Roblox e mais jogos ajudam psicólogos a tratar ansiedade em crianças

Pesquisadores da saúde mental defendem que videogames podem ser usados durante sessões de terapia com crianças para aliviar pensamentos angustiantes

Murilo Tunholi
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Roblox (Imagem: Divulgação/Roblox Corporation)

Além de serem divertidos, os videogames estão sendo usados por profissionais da saúde mental para tratar ansiedade e depressão em crianças. O psicólogo de casais e famílias Monet Goldman, morador da Califórnia, nos EUA, incorporou os jogos da plataforma Roblox em suas sessões e, com isso, conseguiu se conectar com seus pacientes de forma virtual e interativa.

É comum que crianças se sintam intimidadas ou ansiosas em sessões de terapia, afinal é um ambiente desconhecido para elas. A situação tende a piorar quando o encontro com o psicólogo precisa ser virtual, devido às limitações impostas pela pandemia da COVID-19, por exemplo.

Em uma sessão com duas crianças pelo Zoom, Goldman se viu em uma posição complicada. Os dois meninos não queriam falar e ficavam o tempo todo com suas câmeras desligadas. Para quebrar o gelo, o psicólogo perguntou a ambos os jovens qual era o jogo de Roblox preferido deles.

Após algum tempo, um dos meninos respondeu “Brookhaven” — um jogo de interpretação que se passa em uma cidade bastante movimentada — e começou a se sentir mais confortável para falar com o psicólogo sobre o game. Daí para frente, Goldman decidiu levar seu consultório para dentro do Roblox e atender crianças dentro do mundo virtual.

Usando seus avatares e estando em um lugar conhecido, as crianças ficam mais confortáveis e conseguem falar com mais facilidade sobre seus problemas e sentimentos. Hoje, Goldman tem usado esse tipo de atendimento virtual até mesmo para conversar com adolescentes e adultos que se sentem mais seguros dentro dos mundos virtuais.

Uso de jogos para tratar ansiedade ainda divide opiniões

Mesmo com esses resultados positivos de Goldman, os videogames ainda dividem opiniões entre psicólogos e psiquiatras em todo o mundo. Em entrevista ao Wired, a psicóloga e autora do livro Understanding Bipolar Disorder, Aimee Daramus, explica que “jogos são capazes de atrair e manter a atenção das pessoas”, ajudando a controlar pensamentos angustiantes.

Durante suas próprias sessões, por exemplo, Daramus incentiva seus pacientes a jogarem um pouco de videogame para relaxarem. Além disso, um estudo publicado em 2017 na revista Prevention Science comprovou que o jogo MindLight foi capaz de ajudar no tratamento de ansiedade em crianças. Outra pesquisa, da East Carolina University, mostrou que games podem ser até mais efetivos que remédios.

MindLight é um jogo que usa a mente do jogador como controle (Imagem: Divulgação/PlayNice)

Por outro lado, alguns profissionais não concordam com essa prática e ficam preocupados com os possíveis malefícios dos videogames, como vício e exposição prolongada a telas. Na China, por exemplo, o governo limitou o tempo de jogo de crianças em apenas três horas semanais e somente aos fins de semana.

Além dos chineses, psicólogos de outros países compartilham dessa mesma visão. Larry Rosen, professor do Departamento de Psicologia da California State University, e Dominguez Hills, coautor do livro The Distracted Mind: Ancient Brains in a High-Tech World, explicam que videogames podem causas mudanças de comportamento que levam ao vício.

Ao jogar, nosso corpo libera neurotransmissores como dopamina, serotonina e outras substâncias que melhoram o humor, causando vício. E as empresas responsáveis por criar os games se aproveitam disso para manter você jogando — e gastando dinheiro, por consequência.

De qualquer forma, ainda não há um consenso sobre a relação entre videogames e saúde mental. Qualquer outra atividade que estimule nosso cérebro também pode causar vício, quando feita em excesso. Por isso, é sempre importante encontrar um equilíbrio e manter o acompanhamento com um profissional.

Com informações: Wired.

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Murilo Tunholi

Murilo Tunholi

Ex-autor

Jornalista, atua como repórter de videogames e tecnologia desde 2018. Tem experiência em analisar jogos e hardware, assim como em cobrir eventos e torneios de esports. Passou pela Editora Globo (TechTudo), Mosaico (Buscapé/Zoom) e no Tecnoblog, foi autor entre 2021 e 2022. É apaixonado por gastronomia, informática, música e Pokémon. Já cursou Química, mas pendurou o jaleco para realizar o sonho de trabalhar com games.

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