Kindle Oasis: o melhor e-reader do mercado, mas…

Até que ponto vale a pena gastar 1.399 reais num dispositivo com apenas uma função?

Paulo Higa
Por
• Atualizado há 11 meses
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Quando você imaginava que o Kindle Voyage era o melhor leitor de ebooks que a Amazon podia entregar, a empresa apresentou o Kindle Oasis, um dispositivo ainda mais sofisticado (e ainda mais caro). Por 1.399 reais, ele tem preço de tablet, mas foca em apenas uma função: leitura.

A Amazon entrega as melhores funções dos modelos anteriores, como a iluminação embutida do Paperwhite, o revestimento de vidro do Voyage e o software refinado dos Kindles, mas traz novos mimos. A capa de couro, inclusa na caixa, possui bateria integrada. O encaixe ergonômico para a mão torna a leitura mais confortável. E os botões físicos são uma bela volta ao passado.

Vale a pena? Depois de uma semana lendo ebooks no Kindle Oasis, conto minhas impressões nesta breve análise.

O design é mais que funcional

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Até o Kindle Voyage, a Amazon estava centrada no aspecto estético do Kindle. Os leitores de ebooks estavam cada vez mais finos, cada vez mais leves e cada vez mais bem acabados, um movimento óbvio da indústria de eletrônicos. Desta vez, a preocupação com a ergonomia ficou evidente — e faz bastante sentido para um dispositivo que será utilizado por várias horas contínuas, a depender do leitor.

Com o encaixe para a mão, a Amazon melhora dois pontos. Primeiro, o Kindle Oasis tem pegada mais segura quando está sem a capa: a curva que afunila a traseira encaixa direitinho na mão. Segundo, a leveza fica ainda mais notável: ele diminuiu bastante na ficha de especificações técnicas (tem apenas 131 gramas, contra 180 gramas do Voyage e 206 gramas do Paperwhite), mas está mais confortável de segurar porque quase todo o peso fica concentrado na palma da mão, evitando o efeito alavanca.

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Pude ler por horas a fio, inclusive deitado na cama, sem sentir desconforto. Mesmo se sentisse, bastaria trocar de mão e virar o e-reader; a orientação da tela é ajustada automaticamente. Além disso, os botões físicos para avançar e retroceder página (que nunca deveriam ter sido retirados do Kindle) significam que você não precisa deslocar a mão quase nunca, a não ser quando precisar marcar um trecho, consultar o dicionário ou acessar outra função de software.

Além de ser confortável para o braço, o Kindle Oasis continua bom para os olhos. A tela, que sempre foi o maior trunfo do e-reader da Amazon, permanece com definição impecável para leitura, de 300 pixels por polegada, e está com iluminação embutida mais forte e uniforme, resultado dos LEDs adicionais (são dez, contra apenas quatro do Paperwhite). O revestimento de vidro é fosco e o contraste do display e-ink de 6 polegadas é quase perfeito, mesmo para leitura ao ar livre, com sol incidindo diretamente no visor — não há os reflexos de luz geralmente exibidos por uma tela convencional de smartphone ou tablet.

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A bateria dura bem, dependendo do seu ponto de vista

As “semanas” de autonomia dos Kindles evoluíram para “meses” no Oasis. Com a capa de couro, que possui bateria integrada e se conecta magneticamente ao corpo do e-reader, ele passa a durar pouco mais de dois meses, considerando uma leitura diária de 30 minutos, de acordo com os números da Amazon. E sem a capa?

Durante a última semana, li Na pior em Paris e Londres, de George Orwell, obra que na edição física tem 256 páginas. Com o brilho no nível 12 de 24 (um ajuste confortável para leitura em iluminação ambiente), Wi-Fi sempre ligado, formatação padrão e várias consultas ao tradutor de francês, consegui consumir dois terços da bateria.

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A bateria quase infinita dos Kindles anteriores saiu de cena, portanto. A questão é se vale a pena sacrificar a autonomia em favor do design. Na minha opinião, sim. A melhoria na pegada é especialmente importante num leitor de ebooks, a bateria ainda é suficiente para ler a maioria dos livros do início ao fim e, como eu normalmente transportaria o Kindle Oasis com a capa de couro, a duração continuaria muito boa.

Se o software não fosse bom, não adiantaria nada

O software dos Kindles foi atualizado recentemente para os dispositivos atuais. Ganhou interface renovada, com uma lista na tela inicial dos próximos livros que você quer ler; controles rápidos para acionar o modo avião e a sincronização de leitura; e sugestões mais precisas de livros. Estável, rápido e sem nenhuma notificação para distrair os leitores, ele continua sendo uma das melhores partes do ecossistema da Amazon.

