É vídeo que você quer? Então toma
O Instagram agora prioriza conteúdos em vídeo para dar conta dos novos interesses dos usuários; apesar das reclamações, a mudança parece ser um caminho sem volta
O Instagram agora prioriza conteúdos em vídeo para dar conta dos novos interesses dos usuários; apesar das reclamações, a mudança parece ser um caminho sem volta
Apesar do título deste texto, não tem nenhum vídeo aqui. Pedimos desculpas. Mas o ponto é que você quer assistir mais vídeo. Pelo menos é essa a justificativa de Adam Mosseri, CEO do Instagram, para explicar as mudanças pelas quais a plataforma está passando.
As mudanças estão sendo sinalizadas desde o ano passado, mas tiveram início oficial apenas em julho de 2022. E podemos resumi-las numa única palavra: vídeo. O Instagram, basicamente, vai focar seus esforços em ser uma plataforma de vídeos.
Quem lê sobre as modificações implementadas – feed em tela cheia, mais vídeos curtos recomendados por algoritmo – certamente vai se lembrar do TikTok, principal concorrente do Instagram. E, de fato, essa parece ser a principal inspiração para esse redesenho da plataforma. O aplicativo da ByteDance colocou a Meta para correr atrás do tempo e dos usuários perdidos.
Não é à toa que as reações dos usuários insatisfeitos apontaram justamente para essa semelhança. Através da hashtag #MakeInstagramInstagramAgain, muitos pediam que a plataforma que não tentasse copiar o TikTok, e voltasse a ser aquilo que era.
Só há um problema: talvez Mosseri & cia. não tenham escolha.
A lógica do Instagram era bastante simples no início: você segue as pessoas para ver as fotos que elas postam. O suporte a vídeos acabou sendo liberado, mas ainda se pensava no aplicativo como um espaço dedicado a imagens estáticas. Mas, como acontece com toda rede social, as funcionalidades tiveram que ser repensadas a partir das respostas do público.
Mosseri argumenta que, mesmo sem nenhuma mudança no desenho do Instagram, os usuários já estão compartilhando e interagindo mais com vídeos do que fotos. As modificações que estão sendo testadas dialogam com esse interesse já manifesto por quem usa o aplicativo. Nesse sentido, ignorar a tendência seria o mesmo que alienar a sua audiência. E, com a ameaça do TikTok pairando, não seria inteligente nadar contra a corrente.
O interesse por vídeos salienta que o Instagram agora opera numa lógica de entretenimento, e não tanto de sociabilidade. As pessoas já não usam tanto o feed para interagir com amigos e manter contatos; esse aspecto agora se concentra nas DMs e stories. Os vídeos – de preferência, curtos – se tornaram o ouro do Instagram, o conteúdo que realmente envolve seus usuários. E, combinados com o algoritmo de recomendação, formam a dupla que garante maior retenção.
No fim das contas, é disso que qualquer rede social depende.
Com todo o burburinho negativo de parte do público – incluindo aí celebridades como Kylie Jenner e Kim Kardashian –, Mosseri foi obrigado a voltar atrás. Mas não muito. De modo geral, o Instagram vai repensar como vídeos serão integrados à plataforma, não o novo foco em vídeos. Trata-se de uma decisão tomada a partir de dados e, portanto, um caminho sem volta.
Ampliando um pouco o foco, podemos perceber que as fotos do Instagram não são o único tipo de conteúdo que tem sido impactado pelo vídeo. Até poucos anos atrás, a palavra podcast jamais seria associada a nada além de áudio. Hoje, uma série de programas transmitidos pelo Youtube se definem como podcasts. Um formato que se definia pelo ouvir tem sido apropriado pelo audiovisual.
Talvez o exemplo mais conhecido nesse contexto seja o americano Joe Rogan, que sempre apostou no Youtube. Hoje um exclusivo do Spotify, seu podcast – ou “mesacast”, termo que vem sendo usado para descrever esse tipo de conteúdo – é o mais ouvido do mundo. No Brasil, nomes como Flow, Podpah e Inteligência Ltda são alguns dos principais exemplos.
Aqui, a lógica é diferente do que acontece no TikTok e Instagram, já que os episódios tendem a ser bem longos. São comuns as entrevistas que ultrapassam as três horas de duração. Ao mesmo tempo, criam-se os cortes, partículas do conteúdo maior que ultrapassam o YouTube e viralizam inclusive em outras redes. Esses programas ainda estão disponíveis apenas em áudio no seu player favorito, mas sem dúvidas o vídeo se tornou o aspecto mais importante deles.
E, assim como o Instagram procura responder ao aumento no consumo de vídeo, o Spotify tenta o mesmo. A plataforma agora aceita também o envio de vídeos através do Anchor, seu serviço para distribuição de podcasts. O resultado é um player que te permite ouvir só o áudio ou, caso você prefira ir além, assistir ao podcast em questão (por mais estranho que isso soe). A empresa sueca tenta correr atrás do Youtube, assim como Instagram está no encalço do TikTok.
O vídeo tomou conta de tudo.