Maricoin é um (possível) golpe de criptomoeda só para gays 🌈

Possível golpe de pirâmide e esquema de “pump and dump”, maricoin é uma criptomoeda que promete usar “pink money” para combater homofobia

Pedro Knoth
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• Atualizado há 1 ano e 7 meses

As criptomoedas funcionam para descentralizar o sistema financeiro, com novos ativos digitais surgindo diariamente. Muitos são legítimos, enquanto outros são usados para esquemas ilícitos. Possivelmente, esse é o caso da maricoin. A moeda mira o público LGBT+ e começou a ser negociada no bairro queer de Chueca, em Madrid, na Espanha. O ativo não é descentralizado como o Bitcoin ou o Ethereum e funciona no formato de token digital com base em ações: quanto mais você tem, mais ele se valoriza.

A maricoin foi criada em setembro de 2019 por Juan Belmonte, empreendedor e cabeleireiro, com a ideia de unir o poder de compra da comunidade LGBT+ contra a homofobia na Espanha. Em dezembro de 2021, a moeda digital entrou na fase de “projeto-piloto”, e começou a ser aceita como forma de pagamento por 10 estabelecimentos de Chueca.

Belmonte disse à Reuters:

“Já que nós [LGBT+] movemos a economia, por que nossa comunidade não deveria lucrar com isso, em vez de bancos, seguradoras ou grandes empresas que, geralmente, não ajudam pessoas LGBT+?“

O nome da criptomoeda vem da expressão “maricon” em espanhol. Acontece que essa palavra é geralmente usada de forma pejorativa para ofender pessoas gays — não parece o melhor nome para uma moeda digital que homenageia à comunidade LGBT+.

A maricoin tem um website próprio para atrair novos investidores. Nele, os fundadores — não fica claro quem está por trás do projeto — esclarecem que a única forma de investir é entrando na lista de espera do ativo. O link da suposta lista leva o usuário a um formulário do Google, mas não é mais vpossível se inscrever porque a criptomoeda “superou a marca limite de 10 mil pessoas interessadas”.

Maricoin é token perfeito para “pump and dump”

O site da maricoin diz que o ativo será negociado em exchanges de criptomoedas em fevereiro deste ano. Na tentativa de persuadir o usuário de que o ativo não é uma fraude, ele leva para a página da moeda listada na rede de blockchain Algorand.

Isso leva a algumas pistas sobre as intenções da maricoin. Na verdade, ela não é uma criptomoeda minerada como o bitcoin ou o ether, mas sim um token 100% centralizado que funciona como uma ação do mercado financeiro. Quanto mais ativos você tem, maior o valor da sua fatia do negócio.

O website listado na página da maricoin no Algorand, maricoin.coin, não existe, e a criptomoeda LGBT+ nem sequer aparece na lista de ativos negociados no blockchain.

Não há informações suficientes para afirmar que a moeda digital é um golpe, mas a mentalidade de “quanto mais eu tenho, mais ela vale” indica um esquema de “pump and dump” comum no mundo dos criptoativos.

Esquemas desse tipo geram muita expectativa sobre a negociação de um ativo, e beneficiam principalmente pessoas à frente do token e os investidores de primeira viagem, que compraram mais moedas digitais. No caso da maricon, os beneficiários diretos são os investidores da Algorand. Eles vendem os ativos e recebem tokens ALGO (Algorand) em troca.

Os primeiros 100 usuários que encomendaram a maricoin também devem se beneficiar do esquema, pois compraram as moedas digitais em um desconto “dois pelo preço de um”. Os outros 10 mil clientes na lista de espera vão obter o ativo por uma oferta de “três pelo preço de dois”.

Mas isso tudo beneficia o investidor de primeira viagem, que recupera o dinheiro a curto prazo, oferecendo a criptomoeda com os descontos. Os usuários que fizeram as encomendas provavelmente vão lucrar com um desconto menor sobre os usuários da lista de espera. E assim funciona a pirâmide, de cima para baixo.

Mercado LGBT+ movimenta mais dinheiro que Alemanha

Caso seja um esquema, ele tem como alvo um mercado extremamente lucrativo: o LGBT+. Uma pesquisa do banco Credit Suisse aponta que, caso fosse um país, o poder aquisitivo do “pink money” seria a 4ª maior economia do mundo. Ele ultrapassaria a Alemanha em poder de compra.

Nos EUA, esse mercado chega a movimentar US$ 1 trilhão, segundo uma pesquisa da Kantar Consulting com a rede social Hornet, voltada para o público LGBT+.

Um dos investidores da maricoin é o fundo de capital Borderless Capital, com sede em Miami. O diretor-executivo da firma de investimentos, Francisco Alvarez, contou à Reuters que restaurantes, bares e até hotéis vão aceitar a moeda digital como pagamento, sob a condição de seguirem o “manifesto”.

O documento citado por Alvarez defende vagamente os Direitos Humanos e direitos LGBT+, e reivindica o “espírito de Stonewall” — movimento histórico da comunidade gay contra abusos da polícia americana. O diretor executivo da Borderless Capital avisa: “qualquer estabelecimento que desrespeite esses princípios será expulso da maricoin”.

“Queremos mudar o mundo”, completa o executivo. Em 22 de fevereiro de 2022, a maricoin pretende lançar seu próprio aplicativo e carteira digital para negociar os tokens.

Com informações: The Next Web

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Pedro Knoth

Pedro Knoth

Ex-autor

Pedro Knoth é jornalista e cursa pós-graduação em jornalismo investigativo pelo IDP, de Brasília. Foi autor no Tecnoblog cobrindo assuntos relacionados à legislação, empresas de tecnologia, dados e finanças entre 2021 e 2022. É usuário ávido de iPhone e Mac, e também estuda Python.

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