Acordo climático quer migrar criptomoedas para energia limpa

“Crypto Climate Accord” quer unificar indústria das criptomoedas e migrar redes blockchains para energia limpa até 2030

Bruno Ignacio
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• Atualizado há 1 semana
Acordo climático quer fazer toda a indústria de criptomoedas operar com energia limpa (Imagem: Jonathan Cutrer/Flickr)
Plano é trazer toda a indústria de criptomoedas para operar com energia limpa (Imagem: Jonathan Cutrer/Flickr)

As criptomoedas vêm sendo muito criticadas pelo seu enorme consumo energético e consequentes emissões de carbono. Um novo acordo climático quer mudar essa fama. Chamado de “Crypto Climate Accord”, sua meta é migrar todo o mercado para fontes renováveis e não poluentes de energia.

O plano é chegar em 2040 com toda a indústria de criptomoedas em neutralidade de carbono. Trata-se de uma iniciativa liderada pelo setor privado que busca migrar todas as redes blockchain para funcionarem com energia limpa até 2030. A partir daí, o acordo quer reduzir a poluição atmosférica para compensar as emissões de CO2 acumuladas até lá.

Entre os membros iniciais, há grandes nomes da indústria. A Ripple, empresa responsável pela criptomoeda XRP, está na lista que conta com mais de 20 instituições. A empresa de Tom Steyer, bilionário e ativista ambiental, e o enorme conglomerado de blockchain Consensys também fazem parte do projeto.

Bitcoin e ether são maiores obstáculos

Sem dúvida é um plano ambicioso e que enfrentará difíceis e numerosos obstáculos para se concretizar. Os principais problemas são as duas maiores criptomoedas do mercado, o bitcoin (BTC) e o ether (ETH). As duas são as principais responsáveis pelas emissões de carbono, uma vez que a mineração dessas moedas digitais se concentram em sua maior parte na China.

Para que um blockchain funcione, é necessário que pessoas cedam poder de processamento de suas máquinas e computadores para registrar e criptografar todas as operações com a criptomoeda na rede. Esse é o processo de mineração, que para sustentar os inúmeros processos que são realizados nos sistemas do bitcoin e ether, consome uma enorme quantidade de energia.

Assim, a China é um dos países mais viáveis financeiramente para se minerar criptomoedas. A energia é barata na maior parte do país por conta da matriz energética predominantemente fóssil e extremamente poluente.

De acordo com um estudo publicado recentemente na revista Nature, a China é responsável por processar cerca de 80% de todas as transações de bitcoin no mundo, enquanto 40% de suas usinas são alimentadas com carvão. Dessa maneira, o blockchain do bitcoin, por exemplo, consome muita energia poluente e consequentemente gera emissões de carbono.

Mineração de bitcoin consome muita energia elétrica (Imagem: Consulting 24/Flickr)

Mineração de bitcoin consome muita energia elétrica (Imagem: Consulting 24/Flickr)

Metas são pouco realistas

O plano do “Crypto Climate Accord” é ambicioso, mas raso demais. Ainda não há nenhum detalhamento sobre como o acordo pretende resolver os maiores problemas da indústria. O bitcoin, por exemplo, ainda é responsável por mais da metade da capitalização de todo o mercado de criptomoedas, e fazê-lo sustentável seria uma tarefa quase impossível.

O protocolo do bitcoin naturalmente consome uma enorme quantidade de energia. Se trata de um modelo pouco otimizado, baseado em verificações “proof of work”, que aumenta a demanda por processos conforme cresce a atividade com a criptomoeda. Tendo isso em vista, com recursos renováveis limitados é praticamente inviável manter um blockchain cada vez mais custoso. No caso da Ethereum, a rede utiliza o mesmo sistema, mas tem planos para mudar o modelo nos próximos anos.

Crypto Climate Accord acredita em bitcoin sustentável

Mesmo assim, os fundadores do projeto acreditam que o futuro do bitcoin possa ser sustentável. “Eu tenho conversado com pessoas do ecossistema do bitcoin, é uma proposta bastante simples”, disse Jesse Morris, diretor comercial da organização sem fins lucrativos Energy Web Foundation e líder da iniciativa, ao The Verge. “Se pudermos tornar o bitcoin sustentável, maior será a facilidade e menor será o risco para outras organizações entrarem e comprarem mais da criptomoeda.”

O economista Alex de Vries discorda. Ele afirmou ao The Verge que “algumas coisas simplesmente não tem solução”, se referindo ao plano de “despoluir o bitcoin”. Para ele, atrair mineradores para regiões de energia limpa iria exigir muitos subsídios, caso contrário eles se voltariam para eletricidade barata e poluente. Dito isso, Vries não vê sentido em gastar dinheiro para incentivar uma indústria que demanda tanta energia, apenas para consumir recursos limitados, “é um desperdício”.

Porém, Morris afirmou que o acordo climático não é sobre “se juntar para pedir por subsídios”. O projeto como um todo busca unificar um setor para achar as soluções do problema. Os objetivos do plano devem ser definidos por completo até novembro, em tempo para a conferência climática da ONU.

Com informações: The Verge

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Bruno Ignacio

Ex-autor

Bruno Ignacio é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Cobre tecnologia desde 2018 e se especializou na cobertura de criptomoedas e blockchain, após fazer um curso no MIT sobre o assunto. Passou pelo jornal japonês The Asahi Shimbun, onde cobriu política, economia e grandes eventos na América Latina. No Tecnoblog, foi autor entre 2021 e 2022. Já escreveu para o Portal do Bitcoin e nas horas vagas está maratonando Star Wars ou jogando Genshin Impact.

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