Voz sintética gerada por IA consegue acessar dados bancários no Reino Unido

Jornalista utilizou serviço de IA para sintetizar sua própria voz e conseguiu enganar identificador do banco, acessando informações de sua conta

Paula Alves
Por
• Atualizado há 5 meses
Como identificar deepfake (imagem original: Mohamed Hassan/PxHere)
Como identificar deepfake (imagem original: Mohamed Hassan/PxHere)

Diante do surgimento de serviços que replicam vozes por meio de IA, o jornalista da Vice, Joseph Cox, decidiu realizar um curioso experimento. Após sintetizar sua própria voz, o repórter tentou driblar o atendimento automático do banco e “invadir” sua conta, assim como um hacker faria. O resultado foi um acesso minucioso aos seus dados, mostrando a atual falta de segurança de identificadores como esse.

Segundo o relato do próprio jornalista, o identificador do banco não reconheceu logo na primeira vez a voz sintética, sendo necessárias várias tentativas, com ajustes na clonagem, até que a identificação fosse aceita.

Durante a operação, Cox ligou para o atendimento automático do Lloyds Bank, um banco do Reino Unido, no qual ele possui conta bancária.

Assim como acontece com outras instituições do local e dos EUA, o lugar oferece um serviço de autenticação de voz que diz ser quase como uma “impressão digital”. Chamado de Voice ID, ele utiliza mais de 100 características físicas e comportamentais diferentes do usuário para comprovar sua fala.

Apesar disso, em um determinado momento, a voz sintética conseguiu passar ilesa às etapas de verificação, gerando acesso à conta do cliente e mostrando seu saldo e uma lista de transações e transferências recentes.

Experimento escancara falha de segurança dos bancos

Durante o processo de “invasão”, foi solicitado que Cox dissesse com suas próprias palavras por qual motivo ele estava ligando. Utilizando a voz clonada, o repórter respondeu “verifique meu saldo”, e, em seguida, digitou sua data de nascimento como parte de primeira etapa de verificação.

Feito isso, o atendimento pediu que o cliente dissesse “minha voz é minha senha”, o que mais uma vez o repórter fez utilizando a voz sintética, reproduzida diretamente de um arquivo de som do seu computador.

Pronto, estava concedido acesso à sua conta, mesmo que de fato aquela não fossem as suas palavras.

Embora nessa situação um hacker também precisasse da data de nascimento do cliente para completar o atendimento, vale lembrar que não é como se esse tipo de informação fosse algo muito difícil de se obter – especialmente nos dias atuais, quando dados como esse são expostos tão facilmente na internet.

A situação, portanto, apenas evidencia como de fato é possível driblar esse tipo de sistema. E, como bancos que utilizam esse método de autenticação, precisam estar atentos à popularização de serviços de vozes clonadas, melhorando suas medidas de segurança.

No caso do Lloyds Bank, um porta-voz disse a Vice que o “‘Voice ID’ é uma medida de segurança opcional; o nível certo de proteção para as contas dos clientes, ao mesmo tempo em que facilita o acesso quando necessário.”

Também segundo eles, o banco está ciente das problemáticas advindas das vozes sintéticas e da necessidade de medidas para combatê-las. Mas, até o momento, não registrou nenhum caso de voz clonada utilizada para cometer fraude contra seus clientes.

Voz sintética foi criada por serviço da ElevenLabs

Conferência de machine learning proíbe artigos gerados pelo ChatGPT / Max Pixel
Inteligência artificial (Imagem: Max Pixel)

Para realizar o teste, Cox clonou sua própria voz utilizando o serviço da ElevenLabs, uma startup americana, que lançou uma plataforma de criação de voz por inteligência artificial na metade de janeiro.

A ferramenta, que causou problemas desde então, tem uma versão gratuita e pode ser utilizada por qualquer pessoa, mediante alguns minutos de fala disponíveis. Uma facilidade que fez com se tornasse muito fácil clonar a voz de figuras públicas, as utilizando de maneira problemática e sem seu consentimento.

Um dos caso mais famosos foi o que aconteceu com a atriz Emma Watson, que teve sua voz sintetiza por membros do 4Chan, que simularam que ela estava lendo o livro Mein Kampf.

A situação fez com que a empresa repensasse suas medidas de segurança e declarasse que, no futuro, pretende implementar novas etapas de verificação da conta e analisar se a amostra de áudio não viola direitos autorais.

Receba mais sobre Inteligência Artificial na sua caixa de entrada

* ao se inscrever você aceita a nossa política de privacidade
Newsletter
Paula Alves

Paula Alves

Repórter

Paula Alves é jornalista especialista em streamings e cultura pop. Formada pela Unesp (Universidade Estadual Paulista), antes do Tecnoblog, trabalhou por sete anos com jornalismo impresso na Editora Alto Astral. No digital, escreveu sobre games e comportamento para a Todateen e sobre cinema e TV para o Critical Hits. Apaixonada por moda, já foi assistente de produção do SPFW.

Relacionados