Por que eu ainda uso Python, mesmo depois de quase 20 anos
"Uso Python desde 2006 e todo ano me pergunto se esta ainda é a linguagem de programação certa para mim", escreve o programador e autor Eric Matthes
"Uso Python desde 2006 e todo ano me pergunto se esta ainda é a linguagem de programação certa para mim", escreve o programador e autor Eric Matthes
Em 2006, eu estava trabalhando em um projeto grande em Java. Um amigo me disse que eu deveria dar uma chance ao Python: “seus programas farão a mesma coisa, eles só terão um terço do tamanho que tinham em Java”. Essa foi uma afirmação ousada, mas quando olhei para um arquivo de mil linhas, pareceu realmente uma boa ideia descobrir se ele estava certo.
Reescrever aquele primeiro projeto em Python foi mágico. Conforme reimplementei as seções do projeto, observei meus arquivos ficarem mais curtos e mais fáceis de entender. Sempre gostei de programar, mas escrever em Python dava uma sensação diferente. Ideias que pareciam estranhas na época se tornaram conceitos que faziam todo o sentido em retrospecto.
Meus arquivos tinham um visual mais consistente e bem-estruturado, e eram muito mais fáceis de ler, revisar e fazer debug. Além disso, eles eram simplesmente divertidos de se escrever. Quando concluí o projeto, os arquivos tinham, de fato, menos da metade do tamanho dos arquivos Java correspondentes.
Este conteúdo foi publicado originalmente na newsletter Mostly Python do programador e escritor Eric Matthes. O texto foi traduzido, adaptado e republicado pelo Tecnoblog com autorização do autor.
Eu cresci nos anos 70 e 80, e meu pai era engenheiro de software na época. Tínhamos um computador em nosso porão antes que a maioria das pessoas sequer pensasse em ter uma dessas máquinas em casa. Aprendi os fundamentos de programação quando tinha nove ou dez anos; os primeiros programas que escrevi foram em BASIC.
Nos vinte anos seguintes, me envolvi em várias linguagens: LOGO, Pascal, C, Fortran, Perl, JavaScript, Java e PHP. Eu era um programador amador e gostava de aprender uma nova linguagem de anos em anos.
Meus esforços relacionados à programação mudaram de amadores para profissionais nos dez anos seguintes e, à medida que meus projetos se tornavam mais significativos, o Python continuou a me servir bem.
O código em si era um empecilho com muito menos frequência, se comparado às outras linguagens que eu usava. Eu ainda estava programando a trabalho, mas passei mais tempo pensando em problemas do mundo real que queria resolver, e menos tempo pensando sobre sintaxe e construções específicas da linguagem.
Uso Python desde 2006 e todo ano me pergunto se esta ainda é a linguagem de programação certa para mim. Não quero ficar preso a ela só porque me sinto confortável: linguagens estão em constante evolução e, se houver uma opção que melhor atenda às minhas necessidades, terei prazer em investir o tempo necessário para migrar.
Porém, o Python ainda é o certo para mim, pelas mesmas razões que era certo em 2006: ele permite que eu faça o trabalho que quero fazer, de maneira agradável e eficiente. Há ainda o bônus de fazer parte de uma das melhores comunidades de que já participei.
Eu fui à minha primeira conferência de Python em 2012. Fiquei intimidado em ir porque eu era professor de escola, não um programador, e presumi que todos ali seriam programadores profissionais. Quando cheguei lá, encontrei uma comunidade totalmente acolhedora.
Metade das pessoas lá eram programadores claramente melhores do que eu jamais seria, porque era nisso que eles se concentravam. Mas a outra metade era como eu: tinham problemas do mundo real que queriam resolver e estavam descobrindo que o Python poderia ajudar a agir de forma mais eficaz e eficiente. Tudo melhorou para mim no momento em que entrei na comunidade Python, e ela tem sido uma das melhores partes da minha vida desde então.
Estou ficando velho, e há algumas partes disso que não me agradam, mas aprecio profundamente a perspectiva de décadas que tenho sobre as linguagens de programação e o papel da tecnologia na sociedade em geral. Tem sido fascinante ver o desenvolvimento das linguagens de baixo nível – com instruções que são executadas pelo processador – e das linguagens de alto nível, que usam abstrações e são mais fáceis para um humano entender.
Ainda estou interessado em outras linguagens; minha curiosidade inata sobre programação sempre vai existir. Mas a vida profissional e a vida como pai não me deixam tanto tempo para aprendizado exploratório quanto eu costumava ter. Quero aprender Go, Rust, uma linguagem funcional como Haskell e outras também, mas agora eu não tenho um motivo convincente para investir muito tempo nessas linguagens. Tenho certeza de que farei isso em algum momento, mas, por enquanto, tenho todos os motivos para continuar com o Python na maior parte do meu trabalho.
Eu costumava ouvir que o Python não era o melhor em nada, mas era o segundo melhor na maioria das coisas. Eu concordei com essa linha de raciocínio por um bom tempo, mas hoje em dia o Python é tão bom quanto qualquer um de seus similares para muitas coisas, e ainda é bastante eficaz em muitas áreas onde pode não ter objetivamente o “melhor” encaixe.
A maioria das reclamações que vejo dirigidas ao Python ainda são completamente infundadas. Muitas vezes a crítica pode ser abordada usando a linguagem de uma maneira diferente. Além disso, o Python não resolve perfeitamente todos os tipos de problema: existem algumas áreas em que os programadores de Python mais experientes reconheceriam que esta linguagem não é a melhor opção. Se eu não trabalhar em uma dessas áreas, o Python provavelmente ainda será o mais adequado para mim.