É vídeo que você quer? Então toma

O Instagram agora prioriza conteúdos em vídeo para dar conta dos novos interesses dos usuários; apesar das reclamações, a mudança parece ser um caminho sem volta

Josué de Oliveira
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• Atualizado há 11 meses
Os vídeos estão deixando as outras formas de conteúdo para trás (Imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)
Os vídeos estão deixando as outras formas de conteúdo para trás (Imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)

Apesar do título deste texto, não tem nenhum vídeo aqui. Pedimos desculpas. Mas o ponto é que você quer assistir mais vídeo. Pelo menos é essa a justificativa de Adam Mosseri, CEO do Instagram, para explicar as mudanças pelas quais a plataforma está passando.

As mudanças estão sendo sinalizadas desde o ano passado, mas tiveram início oficial apenas em julho de 2022. E podemos resumi-las numa única palavra: vídeo. O Instagram, basicamente, vai focar seus esforços em ser uma plataforma de vídeos.

Quem lê sobre as modificações implementadas – feed em tela cheia, mais vídeos curtos recomendados por algoritmo – certamente vai se lembrar do TikTok, principal concorrente do Instagram. E, de fato, essa parece ser a principal inspiração para esse redesenho da plataforma. O aplicativo da ByteDance colocou a Meta para correr atrás do tempo e dos usuários perdidos.

Não é à toa que as reações dos usuários insatisfeitos apontaram justamente para essa semelhança. Através da hashtag #MakeInstagramInstagramAgain, muitos pediam que a plataforma que não tentasse copiar o TikTok, e voltasse a ser aquilo que era.

Só há um problema: talvez Mosseri & cia. não tenham escolha.

Vídeo + algoritmo é a receita para retenção

A lógica do Instagram era bastante simples no início: você segue as pessoas para ver as fotos que elas postam. O suporte a vídeos acabou sendo liberado, mas ainda se pensava no aplicativo como um espaço dedicado a imagens estáticas. Mas, como acontece com toda rede social, as funcionalidades tiveram que ser repensadas a partir das respostas do público.

Logotipo do Instagram
Instagram (Imagem: Vitor Pádua / Tecnoblog)

Mosseri argumenta que, mesmo sem nenhuma mudança no desenho do Instagram, os usuários já estão compartilhando e interagindo mais com vídeos do que fotos. As modificações que estão sendo testadas dialogam com esse interesse já manifesto por quem usa o aplicativo. Nesse sentido, ignorar a tendência seria o mesmo que alienar a sua audiência. E, com a ameaça do TikTok pairando, não seria inteligente nadar contra a corrente.

O interesse por vídeos salienta que o Instagram agora opera numa lógica de entretenimento, e não tanto de sociabilidade. As pessoas já não usam tanto o feed para interagir com amigos e manter contatos; esse aspecto agora se concentra nas DMs e stories. Os vídeos – de preferência, curtos – se tornaram o ouro do Instagram, o conteúdo que realmente envolve seus usuários. E, combinados com o algoritmo de recomendação, formam a dupla que garante maior retenção.

No fim das contas, é disso que qualquer rede social depende.

“Podcast em vídeo” ainda é podcast?

Com todo o burburinho negativo de parte do público – incluindo aí celebridades como Kylie Jenner e Kim Kardashian –, Mosseri foi obrigado a voltar atrás. Mas não muito. De modo geral, o Instagram vai repensar como vídeos serão integrados à plataforma, não o novo foco em vídeos. Trata-se de uma decisão tomada a partir de dados e, portanto, um caminho sem volta.

Ampliando um pouco o foco, podemos perceber que as fotos do Instagram não são o único tipo de conteúdo que tem sido impactado pelo vídeo. Até poucos anos atrás, a palavra podcast jamais seria associada a nada além de áudio. Hoje, uma série de programas transmitidos pelo Youtube se definem como podcasts. Um formato que se definia pelo ouvir tem sido apropriado pelo audiovisual.

Talvez o exemplo mais conhecido nesse contexto seja o americano Joe Rogan, que sempre apostou no Youtube. Hoje um exclusivo do Spotify, seu podcast – ou “mesacast”, termo que vem sendo usado para descrever esse tipo de conteúdo – é o mais ouvido do mundo. No Brasil, nomes como Flow, Podpah e Inteligência Ltda são alguns dos principais exemplos.

Aqui, a lógica é diferente do que acontece no TikTok e Instagram, já que os episódios tendem a ser bem longos. São comuns as entrevistas que ultrapassam as três horas de duração. Ao mesmo tempo, criam-se os cortes, partículas do conteúdo maior que ultrapassam o YouTube e viralizam inclusive em outras redes. Esses programas ainda estão disponíveis apenas em áudio no seu player favorito, mas sem dúvidas o vídeo se tornou o aspecto mais importante deles.

E, assim como o Instagram procura responder ao aumento no consumo de vídeo, o Spotify tenta o mesmo. A plataforma agora aceita também o envio de vídeos através do Anchor, seu serviço para distribuição de podcasts. O resultado é um player que te permite ouvir só o áudio ou, caso você prefira ir além, assistir ao podcast em questão (por mais estranho que isso soe). A empresa sueca tenta correr atrás do Youtube, assim como Instagram está no encalço do TikTok.

Spotify
O Spotify quer que você “assista” podcasts (Imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)

O vídeo tomou conta de tudo.

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Josué de Oliveira

Josué de Oliveira

Produtor audiovisual

Josué de Oliveira é formado em Estudos de Mídia pela UFF. Seu interesse por podcasts vem desde a adolescência. Antes de se tornar produtor do Tecnocast, trabalhou no mercado editorial desenvolvendo livros digitais e criou o podcast Randômico, abordando temas tão variados quanto redes neurais, cartografia e plantio de batatas. Está sempre em busca de pautas que gerem conversas relevantes e divertidas.

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