Acordo climático quer migrar criptomoedas para energia limpa
“Crypto Climate Accord” quer unificar indústria das criptomoedas e migrar redes blockchains para energia limpa até 2030
“Crypto Climate Accord” quer unificar indústria das criptomoedas e migrar redes blockchains para energia limpa até 2030
As criptomoedas vêm sendo muito criticadas pelo seu enorme consumo energético e consequentes emissões de carbono. Um novo acordo climático quer mudar essa fama. Chamado de “Crypto Climate Accord”, sua meta é migrar todo o mercado para fontes renováveis e não poluentes de energia.
O plano é chegar em 2040 com toda a indústria de criptomoedas em neutralidade de carbono. Trata-se de uma iniciativa liderada pelo setor privado que busca migrar todas as redes blockchain para funcionarem com energia limpa até 2030. A partir daí, o acordo quer reduzir a poluição atmosférica para compensar as emissões de CO2 acumuladas até lá.
Entre os membros iniciais, há grandes nomes da indústria. A Ripple, empresa responsável pela criptomoeda XRP, está na lista que conta com mais de 20 instituições. A empresa de Tom Steyer, bilionário e ativista ambiental, e o enorme conglomerado de blockchain Consensys também fazem parte do projeto.
Sem dúvida é um plano ambicioso e que enfrentará difíceis e numerosos obstáculos para se concretizar. Os principais problemas são as duas maiores criptomoedas do mercado, o bitcoin (BTC) e o ether (ETH). As duas são as principais responsáveis pelas emissões de carbono, uma vez que a mineração dessas moedas digitais se concentram em sua maior parte na China.
Para que um blockchain funcione, é necessário que pessoas cedam poder de processamento de suas máquinas e computadores para registrar e criptografar todas as operações com a criptomoeda na rede. Esse é o processo de mineração, que para sustentar os inúmeros processos que são realizados nos sistemas do bitcoin e ether, consome uma enorme quantidade de energia.
Assim, a China é um dos países mais viáveis financeiramente para se minerar criptomoedas. A energia é barata na maior parte do país por conta da matriz energética predominantemente fóssil e extremamente poluente.
De acordo com um estudo publicado recentemente na revista Nature, a China é responsável por processar cerca de 80% de todas as transações de bitcoin no mundo, enquanto 40% de suas usinas são alimentadas com carvão. Dessa maneira, o blockchain do bitcoin, por exemplo, consome muita energia poluente e consequentemente gera emissões de carbono.
O plano do “Crypto Climate Accord” é ambicioso, mas raso demais. Ainda não há nenhum detalhamento sobre como o acordo pretende resolver os maiores problemas da indústria. O bitcoin, por exemplo, ainda é responsável por mais da metade da capitalização de todo o mercado de criptomoedas, e fazê-lo sustentável seria uma tarefa quase impossível.
O protocolo do bitcoin naturalmente consome uma enorme quantidade de energia. Se trata de um modelo pouco otimizado, baseado em verificações “proof of work”, que aumenta a demanda por processos conforme cresce a atividade com a criptomoeda. Tendo isso em vista, com recursos renováveis limitados é praticamente inviável manter um blockchain cada vez mais custoso. No caso da Ethereum, a rede utiliza o mesmo sistema, mas tem planos para mudar o modelo nos próximos anos.
Mesmo assim, os fundadores do projeto acreditam que o futuro do bitcoin possa ser sustentável. “Eu tenho conversado com pessoas do ecossistema do bitcoin, é uma proposta bastante simples”, disse Jesse Morris, diretor comercial da organização sem fins lucrativos Energy Web Foundation e líder da iniciativa, ao The Verge. “Se pudermos tornar o bitcoin sustentável, maior será a facilidade e menor será o risco para outras organizações entrarem e comprarem mais da criptomoeda.”
O economista Alex de Vries discorda. Ele afirmou ao The Verge que “algumas coisas simplesmente não tem solução”, se referindo ao plano de “despoluir o bitcoin”. Para ele, atrair mineradores para regiões de energia limpa iria exigir muitos subsídios, caso contrário eles se voltariam para eletricidade barata e poluente. Dito isso, Vries não vê sentido em gastar dinheiro para incentivar uma indústria que demanda tanta energia, apenas para consumir recursos limitados, “é um desperdício”.
Porém, Morris afirmou que o acordo climático não é sobre “se juntar para pedir por subsídios”. O projeto como um todo busca unificar um setor para achar as soluções do problema. Os objetivos do plano devem ser definidos por completo até novembro, em tempo para a conferência climática da ONU.
Com informações: The Verge