto de Controle (ande o máximo possível num determinado tempo e passe pelas cabines para ganhar alguns segundos).
Tem também o Touge, um modo que lembra os rachas de Need for Speed: Underground 2, no qual você precisa terminar a corrida à frente do adversário ou então abrir uma vantagem de cinco segundos. No modo Confronto, é necessário eliminar cada oponente um a um em determinado circuito. Em Resistência, corra o que puder num intervalo de cinco ou seis minutos.
Para ganhar ainda mais fãs, você frequentemente será convidado para participar de eventos promocionais do tipo Ultrapassagem. Uma série de carros estarão andando lentamente pela pista e sua missão é ultrapassá-los em série para obter o máximo de pontos possível. Não vale bater.
Com o tempo, a World Series Racing sairá da América do Norte e alcançará os continentes europeu e asiático. A competição ganhará cada vez mais destaque na mídia. Jornalistas da ESPN começarão a comentar sobre você. Sua simples garagem escura e apertada se transformará em um ambiente mais agradável, com os troféus que você ganhou nos campeonatos.
E claro, os fãs continuarão sendo a parte mais importante da sua carreira. Uma das conquistas no Steam é “O clipe da Beyoncé era melhor”. A descrição é a seguinte: “A Taylor Swift tem 23,5 milhões de seguidores no Twitter. Agora você tem mais fãs do que ela.”
Carros para todos os gostos
Alguns fabricantes importantes, como Ferrari e Lamborghini, não aparecem em GRID 2. Mas os carros que existem são muito bacanas. Você provavelmente começará com um clássico Ford Mustang Mach 1 e então desbloqueará outros veículos mais modernos, como o Subaru BRZ e o Volkswagen Golf. Este é o primeiro grupo, com os carros menos potentes e também mais fáceis de controlar.
No segundo grupo, há Camaro amarelo, Chevrolet Cruze e alguns europeus, como o simpático Audi TT RS Roadster. Então a coisa começa a ficar mais legal com carros mais exóticos, como o levíssimo Ariel Atom 3, o pesado Aston Martin Vanquish e o sempre presente em jogos de corrida Corvette Z06. No último nível estão os super potentes McLaren F1 GT e Pagani Huayra.
Cada carro tem um estilo próprio de pilotagem, como você verá mais abaixo. Mas ei! Cadê a visão interna do carro? Pois é, em GRID 2, ao contrário de seu antecessor, não é possível acessar a cabine do veículo. A Codemasters diz que poucos jogadores usavam essa visão. Eu nunca fui fã de pilotar em jogos de corrida no cockpit, então não é algo que fez tanta falta.
Paisagens impressionantes
Os traçados das pistas nem impressionam tanto, mas logo nas primeiras corridas, é possível notar que houve um cuidado especial para representar as várias cidades de GRID 2. Os vários arranha-céus de Dubai em volta da pista são espetaculares, as construções de Chicago ficam muito bonitas à noite, e também é muito boa a sensação de dar uma volta em torno do Arco do Triunfo, na capital francesa.
Claro que há disputas longe da cidade grande, como em Okutama, na província japonesa de Tóquio, onde se vê uma série de subidas e descidas, árvores por todo lado e curvas fechadas ótimas para fazer derrapagens e também destruir o carro.
Uma volta em Indianápolis
Pistas famosas não ficaram de fora. É possível acompanhar o grande público no circuito esportivo de Indianápolis, testar algumas das variantes da pista da austríaca Red Bull, brincar em Brands Hatch, na Inglaterra, e acelerar com tudo na enorme reta de Yas Marina, igualzinha àquela do Grande Prêmio de Abu Dhabi de Fórmula 1.
Indianápolis tem três circuitos diferentes: circuito de GP, circuito interno e circuito esportivo. O famoso oval também está disponível, mas na era dos DLCs, seria ingenuidade pensar que ele viria junto: o pacote que adiciona o circuito e mais alguns carros, incluindo um pace car da Indy, custa R$ 12,99 no Steam.
Como a campanha pode durar mais de 30 horas e não há tantas pistas disponíveis, ao chegar à quinta temporada você pode estar cansado de correr nos mesmos locais de sempre. Há várias variantes de pistas e até um modo exclusivo de GRID 2, o LiveRoutes, em que o traçado pode mudar a cada volta. Mesmo assim, as paisagens marcantes continuam lá, do jeito que sempre estiveram, e a sensação de “já vi isso antes” é mais frequente do que eu gostaria.
Cuidado com o muro!
GRID 2 tem estilo único de pilotagem. Você não vai conseguir fazer derrapagens perfeitas facilmente como nos jogos da série Need for Speed, ou curvas impossíveis em altíssima velocidade como em Burnout Paradise, mas também não pode tentar acertar todos os pontos de tangências das curvas porque os adversários vão ultrapassá-lo sem dó. E ainda tentarão, muitas vezes com sucesso, jogar você para fora da pista.
