Americanas diz que recuperação judicial não afetará lojas, pedidos e Ame

Empresa diz que acionistas de referência pretendem manter funcionamento de lojas físicas, canais digitais, Ame e marcas do grupo

Giovanni Santa Rosa
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App da Americanas na tela do celular (Imagem: Bruno Gall De Blasi/Tecnoblog)
App da Americanas na tela do celular (Imagem: Bruno Gall De Blasi/Tecnoblog)

A crise na Americanas tem dominado o noticiário de economia desde o último dia 11, quando a empresa anunciou um rombo de R$ 20 bilhões em seus balanços. Nesta quinta (19), veio o pedido de recuperação judicial. De lá para cá, as ações da companhia despencaram, e fundos que investiram em títulos de dívidas da empresa tiveram prejuízo. Quem compra nas lojas, porém, não deve ser afetado tão cedo.

Antes de mais nada, é preciso entender que a recuperação judicial não é uma falência. Ao fazer esse pedido à Justiça, a empresa procura parar de pagar seus credores (bancos, fornecedores, funcionários com quem tem dívidas trabalhistas) por um tempo e se reorganizar. A ideia é justamente impedir que ela vá à falência com as cobranças.

Um exemplo recente de varejista que continuou funcionando apesar de uma recuperação judicial é a Saraiva. A empresa fechou grande parte de suas lojas físicas, mas o e-commerce recebe pedidos até hoje.

Por enquanto, a Americanas pretende seguir com suas atividades. No fato relevante divulgado ao mercado (cuidado, PDF), a empresa diz que seu grupo de acionistas de referência pretende “manter a liquidez da companhia em patamares que permitam o bom funcionamento da operação de todas as lojas, do seu canal digital, […] da Ame e suas demais coligadas”.

Ou seja: eles prometem que vai ter dinheiro para manter portas abertas e entregas.

Na prática, porém, algumas mudanças já vêm sendo sentidas. Lojistas do marketplace aumentaram os preços para desencorajar compras. Eles têm medo de não receber o dinheiro de suas vendas.

Além disso, o marketplace responde por 65% das vendas totais do grupo. Uma queda nesse segmento pode atrapalhar os planos de retomada da Americanas.

Empresa diz que, sem recuperação judicial, há risco

No pedido de recuperação judicial (PDF), a Americanas reconhece que está passando por uma crise de fluxo de caixa — sobraram só R$ 800 milhões.

A empresa reclama de cobranças antecipadas feitas pelo BTG e pelo Banco Votorantim, no montante de R$ 1,4 bilhão, logo após o comunicado sobre o rombo nos balanços. Ela espera que os valores sejam devolvidos.

“Todo o caixa da empresa vem sendo dragado por instituições financeiras detentoras de créditos contra o Grupo Americanas sujeitos aos efeitos desta recuperação judicial”, diz o documento.

Se o pedido de recuperação judicial não for deferido, alerta a companhia, existe risco de um “absoluto aniquilamento do fluxo de caixa”. Aí, não vai ter dinheiro para pagar fornecedores e funcionários.

Outros R$ 3 bilhões seriam esperados de operações com recebíveis de cartão de crédito.

Somados esses montantes, ela conseguiria R$ 8 bilhões de caixa, o que seria suficiente para pagar 6,4 vezes a dívida de curto prazo.

Americanas confia em volta por cima

A companhia que a crise é “momentânea, passageira e certamente será superada frente à sua magnitude econômica e o seu altíssimo potencial de continuar gerando riquezas para o país”.

Ela também aponta que suas receitas líquidas até o 3º trimestre de 2022 eram de R$ 27 bilhões, com Ebitda (lucro antes de juros, taxas, depreciação e amortização) era de R$ 3,157 bilhões. Isso daria mais confiança à empresa para reajustar suas obrigações.

A Americanas argumenta que suas dívidas são de longo prazo: dos R$ 20,791 bilhões, 89% seriam para pagar em períodos mais distantes. O problema é que essa cifra não considera as inconsistências que estão sendo apuradas — a dívida certamente é bem maior que isso, e está estimada em R$ 43 bilhões.

Ame poderá ser capitalizada

Outra fonte de lucro é a carteira digital Ame, usada principalmente para dar cashback em compras feitas nos sites da Americanas.

Segundo a empresa, a sociedade teve lucro líquido de R$ 20,2 milhões no último trimestre, após processar um volume total de pagamentos de R$ 32,6 bilhões nos últimos 12 meses.

O pedido de recuperação judicial também inclui capitalizar a Ame. Isso pode significar procurar novos sócios para a instituição financeira, uma forma de conseguir dinheiro para estabilizar as contas.

Plano de recuperação judicial ainda será apresentado

Por enquanto, tudo que a Americanas fez foi pedir a recuperação judicial à Justiça. Caso o pedido seja aceito, ela terá até 60 dias para apresentar seu plano, detalhando os meios para se recuperar, a viabilidade e o laudo de avaliação dos bens da companhia. Então, saberemos mais detalhes da situação financeira da empresa.

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Giovanni Santa Rosa

Repórter

Giovanni Santa Rosa é formado em jornalismo pela ECA-USP e cobre ciência e tecnologia desde 2012. Foi editor-assistente do Gizmodo Brasil e escreveu para o UOL Tilt e para o Jornal da USP. Cobriu o Snapdragon Tech Summit, em Maui (EUA), o Fórum Internacional de Software Livre, em Porto Alegre (RS), e a Campus Party, em São Paulo (SP). Atualmente, é autor no Tecnoblog.

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