Dupla que aplicou golpe de US$ 23 milhões no YouTube ostentava vida de luxo

Esquema criado pela dupla reivindicava pagamentos de royalties sobre músicas no YouTube pelas quais eles não tinham direitos autorais

Emerson Alecrim
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Teran (à esquerda) e Fernandez em uma foto de ostentação (imagem: Twitter/F*ck MediaMuv)
Teran (à esquerda) e Fernandez em uma foto de ostentação (imagem: Twitter/F*ck MediaMuv)

Nas redes sociais, fotos com carros de luxo e roupas caras eram frequentes. Para quem olhava de fora, a vida de ostentação era uma recompensa pelo negócio de sucesso que Webster Batista Fernandez (38) e Jose Teran (36) haviam criado. Mas a realidade era diferente: a dupla faturou mais de US$ 23 milhões aplicando golpes com o Content ID, o sistema de copyright do YouTube.

Esse sistema existe para evitar que youtubers publiquem vídeos na plataforma usando conteúdo protegido por direitos autorais, sem autorização, como músicas de artistas famosos ou trechos de filmes.

Se o Content ID encontrar uma irregularidade em um vídeo, o detentor dos direitos sobre o conteúdo que aparece ali pode fazer uma das seguintes escolhas:

  • bloquear o vídeo;
  • rastrear as estatísticas de visualização do vídeo;
  • Gerar receita com o vídeo por meio de anúncios.

Você já deve ter adivinhado que a terceira opção é a que serviu de base para o “negócio” de Fernandez e Teran.

Como o Content ID do YouTube foi burlado

Para que possa identificar um conteúdo protegido por copyright, o Content ID compara o vídeo com um banco de dados formado por materiais enviados pelos detentores dos direitos autorais.

O esquema fraudulento começa aqui. Ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos, Webster Batista Fernandez confessou que ele e Jose Teran descobriram, em 2016, que muitas músicas usadas em vídeos no YouTube não estavam sendo monetizadas:

Eu comecei a pesquisar por essas músicas e enviá-las [para o banco de dados do YouTube], como arquivos MP3. Reivindiquei falsamente a propriedade legal sobre elas e comecei a receber pagamentos de royalties.

No começo de 2017, Fernandez e Teran criaram uma empresa de nome MediaMuv para ampliar as reivindicações sobre músicas usadas em vídeos no YouTube.

Para encontrar músicas para o esquema, a dupla contratou cinco pessoas que tinham a função de vasculhar o YouTube com uma ferramenta chamada Heartbeat. Essa operação tinha como foco músicas latinas.

Uma empresa especializada também chegou a ser contratada por eles para administrar as requisições. Não surpreende: a dupla fez reivindicações para mais de 50 mil músicas entre 2017 e abril de 2021. Eles não tinham direitos sobre nenhuma delas.

Ostentação nas redes sociais

Estima-se que o esquema rendeu ao grupo e seus parceiros pelo menos US$ 23,4 milhões. Os artistas verdadeiros não receberam nenhum centavo desse montante.

Não é a primeira vez que o Content ID é usado de modo fraudulento. O que surpreende neste caso é o fato de o esquema ter durado mais de quatro anos.

Os primeiros sinais de que algo estava errado apareceram já em 2017, quando um youtuber reclamou, no fórum da plataforma, de uma empresa chamada MediaMuv que estaria “roubando conteúdo do meu canal e de outros usuários”.

Enquanto isso, a dupla ostentava nas redes sociais. Eles tiravam fotos ao lado de Lamborghinis, se fartando em restaurantes, usando acessórios de luxo e assim por diante. Um perfil no Twitter chegou a ser criado para denunciar a vida de alto padrão que a dupla levava enquanto youtubers e artistas legítimos eram prejudicados.

https://twitter.com/FUCKMEDIAMUV/status/955855758347984896

Demorou, mas a casa caiu

Surgiram tantas denúncias e queixas contra a MediaMuv que, cedo ou tarde, o esquema seria desmantelado. E foi. Fernandez e Teran residem nos Estados Unidos e foram detidos por lá. Contra eles pesam cerca de 30 acusações, como fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e roubo de identidade.

Fernandez fechou um acordo de confissão com a justiça dos Estados Unidos de modo a se declarar culpado de duas acusações, uma das quais prevê até 20 anos de prisão. As demais acusações serão arquivadas.

Ele também terá que pagar restituição a todas as vítimas. Contas bancárias, carros e imóveis adquiridos com o dinheiro do esquema serão confiscados pelas autoridades americanas.

Com informações: TorrentFreak.

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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