Review Sony Xperia M, um smartphone que chegou no momento errado

Smartphone intermediário tem chip dual-core de 1 GHz e tela de 4 polegadas.
Xperia M dual, com 4 GB de espaço, foi lançado no Brasil por R$ 899 no varejo.

Paulo Higa
• Atualizado há 5 meses

Em novembro, a Sony trouxe ao Brasil mais um smartphone Android para competir no concorrido mercado de aparelhos intermediários. O Xperia M foi lançado no varejo brasileiro por R$ 899 na versão com suporte a dois chips, brigando diretamente com produtos competentes como o Moto G. Para conquistar o usuário, a Sony aposta em design premium, desempenho e NFC, que permite conectar o smartphone a vários dispositivos com apenas um toque.

Será que o Xperia M é um bom smartphone para quem não quer gastar muito? Mais importante: custando mais que aparelhos que já se mostraram muito bons, será que a compra vale a pena? As respostas estão nos próximos parágrafos.

Design e pegada

A Sony tem feito smartphones muito atraentes desde a época da Sony Ericsson. Com o Xperia M não é diferente: temos aqui um aparelho muito bonito, sem os vários detalhes de vidro e metal dos dispositivos mais caros da Sony, mas ainda assim bem construído. A parte traseira tem uma curva suave, que melhora a ergonomia e lembra o velho Xperia arc.

O Xperia M traz alguns elementos de design também encontrados em outros aparelhos da marca, como o botão liga/desliga de alumínio, o aro metálico em volta da lente da câmera e um LED de notificações diferenciado: em vez de simplesmente colocar um pequeno pontinho próximo à câmera frontal, a Sony incluiu um bonito LED com iluminação que se espalha para as laterais na parte inferior do aparelho, como no Xperia ZQ.

A frente do Xperia M possui uma câmera para chamadas em vídeo (que não impressiona pela qualidade), o alto-falante para ligações telefônicas, um discreto orifício para o microfone e uma tela TFT LCD de 4 polegadas com resolução de 854×480 pixels. Na traseira, estão a lente da câmera de 5 MP, o flash LED, um segundo microfone para reduzir o ruído e a saída de áudio, que emite som alto e sem distorções.

A lateral direita possui o botão liga/desliga de alumínio, o controle de volume e o sempre útil botão dedicado para a câmera, que desbloqueia o aparelho com a tela desligada e possui duas fases, sendo uma para focar e outra para capturar a foto. O conector para o fone de ouvido de 3,5 mm está centralizado na borda superior do aparelho, enquanto a porta Micro USB está na lateral esquerda.

Ao remover a tampa traseira, podemos encontrar a bateria de 1.750 mAh, dois slots para Micro-SIM (o modelo que testamos é o Xperia M dual) e a entrada para cartão microSD de até 32 GB, ótimo para quem carrega muitas músicas, vídeos, fotos e podcasts no celular, já que o armazenamento interno do aparelho é bem limitado: são 4 GB de memória flash, sendo que apenas 2,01 GB estão disponíveis para o usuário.

Tela

Com exceção do Xperia Z Ultra, a Sony não tem conseguido colocar telas realmente boas em seus smartphones. Até mesmo os aparelhos mais caros têm visores abaixo da concorrência, como no caso do Xperia ZQ e Xperia Z1, que possuem muitos pixels, mas pouca qualidade na prática. E com o Xperia M, significativamente mais barato que os outros aparelhos da linha, a história se repete: temos aqui uma tela apenas razoável.

A tela do Xperia M tem painel TFT LCD de 4 polegadas com resolução de 854×480 pixels, resultando em uma densidade de 245 pixels por polegada. É possível notar claramente que a definição não é tão alta quanto a dos aparelhos mais caros, já que as fontes pequenas ficam com serrilhados nas bordas, mas é possível ler textos tranquilamente.

O conhecido problema do ângulo de visão que afeta boa parte dos aparelhos da Sony está presente aqui: é difícil enxergar alguns itens da tela com o Xperia M sobre a mesa, e pequenas inclinações são suficientes para variar significativamente as tonalidades, prejudicando a fidelidade de cores.

A maior decepção fica por conta da relação de brilho, que é mais baixa que a dos concorrentes. Mesmo no nível máximo, a tela fica um pouco apagada, o que afeta especialmente a visualização sob a incidência de luz externa. Se o dia estiver muito ensolarado, invariavelmente será necessário fazer malabarismos para gerar sombra para enxergar bem o conteúdo da tela.

Software e multimídia

O Android 4.2.2 do Xperia M traz a típica personalização da Sony que, embora seja odiada por alguns, me agrada bastante. Há telas bem desenhadas, aplicativos com interfaces de muito bom gosto e nada de excesso de recursos de utilidade duvidosa, como fazem alguns fabricantes coreanos. Ainda considero a interface original do Android superior, mas não tenho muito do que reclamar da interface da Sony.