A Codemasters batizou o sistema de pilotagem de GRID 2 com o nome TrueFeel. Eles tentaram reproduzir dentro do jogo o comportamento dos carros de verdade, mas eliminando algumas dificuldades de dirigibilidade. Afinal, GRID nunca foi um jogo de simulação. Não há como ativar ou desativar assistências, e os vários níveis de dificuldade apenas mudam algumas características da corrida, como o nível de IA dos oponentes.
Mesmo não sendo um jogo de simulação hardcore, há grandes diferenças entre os veículos, tanto na sensação de peso e controle quanto nos belos roncos dos motores: não dá para comparar a violência da McLaren MP4-12C com a estabilidade do Ariel Atom 3.
Ao dirigir uma Mercedes-Benz SL 65 AMG Black, ou vários outros carros com estilo de pilotagem “derrapante”, será fácil perder o controle e dar de cara com o muro. Quando isso acontecer, o carro provavelmente não sofrerá perda total, mas ficará bastante danificado e a condução será prejudicada: a direção fica puxando para um lado e a potência diminui visivelmente. Mais uma batida deve ser suficiente para perder o para-choque na pista.
Ainda bem que, para os mais desastrados, há o Flashback, típico dos jogos de corrida da Codemasters, em que basta pressionar um botão para voltar no tempo e desfazer o estrago no carro. Eu usei o recurso incontáveis vezes enquanto conhecia novos veículos e pistas.
Mecânico tupiniquim
Uma das novidades bacanas de GRID 2 para o público brasileiro é que o jogo foi dublado para português. Toda a interface está no nosso idioma e a voz do mecânico ficou bastante natural. Os diversos vídeos do ESPN SportsCenter que aparecem durante o jogo, entretanto, são apenas legendados.
O mecânico não se limita a falar apenas obviedades, como dizer que sua traseira ficou danificada ou afirmar que você bateu no carro da frente. Em diversas situações, ele irá sugerir técnicas para dominar as curvas, dependendo do estilo de pilotagem do seu carro. “Ao pilotar este carro, é importante controlar as saídas de traseira. Use as derrapagens para ganhar embalo nas saídas das curvas”. Se você andou na pista anteriormente e não se deu muito bem, ele o lembrará disso.
É legal ser incentivado por uma voz humana. Para quem tem nomes mais comuns, será possível fazer com que o jogo pronuncie exatamente o seu nome. “Muito bem, Paulo!”
Como é difícil descrever uma dublagem com palavras, aqui vai cinco minutos de GRID 2 com narração em português:
Sem compromisso com a realidade
GRID 2 provavelmente não agradará ao pessoal hardcore, que prefere pilotagem mais técnica ou gosta de regular aerodinâmica e relação de marchas dos carros. E também pode afastar alguns fãs do GRID original, com a falta do cockpit, que passava sensação de realismo, e a impossibilidade de ativar ou desativar assistências de direção, como freios ABS e controle de tração. O máximo que dá para fazer é trocar o câmbio de automático para manual.
Por outro lado, para quem gosta de acelerar, curtir a paisagem e se divertir, sem tanto compromisso com a realidade, GRID 2 se encaixa perfeitamente. Recebi GRID 2 há três semanas e, apesar da sensação de déjà vu em algumas pistas, posso dizer que ainda estou longe de enjoar do jogo.
Desde que a franquia Need for Speed deixou de ser tão legal quanto na época de Underground 2 e Most Wanted, fiquei órfão de jogos de corrida com estilo mais arcade, aqueles para jogar no final de semana, quando não há nada mais importante para fazer. E GRID 2 supre essa necessidade. Tem gráficos espetaculares, boa variedade de carros e o mais importante: diverte bastante.
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Ficha técnica
- Plataforma: Windows, PlayStation 3 e Xbox 360;
- Lançamento mundial: 28 de maio de 2013;
- Preço sugerido: R$ 99,90 (Windows) e R$ 179,90 (PlayStation 3 e Xbox 360);
- Desenvolvedor: Codemasters;
- Distribuidor: Codemasters;
- Requisitos mínimos: Windows Vista, 7 ou 8; Intel Core 2 Duo 2,4 GHz ou AMD Athlon X2 5400+; 2 GB de RAM, 15 GB de espaço em disco; Intel HD Graphics 3000, AMD Radeon HD 2600 ou Nvidia GeForce 8600GT;
- Requisitos recomendados: Windows Vista, 7 ou 8 de 64 bits; Intel Core i7 ou AMD Bulldozer; 4 GB de RAM; 15 GB de espaço em disco; Intel Iris Pro 5200, AMD Radeon série HD 6000 ou GeForce série GTX 500 com 1 GB de memória.