Google teria isolado equipes para impedir críticas a buscador censurado para a China

Segundo funcionários, o Google ignorou os alertas a respeito de pontos problemáticos no projeto Dragonfly

Victor Hugo Silva
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• Atualizado há 2 anos e 4 meses
Google

A versão censurada do Google para a China é defendida por muitos executivos da empresa, mas tem grande rejeição dos funcionários. Devido aos questionamentos, integrantes das equipes de segurança e privacidade foram isolados do projeto, também conhecido como Dragonfly.

Ao The Intercept, pessoas próximas ao desenvolvimento do buscador afirmam que foram afastadas por terem críticas à ferramenta. Uma das preoucupações era relacionada à infraestrutura do buscador, que dependeria de data centers em Pequim ou Xangai.

Isso faria o governo chinês ter ampla facilidade para acessar dados de usuários, incluindo adversários políticos, ativistas e jornalistas. Yonatan Zunger trabalhou por 14 anos no Google e era um dos engenheiros de um pequeno grupo de pessoas que conhecia o projeto.

Ele afirma ter alertado que o buscador voltado para a China poderia prejudicar quem pesquisasse por informações proibidas pelo governo. Segundo ele e outras três pessoas que ainda trabalham no Google e preferiram não se identificar, os alertas não foram levados em consideração.

Em vez disso, o chefe de operações do Google na China, Scott Beaumont, afastou alguns profissionais das reuniões ligadas ao Dragonfly. O objetivo era eliminar possíveis críticas a respeito da versão chinesa do Google.

Segundo uma das fontes ouvidas pelo The Intercept, a chefia do Google estava determinada a impedir que vazamentos sobre o Dragonfly se espalhassem na empresa. “Seu maior medo era que a oposição interna retardasse nossas operações”, afirma.

O Google chinês

Os planos sobre a versão chinesa do Google começaram a ser discutidos em 2016 por executivos como o CEO Sundar Pichai e o então chefe de buscas da empresa John Giannandrea. O projeto só foi levado aos engenheiros em 2017.

Eles criaram um aplicativo para Android e iOS que ligava as buscas dos usuários aos seus números de telefone e à sua localização. Em geral, os novos produtos da empresa passam pela revisão das equipes jurídica, de privacidade e de segurança, que buscam possíveis problemas antes do lançamento.

Foto por Zeyi Fan/Flickr

Para a versão chinesa, no entanto, o procedimento não foi seguido e os executivos mostraram pouco interesse pela revisão. “Equipes diferentes no projeto Dragonfly foram ativamente separadas umas das outras e desencorajadas a se comunicarem, exceto pela equipe de Scott [Beaumont]”, disse Zunger.

Segundo ele, isso é pouco usual dentro da empresa, que mesmo em projetos confidenciais costuma estimular a “comunicação aberta e regular”.

Apesar de certa resistência, as equipes de privacidade seguiram apontando pontos problemáticos no projeto. Um relatório com cerca de 12 páginas alertou que o Google funcionaria como parte do sistema de vigilância do Partido Comunista da China.

O documento também apontou que, ao contrário de outras regiões, seria quase impossível se recusar a atender as ordens do governo. Segundo Zunger, a ideia era apresentar o relatório em uma reunião com líderes da empresa, incluindo Pichai.

A reunião, no entanto, foi adiada e quando ela finalmente ocorreu, Zunger e membros da equipe de segurança não foram avisados. Para o engenheiro, este foi um recado claro de que a empresa queria isolá-los do projeto.

Zunger saiu do Google após receber uma oferta da Humu, uma startup da área de recursos humanos. Ele espera que, no final das contas, o Dragonfly consiga oferecer “algo genuinamente positivo e valioso para as pessoas comuns da China”.

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Victor Hugo Silva

Victor Hugo Silva

Ex-autor

Victor Hugo Silva é formado em jornalismo, mas começou sua carreira em tecnologia como desenvolvedor front-end, fazendo programação de sites institucionais. Neste escopo, adquiriu conhecimento em HTML, CSS, PHP e MySQL. Como repórter, tem passagem pelo iG e pelo G1, o portal de notícias da Globo. No Tecnoblog, foi autor, escrevendo sobre eletrônicos, redes sociais e negócios, entre 2018 e 2021.

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