Amazon planeja chat para funcionários que proíbe termo “aumento de salário”

Amazon planeja rede interna que bloquearia expressões ligadas a descontentamento de funcionários e a formas de organização

Giovanni Santa Rosa
Por
Centro de distribuição da Amazon (Imagem: Divulgação/Amazon)

A Amazon vem recebendo, ao longo dos últimos anos, críticas e denúncias sobre as condições de trabalho enfrentadas por seus funcionários. Muitos deles, inclusive, começaram a se organizar para reivindicar direitos. Uma ferramenta interna ainda em fase de planejamento, porém, pode atrapalhar estes planos. Ela bloquearia palavras e expressões que possam fazer alusão a problemas internos da empresa, como “escravidão”, “assédio” e até “aumento de salário”.

As informações sobre o chat estão em documentos internos obtidos pelo site The Intercept. Eles mostram planos da empresa para criar uma rede social interna.

Nesta plataforma, funcionários poderiam dar Shout-Outs uns aos outros — “shout-out” é um termo para designar um agradecimento ou elogio. Seria uma forma de reduzir o desgaste e fomentar a felicidade entre trabalhadores.

Os Shout-Outs seriam parte de um programa de recompensas gamificado, que incluiria estrelas e medalhas virtuais para os trabalhadores que agregam valor aos negócios da Amazon.

A empresa, porém, parece estar preocupada com o que chama de “lado negativo das mídias sociais”, como diz o documento. Uma sugestão foi criar uma plataforma que só permite interações um a um, como o Bumble, e não em fórum, como o Facebook.

Outra recomendação foi monitorar automaticamente palavras “ruins” — e é aqui que a coisa começa a ficar mais estranha.

Rede interna bloqueia “aumento de salário”

O monitoramento automático impedira o uso de palavrões e xingamentos, mas não só isso. A lista contém palavras ligadas a condições de trabalho, formas de organização e temas controversos.

Entre os termos, estão:

  • union (sindicato);
  • pay raise (aumento de salário);
  • compensation (pagamento);
  • ethics (ética);
  • unfair (injusto);
  • freedom (liberdade);
  • diversity (diversidade);
  • representation (representação);
  • plantation (sistema de produção agrícola baseado em mão de obra escrava que existiu no continente americano);
  • committee (comitê);
  • coalition (coalizão);
  • bullying;
  • harrassment (assédio);
  • prison (prisão);
  • petition (petição).

Até mesmo “restrooms” (banheiros) está na lista. Uma das denúncias mais chocantes contra a Amazon diz que funcionários da empresa não têm tempo para ir ao banheiro e precisam urinar em garrafas.

Funcionários da Amazon em Nova York criaram sindicato

A notícia surge dias depois de um movimento dos funcionários da Amazon justamente nesse sentido.

Os trabalhadores do armazém de Staten Island, em Nova York (EUA), aprovaram em votação a criação da Amazon Labor Union, sindicato que os representará nas negociações com a empresa.

Entre as demandas, estão maiores salários, seguro-saúde e reembolso de gastos com educação, além de melhores condições de trabalho.

O que diz a Amazon

Ao Intercept, uma porta-voz da Amazon disse que o programa ainda não foi aprovado, o que significa que ele ainda pode ser drasticamente alterado ou nem mesmo lançado. “Se for mesmo lançado, não há planos para monitorar muitas dessas palavras. As únicas palavras que podem ser monitoradas são as ofensivas ou agressivas, e faremos isso para proteger nossas equipes.”

Com informações: The Intercept.

Receba mais notícias do Tecnoblog na sua caixa de entrada

* ao se inscrever você aceita a nossa política de privacidade
Newsletter
Giovanni Santa Rosa

Giovanni Santa Rosa

Repórter

Giovanni Santa Rosa é formado em jornalismo pela ECA-USP e cobre ciência e tecnologia desde 2012. Foi editor-assistente do Gizmodo Brasil e escreveu para o UOL Tilt e para o Jornal da USP. Cobriu o Snapdragon Tech Summit, em Maui (EUA), o Fórum Internacional de Software Livre, em Porto Alegre (RS), e a Campus Party, em São Paulo (SP). Atualmente, é autor no Tecnoblog.

Relacionados