Review DuckTales Remastered: uma viagem a um tempo em que jogar videogame era difícil

A gente mandava muito e nem sabia.

Giovana Penatti
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• Atualizado há 7 meses

Escrever o review de DuckTales Remastered não é uma tarefa fácil; é, aliás, uma das mais difíceis que já enfrentei desde que comecei a cobrir essa área. Ele não é um jogo que começa e termina nele mesmo; há uma série de fatores a serem considerados antes de analisar a experiência e falar do jogo em si.

A essa altura, você já sabe que ele é uma remasterização do game clássico de NES. O DuckTales original foi lançado em 1989 e, naquela época, os jogos eram bem diferentes. Os gráficos eram absurdamente mais simples, a jogabilidade era limitada, não havia tantos recursos para prender o jogador e a o jogo era bem curto. Isto é, se você fosse bom, mas muito bom.

Era esse o recurso utilizado para nos prender na frente da televisão e insistir no mesmo jogo por semanas e meses: eles eram difíceis. Talvez nem tanto pelo jogo em si – pelo menos na maioria dos casos – , mas pelo fato de haver uma quantidade limitada de vidas. Quando elas acabavam, era game over e precisava recomeçar tudo. Do zero. Sem choro (ok, às vezes com choro e controle voando na parede).

Então, com o passar dos anos e o desenvolvimento da tecnologia, os games ganharam recursos novos que os tornaram, de certa forma, mais fáceis. Só pelo fato de não ter mais game over, já é um alívio. O auto save também ajuda muito. E, por fim, as dicas na tela e “visões” do protagonista que mostram o que deve ser feito a seguir.

Press start

A primeira coisa que você faz ao começar um jogo em DuckTales Remastered é pegar sua animação nostálgica junto com sua experiência de jogar videogame a vida toda e ir direto na dificuldade média, que é o “normal” dos jogos de ação. Então, você começa a jogar e é relativamente simples. O jogo te dá as instruções no começo para aprender os controles – com o do Xbox, A pula, X evoca a bengalinha e os direcionais controlam o movimento do Tio Patinhas. Nenhum segredo.

A primeira fase também é fácil: se passa na mansão do personagem. Tive alguma dificuldade no chefão, mas mea culpa: acho que fiquei tão acostumada com os jogos me dizendo literalmente o que fazer que demorei para entender o que era necessário só observando seus movimentos. Nos outros chefes, não tive esse problema; acho que minha cabeça entendeu que precisava se virar sozinha rapidamente e aprendi sem dificuldades o que precisava para cada um. Além disso, não há tantos itens no cenário, de modo que, com alguns minutos de gameplay, você sabe o que cada um faz e entende a forma de utilizá-los.

Preciso fazer uma pausa e ser sincera: eu não joguei Ducktales Remastered na dificuldade média. Já havia testado um preview na E3 e o assessor da Capcom, naquela ocasião, me avisou para ir no fácil. Ignorei e passei vergonha; na hora de brincar em casa, já fui direto nela. E recomendo.

Quem está atrás de desafios pode se arriscar nas mais dificuldades maiores. Mas, desde o começo, encarei DuckTales Remastered como uma oportunidade de me divertir sem ter muito trabalho, um jogo casual, e não um desafio a ser vencido. Então, fui no fácil. E me diverti muito por cerca de três horas até completar todas as fases.

No nível fácil, não tem game over. Demorei para entender isso e passei algum tempo aflita, com a certeza de que meu progresso seria perdido se eu desse uma vacilada. Era tipo um efeito placebo causado pela minha experiência quando criança: ver os coraçõezinhos de vida vazios indicava que eu estava prestes a perder e precisaria começar do zero, então me esforcei mais que o normal para que isso não acontecesse. Ou seja, não ter game over te dá uma segurança, mas não torna a jogatina desleixada. Pelo contrário: vira questão de honra não morrer para não precisar dessa função.

Túnel do tempo

Queria poder detalhar mais as diferenças entre o jogo original e o Remastered, mas me lembro pouco do primeiro; ainda bem que tem o YouTube para ajudar nesse quesito. Pelos vídeos que vi, até a progressão das fases é a mesma, então quem se lembra do game provavelmente vai se recordar de tudo.

A principal diferença é óbvia: nos gráficos. O fundo é em 3D e os personagens iguais aos do desenho animado – literalmente, já que até a animação foi feita utilizando a mesma técnica e os dubladores foram mantidos. Tanto que quem faz a voz do Tio Patinhas é Alan Young, que hoje tem 93 anos. Infelizmente, o jogo está todo em inglês; seria excelente se a Capcom tivesse seguido a onda de adaptações de games 100% para o português. No entanto, dá para entender que esse é um trabalho que demanda muita grana e tempo, então perdoamos.

Mas que seria legal, isso seria. E provavelmente tornaria as partes de cinemática mais toleráveis; eu, particularmente, não tive paciência para ver quase nenhuma. Para pular, é preciso apertar Start e “Skip Cinematic”. Como a história não é profunda e não é necessário pegar as pistas do diálogo para entender o que fazer, dá para evitar todas elas.

Também há mudanças na trilha sonora, que ganhou uma roupagem mais atual e menos “robótica” que a primeira. Dá para dizer que aconteceu a mesma coisa que nos gráficos: rolou uma atualizada, mas sem perder a essência. Como o próprio nome diz, ele é a versão antiga remasterizada e isso fica claro em todos os aspectos, desde os cosméticos até in-game, como a possibilidade de nadar no cofre de dinheiro do Tio Patinhas e de usar seu rico dinheirinho virtual para desbloquear artes conceituais e outras ilustrações. Isso não muda nada no jogo, mas é um “a mais” da versão atual.

Conclusão

DuckTales Remastered não é um jogo como os que nos acostumamos nos últimos anos (na última década!) e pelos quais esperamos o ano todo, mas é uma deliciosa viagem ao passado – e, por isso, deve receber bastante atenção.

Talvez seus defeitos nem sejam tanto culpa dele, mas de quem for jogar, por esperar uma coisa e encontrar outra. Não se iluda: você provavelmente verá DuckTales Remastered como um game casual. Ele é curto (dá para terminar em umas três horinhas, nem isso), simples e divertido, para disputar uma partidinha enquanto o jantar não fica pronto.

Também recomendo explorar as diversas possibilidades de jogo – que era o que fazíamos lá nos anos 90 para o caríssimo cartucho render por bastante tempo: zerar em todas as dificuldades, cronometrar e tentar bater o próprio tempo, brincar de morte súbita com os amigos… E o Steam ainda tem o sistema de achievements – são apenas 20, a maior parte obtida ao concluir as fases, mas há os que demandam um pouco mais de trabalho.

DuckTales Remastered está à venda a partir de hoje no Steam e PSN. NA Xbox Live, chega dia 11 de setembro.

Ah! Faltou a musiquinha que vai ficar na sua cabeça a semana toda:

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Giovana Penatti

Giovana Penatti

Ex-editora

Giovana Penatti é jornalista formada pela Unesp e foi editora no Tecnoblog entre 2013 e 2014. Escreveu sobre inovação, produtos, crowdfunding e cobriu eventos nacionais e internacionais. Em 2009, foi vencedora do prêmio Rumos do Jornalismo Cultural, do Itaú. É especialista em marketing de conteúdo e comunicação corporativa.