Praticamente todos os aplicativos nativos tiveram a interface alterada, como o discador, SMS, alarme, calendário e até calculadora. Há certas adições interessantes, como o relógio mundial e a previsão do tempo no aplicativo de alarme, e um painel secundário no aplicativo de calendário, que mostra os eventos do dia selecionado. Algumas dessas modificações bem que poderiam estar também no Android original.

Os aplicativos de multimídia são idênticos ao do Xperia ZQ, smartphone topo de linha que passou por aqui em maio. Se você não leu o review, vamos relembrar:

O Walkman é o player de música. O aplicativo possui integração com o banco de dados da Gracenote, então é possível preencher automaticamente as tags da sua biblioteca com o toque de um botão. Ele também detecta o ritmo das músicas para colocá-las em categorias como Noite, Relaxar, Animado e Suave, num recurso chamado SensMe. E dá para encontrar a letra da música ou informações sobre o artista através de um menu rápido.

No equalizador do Walkman, é possível ativar efeitos como o Surround, usar o Clear Phase para melhorar a qualidade de som do alto-falante e o habilitar o xLOUD para intensificar o volume. Esses recursos funcionam bem, e o som externo possui excelente qualidade de áudio, logo, o Xperia M não deve decepcionar na hora de assistir a vídeos ou tocar músicas para todo mundo ouvir.

O player de vídeos é simples e não faz nada muito além de reproduzir filmes, sem suporte a legendas. Ele deve ser útil para quem assiste a episódios de séries no celular: transfira vários vídeos para o celular, e o player se encarrega de detectar a temporada, o número do episódio e o nome da série com base no nome do arquivo. Como os vídeos ficam organizados, é muito mais fácil encontrá-los depois.

E sim, o Xperia M possui rádio FM!

Há pequenas diferenças na interface em relação aos aparelhos mais novos da Sony, como Xperia Z1 e Xperia Z Ultra. O menu de aplicativos, embora deixe o usuário fazer buscas e ordenar os ícones de diferentes formas (classificação pessoal, ordem alfabética, mais usados e instalados recentemente), não possui aquele painel lateral que dá acesso ao Google Play.

A tela do gerenciador de tarefas continua com os mini aplicativos, como calculadora, agenda e até navegador, de modo que você pode navegar em um site enquanto assiste a um vídeo, por exemplo. No entanto, não é possível abrir mais de um mini aplicativo ao mesmo tempo. Considerando que o Xperia M tem uma tela relativamente pequena, de 4 polegadas, essa limitação até faz sentido.

Hardware e conectividade

Para um Android lançado em novembro de 2013 no Brasil, o hardware do Xperia M é um pouco desatualizado. Ele vem com um Snapdragon S4 Plus lançado no segundo semestre de 2012, que traz processador dual-core de 1 GHz e GPU Adreno 305. É o mesmo SoC que acompanha alguns Windows Phones mais baratos, como os Lumias 520 e 620, que chegaram ao país no começo do ano.

O desempenho é satisfatório, mas confesso que senti algumas travadinhas durante o uso. Essas engasgadas aconteciam principalmente nas animações do sistema: a interface da Sony roda suave como manteiga nos aparelhos mais caros, mas parece pesada demais para o hardware simples do Xperia M. A RAM de 1 GB consegue dar conta de manter vários aplicativos abertos, desde que eles não sejam muito pesados. Ao sair de um jogo mais elaborado, os ícones e widgets na tela inicial frequentemente são recarregados.

Nos benchmarks, ele foi significativamente pior que outro aparelho um pouco mais barato, o Moto G.

Entre as conexões, além do HSPA+, Wi-Fi 802.11n e Bluetooth 4.0, temos o NFC. Para testar o NFC, a Sony nos enviou um simpático fone de ouvido estéreo Bluetooth, modelo SBH20. Conectá-lo ao Xperia M é bem simples: pegue o fone, encoste-o na parte traseira do aparelho e… É só isso mesmo. Trata-se de um fone de ouvido prático e de boa qualidade, mas é difícil recomendar a compra sabendo que ele custa 239 reais.

O armazenamento interno é bastante limitado. O Xperia M tem memória flash de 4 GB, mas metade é ocupada pelo sistema e apenas 2,01 GB estão disponíveis para o usuário. Para um aparelho vendido por R$ 899, é um grande pecado: há opções com até 16 GB de memória na mesma faixa de preço.

Pelo menos a Sony compensou a limitação com a entrada para microSD, que aceita cartões de até 32 GB. Quem costuma carregar muitas músicas e vídeos no celular não deverá ficar desapontado. Em aparelhos mais baratos, que trazem pouco espaço interno, como o Xperia M, o slot para microSD ainda é indispensável.

Câmera

Foto em ambiente interno, com iluminação prejudicada e corte em 100%: ruído para todo lado
Foto em ambiente interno, com iluminação prejudicada e corte em 100%: ruído para todo lado

Mesmo para um aparelho mais simples, a câmera do Xperia M é decepcionante. As fotos têm ruído excessivo, especialmente em ambientes internos. O alcance dinâmico é bastante limitado: não são raras as vezes em que determinadas partes da foto ficam estouradas e outras muito escuras. O HDR até ajuda um pouco, mas não faz milagres.

