Tecnologia, eleições e a luta do Facebook contra a disseminação de boatos
É preciso falar do elefante na sala. Sim, Donald Trump, contrariando praticamente todas as estatísticas, venceu as eleições presidenciais dos Estados Unidos. E antes que esse post seja só mais um entre tantos textos enfadonhos sobre política, garanto que vamos falar aqui de tecnologia e comportamento, não se preocupem. Portanto, sente-se confortavelmente e venha comigo.
O impacto da tecnologia em sistemas eleitorais
Há alguns anos as redes sociais vêm ganhando mais poder de mídia, poder de disseminar informação. Seja através da influência social, da capacidade de viralizar algo ou da inteligência eletrônica aplicada às campanhas. Esse potencial todo pode ser usado para algo construtivo, ou para coisas que infelizmente são bastante prejudiciais. Por exemplo: disseminar boatos.
Veja bem, existe um bug em nosso cérebro. Sim, o cérebro humano é cheio de falhas, à propósito. Um deles é uma tendência a interpretar informações ou se ater a dados de forma que eles apenas confirmem as crenças ou nossas hipóteses iniciais, ao contrário do que aprendemos através do método científico. Esse bug, que nos incentiva a concordar apenas com o que já concordamos é chamado viés de confirmação. É uma espécie de viés cognitivo, ou um erro de raciocínio indutivo. Pois bem…
Nas redes sociais, as pessoas têm o péssimo costume de compartilhar somente coisas que elas concordam, muitas vezes (na maioria das vezes) sem checar a fonte, sem confirmar a veracidade daquilo que está sendo dito.
Aliás, adolescentes na Macedônia descobriram uma forma de fazer muito dinheiro com esse bug cerebral. Durante as eleições americanas, eles criaram mais de 100 sites pró-Trump, cheios de notícias falsas sobre o candidato, seus concorrentes e adversários políticos, que eram compartilhadas aos montes em perfis de pessoas que acreditavam ou concordavam com aquilo. Com isso, os adolescentes chegaram a faturar US$ 3 mil por dia com esse tipo de viralização.
Afinal, sempre vai ter alguém disposto a ganhar dinheiro com a desgraça alheia. Sim, desgraça. Esse tipo de desinformação é extremamente nociva.
Como vocês devem saber, eu moro nos Estados Unidos e o resultado dessas eleições impacta diretamente a minha vida. E, acredite ou não, indiretamente a sua.
E tenho para mim que todo mundo aqui, todos os eleitores, querem praticamente a mesma coisa: um lugar melhor para se viver. A gente tem opiniões diferentes sobre os mesmos tópicos, varia-se uma coisa aqui e outra ali, mas tudo isso é trabalhável e o país pode continuar evoluíndo desde que toda essa troca de ideias aconteça pautada em fatos.
Acontece que a base de informação que essas pessoas estão usando para pautar suas opiniões não são fatos. São boatos. E, mesmo cientes que o Facebook não é diretamente uma agência de notícias, vivemos num mundo onde 62% dos adultos americanos consomem notícias por meio do Facebook. Essas pessoas votam, e o resultado dessas eleições reflete imediatamente na vida de todos. E se torna um problema extremamente crítico.
Inclusive, existem algumas pessoas que culpam o próprio Facebook pelo resultado desastroso dessas eleições.
Facebook na luta contra boatos
O problema é tão grave que Adam Mosseri, vice-presidente do Facebook, disse ao TechCrunch que eles estão trabalhando em maneiras de diminuir o alcance de posts que contenham informações falsas.
“Nós tomamos esse tipo de informação falsa com grande seriedade. Valorizamos a comunicação autêntica e sabemos que os nossos usuários preferem não ver desinformação”, disse Mosseri. Que completou: “Em nossa linha do tempo nós utilizamos várias maneiras de coletar feedback dos usuários para determinar se um post contém informação equivocada e reduzimos sua distribuição”.
Quando questionado sobre detalhes de como esses mecanismos funcionam, Mosseri divagou. Em vez de explicar, ele disse que mesmo com esses esforços o Facebook está ciente de que eles precisam fazer mais, que eles precisam melhorar a forma de detectar e conter essa desinformação e propagação de boatos.
O que nós podemos fazer?
Em épocas de redes sociais, as pessoas de fato vivem em bolhas. Claro, ninguém é obrigado a se forçar a ter contato com gente babaca, mas habitue-se a ler sites de notícias que publicam coisas que, geralmente, você discorda.
Treine seu posicionamento para conseguir estar disposto a ouvir o que as pessoas têm a dizer. E ouça! Com sinceridade e boa vontade. Não para responder e provar que você tem razão, mas para ponderar à respeito.
E, por favor, peça que seus amigos parem de compartilhar boatos nas redes sociais. Chequem as fontes. Confirmem a veracidade do que está sendo dito. Pelo sim ou pelo não, sempre opte pelo não. Não divulgue algo até que você tenha certeza que é verdade, mesmo que você concorde com o que está sendo dito.
Lembre-se do bug cerebral do viés de confirmação. Vamos trabalhar para corrigir isso? E apesar de várias coisas que nos dizem em contrário, esperemos por um futuro melhor.
Esse post reflete a opinião do autor e não do Tecnoblog como um todo.