Amazon “exagerou” ao prometer entrega por drone; projeto estaria em colapso

Drone do Amazon Prime Air foi anunciado em 2013 e ainda não foi lançado; mais de 100 funcionários do projeto foram demitidos ou realocados

Giovanni Santa Rosa
• Atualizado há 3 anos
Drone usado em testes do Prime Air (Imagem: Divulgação/Amazon)
Drone usado em testes do Prime Air (Imagem: Divulgação/Amazon)

Lembra daquela história de a Amazon fazer entregas por drone? Já esqueceu? Pois é, faz tempo que não ouvimos novidades. E, de acordo com uma nova reportagem da revista Wired, a empresa está fechando parte da operação britânica do Prime Air, nome dado ao projeto. De acordo com a publicação, mais de 100 funcionários do programa perderam seus empregos, e outras dezenas estão sendo realocadas para outros projetos.

O quadro descrito pelas fontes ouvidas na reportagem é bastante caótico. Os funcionários que falaram com a revista em condição de anonimato disseram que o projeto estava colapsando, era disfuncional e parecia uma bagunça organizada tocada por gerentes alienados da realidade.

Alguns chefes, inclusive, eram alçados a seus cargos mesmo sabendo muito pouco sobre o projeto, a ponto de serem incapazes de responder perguntas básicas; um funcionário relatou ter três chefes diferentes no intervalo de um mês. Os relatos dão conta até de um empregado bebendo cerveja em sua mesa logo pela manhã, e outro segurando um botão no computador para aprovar todos os frames dos vídeos captados pelos drones, ignorando obstáculos e outros problemas — deu para captar o nível da coisa, né?

Essa bagunça obviamente afetou o desenvolvimento do projeto. Fontes ouvidas pela Wired disseram que os novos chefes vinham de setores como logística ou operações de armazém, com pouco ou nenhum conhecimento técnico sobre drones ou inteligência artificial, o que deixava os funcionários sem amparo para resolver problemas.

Por isso, os parâmetros do projeto mudavam de uma hora para outra sem muita explicação. Um funcionário disse que, em um momento, a instrução era para evitar a identificação de pessoas nas janelas em vídeos feitos pelos drones durante o voo; logo em seguida, a instrução era para fazer o exato oposto.

Amazon “exagerou” na promessa, diz funcionário

Uma das pessoas ouvidas na reportagem da Wired diz que o projeto foi um “exagero gigante” da Amazon e que muitas promessas simplesmente não poderiam ser cumpridas. De fato, a gigante do varejo fez bastante barulho sobre o projeto desde 2013, com direito a escritórios enormes, visitas de escolas locais aos laboratórios de drones e diversos vídeos promocionais. De lá para cá, isso tudo foi sumindo, e até mesmo os vídeos foram escondidos do canal oficial no YouTube – só esse de 2019 ainda permanece público:

A promessa da Amazon também era bastante ousada em relação a outros projetos similares. Os drones de entrega da empresa pousariam em frente às casas para deixar as encomendas, o que é diferente do que concorrentes como o Wing, do Google, fazem: eles simplesmente “derrubam” os pacotes do ar. Esse movimento de pouso é bem mais complicado e exige muito mais cuidado na hora de treinar a inteligência artificial.

No ano passado, a Amazon recebeu autorização para fazer entregas por drone. No entanto, alguns meses depois, surgiram relatos de que dezenas de funcionários do projeto Prime Air foram afastados.

Um porta-voz da Amazon ouvido pela revista disse que a companhia manterá o braço britânico do programa Prime Air, mas não confirmou quantos funcionários estão envolvidos no projeto atualmente e quantos serão realocados. Por enquanto, não há novas promessas para lançamento do serviço — se é que ele vai mesmo ser lançado.

Com informações: Wired, The Verge

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Giovanni Santa Rosa

Giovanni Santa Rosa

Repórter

Giovanni Santa Rosa é formado em jornalismo pela ECA-USP e cobre ciência e tecnologia desde 2012. Foi editor-assistente do Gizmodo Brasil e escreveu para o UOL Tilt e para o Jornal da USP. Cobriu o Snapdragon Tech Summit, em Maui (EUA), o Fórum Internacional de Software Livre, em Porto Alegre (RS), e a Campus Party, em São Paulo (SP). Atualmente, é autor no Tecnoblog.