Logo abaixo estão algumas fotos de teste tiradas com o Xperia M em diversas condições de iluminação. As imagens não foram editadas e os dados EXIF estão preservados. Abra as fotos em nova aba para visualizá-las em resolução total (2560×1440 ou 3,7 MP em proporção 16:9). Em algumas delas, o excesso de saturação é notável.

A gravação de vídeo também não é boa. As imagens ficam com pouca definição e excessivamente saturadas.

Conclusão: se você prioriza a qualidade da câmera em um smartphone, o Xperia M definitivamente não é para você. Dá até para tirar algumas fotos bacanas para compartilhá-las em baixa resolução nas redes sociais, mas nada além disso. Nessa faixa de preço, é uma das piores câmeras que já passou pelo Tecnoblog.

Bateria

A Sony colocou uma bateria de 1.750 mAh no Xperia M, que dá conta do recado se você não for um usuário que jogue com frequência ou use muito a rede de dados. Com o meu uso, que envolve basicamente ouvir duas horas de música, usar redes sociais por 40 minutos no 3G e deixar as notificações ligadas o dia todo, sempre com o brilho no automático, consegui sair de casa às 10h e chegar às 21h com algo entre 20% e 40% de carga.

O aparelho obteve bom desempenho nos nossos testes de bateria, que envolvem execução de arquivos multimídia, navegação na web, ligação telefônica e jogos. A tabela completa e uma descrição detalhada da metodologia do teste podem ser conferidos neste link.

Com uso intenso, o gasto de bateria foi de 63%, ou seja, em três horas, o nível de bateria caiu de 100% para 34%. Com uso moderado, o gasto foi de 33%. Comparando com os smartphones que já testamos, ele foi melhor que o RAZR D3 (67% e 40% em uso intenso e moderado, respectivamente) e Lumia 620 (74% e 44%), mas pior que o Moto G (55% e 25%).

Pontos negativos

  • Câmera ruim: fotos e vídeos com muito ruído, saturação excessiva e pouca definição.
  • Desempenho inconsistente; pequenos engasgos nas animações do sistema.
  • Pouco armazenamento interno disponível para o usuário.
  • Preço alto para o que oferece.
  • Tela com pouco brilho e ângulo de visão limitado.

Pontos positivos

  • Alto-falante de boa qualidade.
  • Design atraente e pegada confortável.
  • Entrada para cartão microSD.
  • NFC.

Conclusão

Apesar de pecar em alguns detalhes, o Xperia M não é um smartphone ruim, mas é um smartphone que chegou no momento errado. Se ele tivesse sido lançado no começo do ano, competiria diretamente com o Motorola RAZR D3 e poderia ganhar em algumas características, como o design, o desempenho gráfico e a qualidade do áudio. O problema é que, meses depois, o principal concorrente do Xperia M é outro.

Hoje, a melhor opção dentro da faixa dos R$ 600 a R$ 1.000 é, sem sombra de dúvidas, o Moto G, que entrega mais em quase todos os aspectos e custa menos: enquanto o Xperia M dual está sendo vendido por R$ 899 no varejo ou R$ 799 nas lojas da TIM, o Moto G Dual tem preço sugerido de R$ 699. É uma diferença de 100 reais, que pode pesar no bolso de quem procura um smartphone dessa faixa de preço.

Em comparação com o Moto G Dual, o Xperia M dual tem câmera pior (em cores, ruído e definição), processador mais lento, menos espaço interno, sistema operacional mais antigo, tela pior (em resolução, definição, brilho, ângulo de visão e proteção contra arranhões), bateria que dura menos e preço até 28% maior. É um smartphone que, no momento atual do mercado brasileiro, não faz sentido.

O Xperia M pode até ser uma opção a se considerar para quem faz questão do NFC e da entrada para cartão de memória, apesar do Moto G Colors Edition, de 16 GB, ser encontrado por R$ 799, menos que o preço de varejo do aparelho da Sony. Caso contrário, há smartphones com custo-benefício superior.

Especificações técnicas

  • Bateria: 1.750 mAh.
  • Câmera: 5 megapixels (traseira) e VGA (frontal).
  • Conectividade: 3G, Wi-Fi 802.11n, GPS, NFC, Bluetooth 4.0, USB 2.0.
  • Dimensões: 124 x 62 x 9,3 mm.
  • GPU: Adreno 305.
  • Kit contém: Sony Xperia M, fone de ouvido (3,5 mm), carregador, cabo USB e manuais de instrução.
  • Memória externa: suporte a cartão microSD de até 32 GB.
  • Memória interna: 4 GB (2,01 GB disponíveis para o usuário).
  • Memória RAM: 1 GB.
  • Peso: 115 gramas.
  • Plataforma: Android 4.2.2 (Jelly Bean).
  • Processador: dual-core Snapdragon S4 Plus de 1,0 GHz.
  • Sensores: acelerômetro, bússola, proximidade.
  • Tela: TFT LCD de 4 polegadas com resolução de 854×480 pixels.

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Escrito por

Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.