Google saiu do ar após tráfego ser desviado para China e Rússia

Provedor da Nigéria anunciou rota errada para endereços IP do Google, e ela foi aceita pela China Telecom e pela russa Transtelecom

Felipe Ventura
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• Atualizado há 2 anos e 4 meses
Google / Pexels

O Google saiu do ar na noite desta segunda-feira (12) afetando diversos usuários, inclusive de seus clientes de nuvem como o Spotify. Devido a uma falha, o tráfego da empresa foi desviado para a China e Rússia, sem conseguir chegar ao destino; isso envolveu milhões de endereços IP. Não há suspeita de ato malicioso, e os dados estavam criptografados. O Facebook também saiu do ar, mas por outros motivos (devido a um teste de rotina).

Segundo o Ars Technica, tudo começou quando um pequeno provedor na Nigéria chamado MainOne Cable Company começou a declarar indevidamente que seu sistema era o caminho certo para chegar a 212 prefixos IP do Google. Em poucos minutos, a China Telecom aceitou essa rota e a anunciou para o mundo inteiro. Por sua vez, a russa Transtelecom e outros grandes provedores também seguiram a rota.

O tráfego do Google nunca chegava ao destino pretendido. Em vez disso, ele acabava em um roteador dentro da China Telecom. Isso causou uma negação de serviço no G Suite e na busca do Google, e potencialmente levou dados confidenciais para países com regras mais duras de vigilância na internet.

O Google acredita que o roteamento foi uma falha da MainOne, que anunciou uma faixa de endereços IP que não era dela. Além disso, todo o tráfego é criptografado, limitando os danos em caso de um possível sequestro.

Em comunicado, o Google diz: “estamos cientes de que uma parte do tráfego de internet foi afetada pelo roteamento incorreto de endereços IP, e o acesso a alguns serviços do Google foi afetado. A causa principal do problema foi externa, e não houve comprometimento dos serviços do Google”.

Cloudflare foi afetada: “quase certamente um erro”

O incidente também afetou a Cloudflare, serviço que protege sites contra ataques e faz cache de conteúdo. A MainOne declarou na segunda-feira que tinha o sistema para os endereços IP da empresa. A China Telecom aceitou essa rota incorreta, anunciando-a para o restante da internet; a Transtelecom seguiu pelo mesmo caminho, assim como outros grandes provedores, fazendo com que a rota se propagasse em todo o mundo.

Matthew Prince, CEO da Cloudflare, diz que esse roteamento incorreto foi “quase certamente um erro”, em vez de uma tentativa deliberada de sequestrar tráfego.

Prince explica que a Nigéria hospedou uma grande reunião sobre conectividade há algumas semanas, chamada NgNOG, da qual participaram a Cloudflare e o Google. Essas reuniões geralmente levam a acordos de conexão direta para acelerar o acesso. O provedor nigeriano então cometeu um erro e transmitiu dados errados de roteamento para a China Telecom, que os distribuiu para o resto do mundo.

“Se houvesse algo nefasto em andamento, haveria maneiras muito mais diretas e potencialmente menos prejudiciais/detectáveis ​​de redirecionar o tráfego”, diz Prince. “O impacto sobre nós foi mínimo. Os sistemas da Cloudflare detectaram automaticamente o vazamento e alteraram nosso roteamento para atenuar os efeitos.”

https://twitter.com/bgpmon/status/1062145172773818368

O incidente mostra como o BGP (Border Gateway Protocol) pode ser vulnerável. Este é o protocolo de roteamento entre sistemas autônomos, como grandes provedores de internet — incluindo a China Telecom e a russa Transtelecom.

O BGP é baseado na confiança de que todas as empresas vão rotear os dados de forma correta, o que nem sempre acontece, às vezes de forma intencional. Este mês, o pesquisador de segurança Doug Madory descobriu que a China Telecom desviou tráfego interno dos EUA para a China durante dois anos e meio. Em um dos casos, o acesso entre Los Angeles e Washington, DC passava antes pela cidade de Hangzhou.

Com informações: Ars Technica, Wall Street Journal.

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Felipe Ventura

Felipe Ventura

Ex-editor

Felipe Ventura fez graduação em Economia pela FEA-USP, e trabalha com jornalismo desde 2009. No Tecnoblog, atuou entre 2017 e 2023 como editor de notícias, ajudando a cobrir os principais fatos de tecnologia. Sua paixão pela comunicação começou em um estágio na editora Axel Springer na Alemanha. Foi repórter e editor-assistente no Gizmodo Brasil.

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