Apple considerou usar DuckDuckGo como padrão no modo privado do Safari

Buscador focado em privacidade chegou a tentar um acordo com a Apple, mas diz que contrato com o Google impediu. Fabricante do iPhone também quis comprar o Bing.

Giovanni Santa Rosa
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Safari no iOS (Imagem: Brett Jordan/Flickr)
Safari no iOS (Imagem: Brett Jordan/Flickr)

O processo dos EUA contra o Google por suposto monopólio continua revelando bastidores do mercado. Gabriel Weinberg, CEO do DuckDuckGo, disse que a Apple esteve interessada em usar seu buscador como padrão no modo privado do Safari, mas o contrato dela com o Google não deixou. John Giannandrea, executivo da Apple, conta uma história um pouco diferente.

O DuckDuckGo é um buscador que promete uma proteção maior à privacidade dos usuários. Ele diz não criar perfis baseados nas buscas realizadas, por exemplo — coisa que o Google faz para direcionar anúncios. Weinberg foi uma das testemunhas do processo do Departamento de Justiça dos EUA contra o Google.

DuckDuckGo promete privacidade (Imagem: Reprodução/Tecnoblog)
DuckDuckGo promete privacidade (Imagem: Reprodução/Tecnoblog)

O CEO falou sobre o impacto que o acordo da gigante das buscas com fabricantes e outras empresas para ser o buscador padrão de computadores, smartphones e navegadores. Estima-se que o Google gaste anualmente US$ 10 bilhões nesses contratos.

Segundo Weinberg, o DuckDuckGo fechou um acordo com a Apple em 2014 para aparecer entre as opções de buscador do Safari, navegador padrão de Macs e iPhones.

A empresa também fez pressão para que seu produto fosse o padrão no modo privado do browser, que não armazena informações no histórico e tem proteções contra rastreamento. Faz sentido: seria uma opção com um grau maior de privacidade.

Weinberg relatou que a Apple pareceu muito interessada em 2016, e as conversas avançaram entre 2017 e 2018.

Os executivos da marca da maçã, porém, mostravam preocupação: o contrato com o Google podia impedir um acordo com o DuckDuckGo. Em 2019, a Apple abandonou a ideia.

O CEO disse ainda que o DuckDuckGo tentou abordar a Samsung e outras empresas, sem sucesso.

“Os contratos de cada uma dessas companhias com o Google foram cruciais para nos impedir de fechar acordos com elas”, declarou Weinberg.

Executivo diz que não é bem assim

John Giannandrea, que entrou na Apple em 2018 como chefe dos produtos de busca, contou uma história um pouco diferente. Ele diz que, até onde sabe, a empresa não considerou migrar para o DuckDuckGo.

Em um e-mail enviado para outros executivos da Apple em fevereiro de 2019, Giannandrea disse que a trocar era provavelmente uma má ideia.

Para o chefe de busca, o motivo para a troca seria apenas uma suposição de que o DuckDuckGo protegeria melhor a privacidade. O próprio Giannandrea suspeita disso, mencionando que o buscador usa resultados do Bing.

“Eu provavelmente insistiria em uma investigação mais profunda sobre o DuckDuckGo”, avalia o executivo.

De fato, o DuckDuckGo tem alguns contratos com a Microsoft. As propagandas que o buscador exibe são da rede de anúncios da empresa de Redmond.

Em um episódio mais controverso, um pesquisador descobriu que o navegador do DuckDuckGo (não o buscador) permite algum rastreamento da Microsoft, apesar de bloquear o de outras empresas, como Google e Meta.

Apple também considerou comprar Bing

Outro ponto que surgiu nos depoimentos do processo contra o Google foi a possibilidade de a Apple comprar o Bing.

As primeiras notícias sobre isso surgiram em setembro de 2023 e, agora, foram confirmadas pelos depoimentos.

Bing (Imagem: Divulgação/Microsoft)
Bing (Imagem: Divulgação/Microsoft)

A Apple se encontrou com a Microsoft em 2018 e 2020 para discutir uma compra do Bing ou uma joint venture entre as duas empresas.

Estudos mostraram, porém, que o Bing tinha resultados piores que o Google, exceto em buscas no desktop em inglês. O próprio Satya Nadella deve concordar.

Outra explicação que surgiu foi a de que essas conversas eram uma forma de pressionar o Google e conseguir um contrato mais vantajoso. A própria Microsoft sabia disso.

“Não é segredo para ninguém que a Apple ganha mais dinheiro por o Bing existir [em negociações assim] do que o próprio Bing [ganha com suas operações]”, disse Mikhail Parakhin, chefe de publicidade e serviços web da Microsoft.

Com informações: Bloomberg, Reuters, The Verge

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Giovanni Santa Rosa

Giovanni Santa Rosa

Repórter

Giovanni Santa Rosa é formado em jornalismo pela ECA-USP e cobre ciência e tecnologia desde 2012. Foi editor-assistente do Gizmodo Brasil e escreveu para o UOL Tilt e para o Jornal da USP. Cobriu o Snapdragon Tech Summit, em Maui (EUA), o Fórum Internacional de Software Livre, em Porto Alegre (RS), e a Campus Party, em São Paulo (SP). Atualmente, é autor no Tecnoblog.

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