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A leitura é melhor no Kindle que no papel. O dicionário, que pode ser ativado com um toque longo na palavra, é bastante útil para ler obras com vocabulário mais difícil — e também há dicionários de inglês, espanhol, francês, japonês e outros idiomas prontos para serem baixados gratuitamente, se você costuma ler em outras línguas. As marcações de trechos, que muitos não fariam para preservar o livro físico, ficam concentradas numa tela de fácil consulta e são sincronizadas entre todos os dispositivos, incluindo smartphones e tablets com o aplicativo da Amazon. Os diversos ajustes de formatação ainda permitem entregar uma experiência sob medida.

Algumas funções parecem banais à primeira vista, mas eu sinto falta delas sempre que preciso ler um livro de papel. O maior exemplo é a indicação do tempo restante para terminar o capítulo atual. Quando preciso interromper a leitura, sei quando posso ler “só mais um pouquinho” ou devo parar imediatamente porque o próximo capítulo me consumiria 20 ou 30 minutos.

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Mas as mesmas questões continuam

A ergonomia pode ter melhorado, a tela pode estar ainda mais brilhante e o software pode estar mais refinado, mas o Oasis ainda é um Kindle. Isso significa que, além de ter a maioria das qualidades das gerações anteriores, ele traz os mesmos pontos negativos dos outros modelos.

O principal é que o Kindle Oasis ainda não é um bom dispositivo para leitura de PDF, esse formato que deveria servir apenas para impressão, mas é onipresente. O software corta automaticamente as bordas do documento, mas as fontes continuam muito pequenas na tela de 6 polegadas, quase inviabilizando a leitura: basta lembrar que a maioria dos PDFs tem layout de papel A4.

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É possível solucionar esse problema com modificações no software, caso do Saraiva Lev, que extrai o texto do documento e o exibe em fonte configurável, mas essa abordagem nem sempre funciona bem, como nos PDFs escaneados ou recheados de imagens e gráficos. Para não ficar dando zoom a todo momento, o Kindle permite ler documentos na orientação paisagem, mas essa também não é a solução perfeita, porque a página não é exibida integralmente.

O ideal seria ter uma opção de Kindle com tela maior, talvez de 8 polegadas ou até 9,7 polegadas, como o descontinuado Kindle DX. Fato é que a Amazon ainda não oferece um dispositivo com boa experiência para qualquer tipo de documento, e os tablets existentes no mercado não possuem a agradável tela de e-ink dos e-readers, que permite leituras mais longas.

Outro ponto, que provavelmente sempre existirá, é que o ecossistema da Amazon é imposto ao usuário. Não há suporte a ebooks em ePub, o formato utilizado por qualquer outra loja do mundo que não a Amazon — é necessário quebrar o DRM e converter esses livros manualmente. E se você trouxer documentos convertidos, perderá os recursos da Amazon, como a sincronização de leitura, marcações e notas.

Comprar um Kindle, portanto, é mais do que comprar um dispositivo de leitura. É entrar no jogo da Amazon. E isso pode não ser bom no longo prazo.

Vale a pena?

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O veredicto do Kindle Oasis não poderia ser diferente. Ele é, sem dúvida, o melhor e-reader que a Amazon já produziu. Embora não seja perfeito, a empresa de Jeff Bezos chegou quase à perfeição, com design ergonômico e bem acabado, tela de qualidade impecável e software refinado. A dúvida é se vale a pena gastar os 1.399 reais que a Amazon está pedindo.

A resposta é um sonoro “não”. Não porque o Kindle Oasis seja ruim, mas porque as vantagens não justificam o preço muito maior. Se eu fosse comprar um e-reader hoje, minha escolha seria o Kindle Paperwhite. Por um terço do valor (479 reais, ou ainda menos em promoções), ele entrega praticamente tudo o que você precisa para ter ótima experiência de leitura: o software é o mesmo, a bateria duradoura está presente e a tela de alta definição continua lá. Não é por acaso que ele ainda é o Kindle mais vendido do mundo.

Fica a esperança de que, nas futuras gerações, a Amazon leve a ótima ergonomia e os botões físicos do Kindle Oasis para os e-readers mais baratos. Um modelo semelhante ao Kindle Oasis, mas com preço de Kindle Paperwhite, ainda que sem a capa de couro com bateria integrada ou o acabamento mais refinado de vidro, seria um excelente dispositivo de leitura.

Se você é extremamente aficionado por livros e tem muito dinheiro sobrando, vá em frente: o Kindle Oasis é uma boa opção de compra. Você certamente trocará de smartphone pelo menos três vezes antes de querer comprar outro Kindle. Para todo o resto, o Kindle Paperwhite ainda tem a melhor relação custo-benefício.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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